De Furnas do Dionísio, em Jaraguari (MS), vem uma boa notícia no Dia da Consciência Negra. Os projetos de produção e comercialização coletivas da comunidade começam a ganhar contornos mais nítidos: de esboços desenhados pela boa vontade, tornam-se um início de realidade. Em pouco tempo, os trabalhadores de Furnas estarão vendendo, regularmente, seus produtos - açúcar mascavo, mandioca, farinha, milho e hortaliças - para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), através do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) do Governo federal. O programa garante teto de rendimento de R$ 4,5 mil mensais por família.
O passo inicial da realização do programa foi dado na sexta-feira (18). Dois engenheiros agrônomos da Conab - Fernando Zeferino e Vanessa Reis - explicaram, na ocasião, os detalhes do projeto. As falas dos técnicos eram acompanhadas com atenção pelos moradores - os brilhos nos olhos explicitavam a esperança na transformação da produção e melhoria da renda.
O programa prevê a compra de alimentos de comunidades tradicionais pelo preço de mercado para serem entregues em entidades diversas. Os produtos de Furnas poderão ser destinados a creches, escolas e outras entidades sem fins lucrativos de Jaraguari e municípios vizinhos. Os destinos dos alimentos serão definidos pelos quilombolas em projeto a ser apresentado à Conab.
A burocracia de firmação do convênio não deve ser motivo de preocupação aos quilombolas, afirma Vanessa Reis. Segundo a agrônoma, o projeto é muito simples - deve constar os dados da comunidade, os produtos a serem comercializados, a periodicidade e as entidades a serem beneficiadas - e será elaborado com auxílio técnico da Conab.
As transações não serão realizadas com cada produtor individualmente, mas com a entidade que os representa - no caso, a Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Furnas dos Dionísio. O limite de pagamento por família é de R$ 4,5 mil.
Fim das perdas
O valor representa significativo acréscimo de renda aos produtores locais, que vendem a maior parte de seus produtos para serem comercializados na Central de Abastecimento (Ceasa) em Campo Grande.
Nem tudo é vendido. “A gente perde muita verdura. Volta muita coisa da Ceasa, que não vende”, contou Maria Aparecida Martins, 54, presidente da associação. Para ela, o convênio com a Conab representa não só o fim do desperdício, mas também a circulação rápida da produção comunitária.
A preocupação da Aparecida e dos demais moradores é com o transporte. No entanto, de acordo com a Conab, nas ações do programa, as prefeituras têm sido parceiras e ajudado com o transporte dos alimentos. “E penso que aqui não será diferente”, disse ele, durante a reunião. A prefeitura de Jaraguari já teria sinalizado positivamente quanto à sua participação.
Através do PAA, a Conab despendeu cerca de R$ 5 milhões neste ano, destinados, sobretudo, a agricultores familiares de assentamentos. Também já foram firmados convênios com aldeias indígenas da região de Dourados. Furnas dos Dionísio é a primeira comunidade quilombola a entrar no programa.
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