A Ipiranga Produtos de Petróleo S/A, gigante brasileira da distribuição de petróleo e derivados, é mais uma das empresas vítimas do calote aplicado pela VBX Transportes Ltda., parceira da Suzano S.A. na construção da megafábrica de celulose em Ribas do Rio Pardo, inaugurada em meados de julho, no município distante 92 quilômetros da capital, Campo Grande.
A empresa, que ao lado da Vibra (BR) e da Raízen (Shell) está entre as maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil, ingressou com ação de execução de duas duplicatas contra a VBX Transportes na comarca de Ribas do Rio Pardo.
O calote que a parceira da Suzano aplicou na Ipiranga chega a R$ 134,7 mil. São duas duplicatas de R$ 56.321,00 cada, vencidas, a primeira em 23 de janeiro de 2024 e a segunda em 1º de fevereiro de 2024.
Na ação de execução, a Ipiranga também anexou notas fiscais e comprovantes de entregas de mercadoria. O valor de R$ 134,7 mil corresponde à soma das duplicatas, mais multa de 10% e juros de 1% ao mês.
“Após diversas tratativas frustradas para recebimento de seu crédito amigavelmente, a Exequente (Ipiranga S.A.) não vislumbrou alternativa senão a cobrança do débito através da presente execução”, informou a empresa.
Outra ação
Mas não é só a Ipiranga que ingressou recentemente contra a VBX. No mês de setembro, a empresa Servtech, com sede em Três Lagoas, foi ao Juizado Especial Cível da Comarca de Três Lagoas para cobrar R$ 8.980,48.
A empresa é especializada em inspeção veicular e não recebeu por dois serviços prestados à parceira da Suzano.
Calote generalizado
Com mais esses dois processos, chegam a 14 as ações judiciais contra a VBX na Justiça de Mato Grosso do Sul.
São pessoas físicas ou jurídicas que alugaram máquinas ou prestaram serviços de fornecimento de combustíveis e hospedagem à VBX Transportes e ainda não receberam pagamento.
As expectativas dos credores estão cada vez mais sombrias.
Há dois meses, despacho da Justiça na comarca de Chapadão do Sul revelou que não havia nenhum valor disponível nas contas bancárias da empresa, que tem sede em Minas Gerais. Foram bloqueadas 10 contas bancárias da VBX, indicadas pela credora Agro Máquinas e Terraplanagem, de Chapadão do Sul, mas não havia dinheiro disponível em nenhuma delas.
A mesma empresa, que cobra R$ 317.193,93 da VBX Transportes na Justiça – e, solidariamente, da Suzano – conseguiu, no entanto, que fossem impostas restrições a bens da VBX, como duas caminhonetes (uma RAM 3500 e uma Toyota Hilux), uma van Sprinter, uma carreta Mercedes-Benz Axor e duas carretas DAF.
A Agro Máquinas e Terraplanagem, que locou duas pás carregadeiras e duas escavadeiras hidráulicas, foi a única das 11 credoras da VBX a procurar a Justiça até agora e conseguir identificar bens da empresa e obter um bloqueio de contas bancárias, ainda que sem sucesso.
Terceirizada
Na construção da megafábrica de celulose da Suzano em Ribas do Rio Pardo, a VBX foi uma das maiores parceiras da empresa. A construção da planta demandou investimentos de R$ 22 bilhões.
A fábrica da Suzano em Ribas é a maior planta processadora de celulose do mundo, com capacidade para produzir quase 3 milhões de toneladas por ano desse composto vegetal utilizado para várias finalidades, desde a fabricação de papel até usos nas indústrias química, têxtil e farmacêutica, entre outros segmentos.
Os calotes da VBX às suas subcontratadas começaram a aparecer no fim de 2023, quando os primeiros pagamentos a seus subcontratados (os quarteirizados da Suzano) começaram a atrasar. Na época, a gigante da produção de celulose e papel se antecipou às consequências do calote de sua parceira e honrou dívidas trabalhistas dos colaboradores da VBX.
No entanto, ficaram sem receber os empresários que locaram máquinas ou firmaram contratos para prestação de serviços à empresa com sede em Abaeté (MG), incluindo donos de hotéis e pousadas em Ribas, além de distribuidores de combustíveis.
Tamanho do calote
Os processos contabilizados na Justiça de MS pelo Correio do Estado já se aproximam de R$ 2,5 milhões.
Esse cálculo não leva em consideração processos que tramitam em outros estados, como Minas Gerais, onde a empresa está localizada.
Lista das empresas credoras com os valores correspondentes:
- Agro Máquinas e Terraplanagem: R$ 317 mil
- PH Agropastoril: R$ 286,5 mil
- Servtech: R$ 9,3 mil
- M2 Tratores: R$ 9,8 mil
- Vieira Construção: R$ 44,8 mil
- TTZ Martins: R$ 109,9 mil
- CRG Hotel: R$ 490 mil
- Locatruck: R$ 132,2 mil
- LOB Terraplanagem: R$ 120,1 mil
- Pousada LME Ltda.: R$ 357,6 mil
- Empresa locadora de máquinas (processo tramita em MG): R$ 1,5 milhão
- Sérgio Claudemir Papa: R$ 452,4 mil
- Ipiranga S.A.: R$ 134,7 mil
- Servtech: R$ 9,8 mil
Outro lado
Desde o início da série de reportagens sobre os calotes para a construção da megafábrica de celulose em Ribas do Rio Pardo, o Correio do Estado procura a VBX nos números que aparecem nos processos judiciais e também listados na internet, mas ninguém atende às chamadas.
A Suzano, por sua vez, alega que o caso da VBX Transportes “é uma situação isolada, haja vista as centenas de fornecedores da empresa que realizam negócios no município”.
“Tal empresa prestava serviços na área de manutenção de estradas, e durante os últimos meses de contrato a Suzano constatou que, mesmo com o pagamento em dia do contrato desse fornecedor, a VBX não estava honrando suas obrigações trabalhistas e outras obrigações de mercado, e esse último fato [foi quando] tomamos ciência via telefone da ouvidoria da empresa”, informou a Suzano.
A Suzano ainda afirma que chegou a honrar as dívidas trabalhistas da VBX por ser a tomadora do serviço e por ter responsabilidades previstas em lei nesse quesito.
“Importante esclarecer que, ao contrário do controle do pagamento dos colaboradores de nossos fornecedores, nos outros casos, a Suzano não tem obrigação legal nem tem como controlar, acompanhar as negociações comerciais ou concessão de créditos para tais empresas prestadoras de serviço, bem como fiscalizar, participar de negociações comerciais ou se responsabilizar por pagamentos”, complementou a multinacional.