A Cosan detém 30% da concessionária que administra a linha férrea de MS e enfrenta endividamento e prejuízos bilionários
O grupo Cosan enfrenta desafios financeiros, como endividamento e pressão para reduzir dívidas. A empresa tem adotado medidas para se reestruturar e buscar alternativas para manter seus investimentos.
Ao mesmo tempo, a holding que detém 30% da Rumo Logística está repactuando a concessão da Malha Oeste em Mato Grosso do Sul.
De acordo com o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, a crise financeira da holding não deve afetar o acordo consensual sobre a concessão da Malha Oeste.
“Dentro dessa repactuação existe uma repactuação legal que está sendo discutida no TCU [Tribunal de Contas da União], e a partir do momento que isso for definido, a Rumo efetivamente terá que cumprir aquilo que foi repactuado”, explicou ao Correio do Estado o secretário.
O presidente do conselho de administração da Cosan, Rubens Ometto, destacou em entrevista a veículos nacionais que a alta taxa de juros no Brasil, que está em 12,25% ao ano e com a previsão de aumento para 14,25% anuais, obrigou a empresa a reduzir a sua alavancagem.
A Rumo Logística é uma das principais controladas pela holding. A empresa que atua no setor ferroviário tem sido um ativo estratégico para a Cosan, especialmente na logística de transporte de commodities.
No entanto, a Rumo também enfrenta desafios financeiros, incluindo altos custos operacionais e a necessidade de grandes investimentos para a expansão da malha ferroviária conforme já mostrado pelo Correio do Estado.
A Malha Oeste, por exemplo, está abandonada há décadas e precisa de alto investimento para poder voltar a operar. Além disso, a Rumo acumula multas milionárias por falta de manutenção na linha férrea que corta Mato Grosso do Sul de leste a oeste.
Conforme mostrou o Correio do Estado em janeiro, enquanto o processo de análise da relicitação do contrato de concessão da Rumo Malha Oeste está parado, uma inspeção técnica realizada em junho de 2024 no trecho de 436 km entre Campo Grande e Três Lagoas pela Agência Nacional de Transportes (ANTT) resultou em uma multa de R$ 2,1 milhões.
Foi observado pelos técnicos em regulação da autarquia federal que, em certos trechos, 94,5% dos dormentes estão estragados, isso porque a concessionária deixou de fazer “investimentos necessários à manutenção dos bens da concessão”.
O endividamento da Rumo impacta diretamente a saúde financeira da Cosan, que precisa gerenciar a sua participação para evitar maiores prejuízos.
Ometto também destacou, em entrevista à revista Exame, a importância da Rumo para a estratégia da Cosan, afirmando que a eficiência operacional da companhia é essencial para a recuperação do grupo.
Ainda conforme a reportagem, analistas do BTG Pactual ressaltam que, apesar das dificuldades, a gestão eficiente da Rumo pode contribuir para a recuperação da Cosan a longo prazo.
“Não consigo ver no curto prazo algum impacto direto nessa repactuação. Nesse momento, [o processo] está no TCU, proposto pela própria Rumo. Então, não me parece que isso [crise financeira] possa ter algum impacto na regulação no curto prazo”, afirmou Verruck.
CRISE
A Cosan é um dos maiores conglomerados brasileiros com atuação nos setores de energia e logística. No quarto trimestre de 2024, a empresa registrou um prejuízo líquido não auditado de R$ 9,3 bilhões, revertendo um lucro de R$ 2,4 bilhões no mesmo período de 2023.
De acordo com reportagem da CNN Brasil, no acumulado daquele ano, o prejuízo foi de R$ 9,424 bilhões, contrastando com um lucro de R$ 1,094 bilhão registrado em 2023.
Um dos fatores que contribuíram para essa situação foi o investimento na mineradora Vale. Em 2022, a Cosan adquiriu cerca de 4,9% do capital total da Vale por aproximadamente R$ 21 bilhões, visando ter um papel ativo em uma empresa estratégica no Brasil.
No entanto, essa influência não se concretizou, e a alta taxa de juros no País aumentou os custos financeiros da empresa. Em janeiro, a Cosan vendeu a sua participação na Vale por cerca de R$ 9 bilhões, resultando em uma perda estimada de 35% em relação ao investimento inicial.
A decisão de vender a participação na Vale foi estratégica para reduzir o endividamento da Cosan. Com a venda, a empresa conseguiu diminuir a sua dívida total em aproximadamente 40%, passando para cerca de R$ 14 bilhões.
A Cosan está focada em estratégias de desalavancagem e otimização de sua estrutura de capital. Essas medidas refletem os esforços da empresa para enfrentar a crise financeira atual, buscando equilibrar suas finanças e se reposicionar no mercado.
REPACTUAÇÃO
Como antecipado pelo Correio do Estado em 31 de outubro de 2024, o Ministério dos Transportes tem se movimentado para viabilizar a renovação da concessão da ferrovia que liga Mato Grosso do Sul a São Paulo, buscando acelerar o processo com a proposta de um novo contrato de 30 anos.
A negociação em curso inclui a devolução de 650 km do trecho paulista, que poderá futuramente ser adaptado para o transporte de passageiros.
Em contrapartida, a concessionária Rumo Logística manteria a exclusividade sobre a Malha Oeste em MS, investindo na ampliação de 137 km adicionais.
O projeto, estimado em R$ 2,7 bilhões, tem como objetivo integrar esse traçado à Malha Paulista, fortalecendo a infraestrutura logística da região.
Com cerca de 800 km de ferrovia entre Corumbá e Três Lagoas e um trecho adicional de 355 km entre Campo Grande e Ponta Porã, a maior parte da malha ferroviária está localizada em território sul-mato-grossense.
Para evitar um prolongado e custoso processo de relicitação, o governo federal aposta na prorrogação do contrato de concessão, garantindo assim a continuidade do transporte ferroviário na região.
Conforme noticiado anteriormente, a Pasta federal já solicitou ao TCU a autorização para que a Rumo continue administrando a ferrovia, por meio de um acordo de renovação consensual.
Atualmente, o trecho avaliado em 1.625 km está em processo de relicitação, o que impede a manutenção da concessão pela empresa.
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