A Medida Provisória nº 1.065 de 2021 que permite a exploração privada de ferrovias por meio de autorização amplia as possibilidades de reativação da malha ferroviária de Mato Grosso do Sul.
Segundo a gestão estadual um grupo manifestou interesse em operar o trecho da Malha Oeste, de Campo Grande à Mairinque (SP), por meio do instrumento de autorização.
De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro) Jaime Verruck, apesar da notícia que considera boa, por causa que o trecho inativo há quase uma década se mostra viável, há uma preocupação quanto à forma de operação da ferrovia mais antiga de Mato Grosso do Sul, que atravessa o Estado de leste a oeste.
“Tenho uma preocupação com pedidos de fracionamento do trecho, isso poderia inviabilizar a Malha Oeste, ou pelo menos alguns trechos dela”, comentou Verruck.
Conforme o secretário, o estudo é preliminar, e ainda não há um pedido formal para operar o trecho da Capital de MS até o interior de São Paulo, de pouco mais de 800 quilômetros.
A reativação deste trecho serviria a nova unidade da Suzano, em construção na cidade de Ribas do Rio Pardo, distante 100 quilômetros de Campo Grande, mas deixaria de fora outras potencialidades da via inaugurada há mais de 1 século com o nome de Noroeste do Brasil.
Os planos preliminares do consórcio, que Verruck preferiu não citar o nome, deixariam de fora o trecho que passa pelo Pantanal da Capital até Corumbá, e também o ramal de Campo Grande a Ponta Porã.
O Correio do Estado apurou que o governo de Mato Grosso do Sul, que acompanha todos os passos do processo de relicitação, deseja que o trecho da Malha Oeste não seja fragmentado, justamente para que ele possa resolver o gargalo logístico de Corumbá, e também conectar, em Maracaju, com outro grande projeto do setor para o Estado: a construção de dois ramais da Ferroeste: um maior que ligará Cascavel (PR) a Dourados, e um trecho de 76 quilômetros de Dourados e Maracaju, que conectaria com a Malha Oeste.
A autorização para a construção deste último trecho, com investimento de R$ 1,2 bilhão, foi dada nesta semana pelo Ministério da Infraestrutura.
Resta agora a concessão da parceria-público privada da Ferroeste, que será feita por meio de leilão na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), ainda não agendado.
RELICITAÇÃO
Sobre a Malha Oeste, o governo acompanha os estudos de viabilidade do grupo que manifestou interesse no trecho da Capital até Mairinque, mas espera mesmo que o Consórcio Trilhos de Novo, contratado pelo Ministério dos Transportes, conclua os estudos de viabildiade de relicitação da malha de 1923 quilômetros.
A previsão é que o processo de relicitação ocorra no segundo semestre de 2022.
Em abril deste ano, a Rumo, que ainda detém a concessão da ferrovia praticamente desativada, conseguiu um aditivo contratual para ficar responsável pela Malha Oeste até abril de 2023, período que o governo federal julga necessário para relicitar a ferrovia.
ESTRATÉGIAS
A concessão da Malha Oeste do governo é a aposta para a resolução de vários problemas.
O primeiro deles gargalo logístico da região de Corumbá, que ficou evidente com o aumento da demanda por minério de ferro, em um período de crise hídrica que comprometeu a navegação pelo Rio Paraguai.
A demanda para o transporte do minério de ferro extraído pela Vale voltou, mas não há ferrovia em bom estado para transportar o produto, que tem sido escoado às siderúrgicas brasileiras via BR-262, que tem sido prejudicada com o trânsito de caminhões pesados, como o Correio do Estado tem mostrado desde o ano passado.
Além disso, o Brasil também tem intensificado a importação de ureia da Bolívia, produto que, assim como o minério, também poderia ser transportado pelos trilhos.
Além de tudo isso, empresários de Corumbá e a prefeitura da cidade estão em contato com empresas e autoridades argentinas, que pretendem viabilizar uma rota bioceânica ferroviária, tendo as cidades de Corumbá e Salta, como dois de seus principais hubs (pontos de conexão).
CELULOSE
A Malha Oeste ainda poderá viabilizar o transporte da celulose produzida pela Suzano na fábrica que está em construção em Ribas do Rio Pardo, projeto de aproximadamente R$ 15 bilhões e que é o maior canteiro de obras em atividade no Brasil na atualidade.
A demanda da celulose já gerou dois novos pedidos de autorização para a criação de ferrovias, diante do novo modelo do governo federal, que apenas autoriza o interessado a construir e operar o trecho.
O primeiro pedido foi feito pela Eldorado Celulose, cuja planta está localizada em Três Lagoas.
A ferrovia ligaria a unidade ao terminal da Rumo (Malha Norte) em Aparecida do Taboado.
O outro pedido é da MRS Logítica, consórcio que tem entre suas participantes, a Vale. O trecho ligaria Três Lagoas a Panorama (SP), na divisa com Santa Rita do Pardo (MS), e se conectaria com a Malha Paulista, também operada pela Rumo. (Colaboraram Súzan Benites e Izabela Cavalcanti).


