Em Mato Grosso do Sul, em 12 anos, o número de imóveis desocupados quase dobrou. O Censo 2022, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que, no ano passado, o número de domicílios particulares permanentes não ocupados chegou a 224.984, alta de 90,64% ante os 118.012 registrados em 2010.
Mestre em Economia, Eugênio Pavão explica os principais fatores que contribuíram para o panorama apresentado no Estado. Segundo ele, desde o último Censo, realizado em 2010, ocorreu uma política de habitação na periferia, o que ocasionou o crescimento da oferta de novos imóveis.
“Houve uma facilidade para o financiamento de imóveis, o que proporcionou o ‘abandono’ de imóveis antigos ou nos centros dos municípios para essa expansão da periferia”, salientou. Pavão acrescentou que a economia é a principal fonte de avanço ou precariedade de imóveis.
Apesar de registrar aumento no número de domicílios desocupados, a pesquisa também aponta que há aumento no número de imóveis residenciais ocupados. Em 2010, o Estado tinha 763.696 residências ocupadas por moradores, sendo esses imóveis próprios ou locados. No ano passado, porém, o número subiu para 979.540, alta de 28,26%.
Supervisora de Divulgação do IBGE em MS, Elenice Cristaldo Cano ressalta que, enquanto o crescimento populacional no Estado foi de 12%, o aumento de domicílios foi maior.
“A gente observa que houve um crescimento muito maior de domicílios do que de pessoas”, comenta. Elenice ainda destaca a elevação mais acentuada do uso ocasional de domicílios vagos, em que não há morador.
Para Pavão, as condições precárias de imóveis antigos não permitem reformas e modernizações, ponto que também se soma ao cenário.
“Muitas cidades têm habitações que não permitem ganhos para o dono nem conforto para os locatários. Ou seja, a falta de habitações não é tanto uma questão de oferta, mas sim uma questão de custo-benefício”, pondera o economista.
Ainda segundo o Censo 2022, em Campo Grande são 66.452 domicílios não ocupados, o que representa 16,9% do total de residências na Capital. Pavão cita o centro da cidade como exemplo.
“O número de casas tomadas por matagal impressionou. Simplesmente, não existe interesse pelo local [região central], por ser caro ou também pelo fato do aluguel/compra não compensar. Junte-se a isso os terrenos que estão esperando ganhos especulativos. A conta nunca fecha”, expõe.
Outro movimento que pode ter contribuído com o aumento de moradias desocupadas foi a pandemia. Durante o período, o País foi impactado com estudantes voltando para a casa dos pais, reduzindo o número de casas locadas, por exemplo.
MUNICÍPIOS
Corguinho lidera entre os municípios que tem o maior porcentual de domicílios não ocupados. Do total de 3.480 recenseados no ano passado, 1.607 domicílios estavam sem ocupação, ou seja, 46,17%.
Na sequência, Jaraguari aparece como a segunda maior. A cidade registrou 1.840 residências sem moradores ante 4.573 catalogadas, ou seja, 40,23% do total estavam desocupadas.
Em terceiro lugar, Santa Rita do Pardo registrou a desocupação de 39,54% do total de domicílios aferidos no Censo 2022. Foram 4.178 residências registradas, sendo 1.652 estavam sem moradores.
Rochedo aparece como a quarta cidade com o maior porcentual de residências particulares permanentes não ocupadas. Dos 2.922 domicílios, 1.021 deles estavam desocupados, ou seja, 34,94%.
Em quinto lugar, Brasilândia registrou 2.262 domicílios sem ocupação, o que representa 34,66% dos 6.525 recenseados no ano passado.
SETOR IMOBILIÁRIO
Representantes do mercado imobiliário acreditam que o número de residências desocupadas não é tão grande quanto o de imóveis comerciais. O presidente da Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul (Acomasul), Diego Canzi Dalastra, destaca que o Censo 2022 foi realizado após a pandemia.
“Empresas fecharam e faliram, e o número de imóveis desocupados se dá por conta da economia. O mesmo Censo 2022 indicou um aumento significativo no número de moradias”, argumenta.
O empresário não vê os dados como preocupantes para a construção civil, mas sim para o mercado imobiliário. “Olha o centro de Campo Grande como está, com muitos imóveis fechados. É o retrato da pesquisa”, analisa.
O presidente do Conselho Regional de Corretores de Mato Grosso do Sul (Creci-MS), Eli Rodrigues afirma que o setor imobiliário não tem sentido desocupação de imóveis. “Os que estão para alugar, quando um inquilino sai, logo o imóvel é locado. Em algumas vezes, é até mesmo locado antes de sair”, comenta.
Ao concluir sua opinião, Rodrigues relata uma peculiaridade, citando que no início de cada ano muitas pessoas trocam de imóveis e viajam, e os pesquisadores podem ter encontrado esses imóveis sem ninguém naquele momento.
Outra entidade que reforça que o setor não tem sentido o crescimento do número de domicílios desocupados é Sindicato da Habitação (Secovi), cujo presidente, Geraldo Paiva, confirma que, em Campo Grande, a construção de residências está aquém da sua necessidade. “Futuramente, vai faltar moradia. Serão necessários maiores investimentos tanto do setor público quanto do privado”, finaliza. (Colaborou Súzan Benites)





