Conforme o Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), a insegurança com o emprego levou à queda no consumo, em razão do receio do trabalhador com o cenário incerto em manter sua atividade profissional.
Em conversa com o Correio do Estado, a economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio MS (IPF/MS), Regiane Dedé de Oliveira, explicou que a percepção de risco de desemprego por parte do trabalhador aumentou.
Segundo ela, pessoas que ganham acima de dez salários mínimos são as que mais estão deixando de consumir, o agravente fica por conta do recorte representar a classe empresarial, responsável pela abertura de postos de trabalho.
A economista destaca que o mercado já vinha sentindo a retração no consumo por parte desse grupo.
“Vou te contar um histórico: quem ganha até dez salários mínimos, no mesmo mês do ano passado, estava com índice em 106,1, já era ruim, mas ainda em zona positiva. Enquanto isso, os que ganhavam mais de dez salários estavam em 122. Neste ano, houve uma queda para 114, e quem ganha até dez salários mínimos caiu para 97,8”, explicou Regiane.
Neste caso, quem ganha até dez salários mínimos está na zona considerada negativa. Cabe ressaltar, conforme apontado pela especialista, que o nível geral do índice ainda segue dentro da média positiva (acima de 100 pontos) devido à influência das famílias com renda superior a dez salários mínimos.
Perspectiva profissional
Quando o cenário econômico começa a demonstrar uma redução no poder de compra, o empresário sente os impactos. Conforme pontuou a economista, é nesse momento que surge a necessidade de "enxugar" o negócio, o que termina por afetar tanto o consumidor quanto o trabalhador.
“Quem mais emprega em Mato Grosso do Sul, e também no Brasil, é o setor de comércio e serviços. Essas empresas menores sentem fortemente o custo, os efeitos da crise econômica, as taxas de juros elevadas, o crédito limitado e o aumento no preço das mercadorias, e o empresário sente isso”, pontuou Regiane e completou:
“Quando o empresário sente, há um reflexo direto no consumidor que também é um trabalhador.”
Com isso, o empresário precisa se reorganizar e ainda existe a situação de não conseguir mais fazer investimentos. Assim, os cortes acabam recaindo sobre a mão de obra, já que a folha de pagamento é um dos principais custos da empresa.
“O empresário precisa ter uma gestão muito eficiente para garantir que o negócio continue próspero.”
Além disso, com o mercado inflacionado, a perspectiva de crescimento no emprego caiu nos seguintes recortes:
- Até 10 salários mínimos: queda de 2,5%
- Acima de 10 salários mínimos: queda de 2,4%
Outros fatores que levam o empresário a “apertar o cinto” e optar por cortes são a ausência de redução de juros e a limitação no acesso ao crédito.
“Todas as classes estão sentindo a dificuldade de compra em Mato Grosso do Sul. Apesar de a pontuação entre os que ganham mais de dez salários mínimos ainda ser melhor, houve uma redução drástica. Essa parcela da população costuma empregar outras pessoas e contratar serviços, o que gera um efeito multiplicador positivo”, completou Regiane.
O recuo na expectativa de consumo apresentou piora nos seguintes indicadores:
- Perspectiva profissional: -2,5%
- Renda: -1,3%
- Consumo de bens duráveis: -4,4%
Consumo das famílias
O indicador geral apontou uma queda de 1% na satisfação do consumidor em relação ao mês anterior, em Campo Grande.
De acordo com a pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o índice de satisfação para compras era de 101,5 em abril, e caiu para 100,5 em maio.
Embora o indicador ainda esteja na zona positiva (acima de 100 pontos), ele se aproxima do limite inferior dessa faixa.
Veja a comparação:
- Maio: 100,5
- Abril: 101,5
- Março: 101,8
- Fevereiro: 104,6
A queda vem ocorrendo de forma gradual. Se compararmos com o mesmo período de 2024, o índice de confiança era de 108,7.
A pesquisa, realizada mensalmente com pelo menos 500 famílias em Campo Grande, tem como objetivo medir a confiança do consumidor em relação ao emprego, renda, acesso ao crédito e capacidade de consumo, tanto no presente quanto nos próximos meses.




