No Estado, o total das exportações dos produtos sucroenergéticos somou US$ 664,5 milhões
A moagem da cana-de-açúcar na Região Centro-Sul apresentou ritmo rápido e constante ao longo de outubro, influenciando diretamente a maior oferta global. As informações constam no relatório Agro Mensal, produzido e divulgado pela Consultoria Agro do Itaú BBA, que avalia que essa combinação de mix elevado e recuperação do rendimento industrial foi o motivo de a produção ter se mantido aquecida nos últimos meses. Inserido nessa dinâmica, Mato Grosso do Sul acompanha o movimento, com o açúcar bruto respondendo por 95,28% das exportações do Estado.
Em MS, o ritmo da moagem segue constante, porém, ainda se recupera dos fatores climáticos. “A safra 2025/2026 em Mato Grosso do Sul está inserida em um ciclo de recuperação. O início da moagem foi mais lento, em função da irregularidade das chuvas, que afetou o avanço da colheita. No meio do ano, a ocorrência de geadas em parte dos canaviais comprometeu o ritmo e o planejamento do corte, uma vez que essas áreas precisaram ser priorizadas. A partir de setembro, a colheita e a moagem avançaram de forma mais consistente e quase metade das usinas entrou em operação em dezembro. Nas próximas quinzenas, será avaliado o impacto das chuvas sobre a efetividade da produção”, contextualiza a Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul).
De acordo com o último Boletim Casa Rural sobre o setor sucroenergético, divulgado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), somente as exportações de açúcar responderam por um valor de aproximadamente US$ 31,4 milhões. O total das exportações dos produtos sucroenergéticos somou US$ 664,5 milhões.
Mato Grosso do Sul se destaca ainda como importante produtor de açúcar na Região Centro-Oeste, com produção estimada em 2,5 milhões de toneladas na safra 2025/2026. Para este ciclo, as estimativas apontam expansão na produção total do adoçante nas unidades industriais do Estado. Já a produção de etanol apresentou decréscimo de 1,57% em relação ao ciclo anterior, totalizando 2,76 bilhões de litros até o momento.
O documento cita a Argélia como o principal destino dos produtos sucroenergéticos de Mato Grosso do Sul, com participação de 16,9%, e na sequência Bangladesh, com 9,4%.
Nos 10 primeiros meses deste ano, o volume exportado pelo setor no Estado superou 1,548 milhão de toneladas. Atualmente, Mato Grosso do Sul tem 22 usinas sucroenergéticas ativas, entre as quais 10 são unidades mistas, que produzem açúcar e etanol, 9 são destilarias de etanol de cana-de-açúcar e 3 são destilarias de etanol de milho, além do projeto de implantação de uma nova usina voltada à cana.
O boletim ainda mostra dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que indicam que a área destinada ao plantio de cana-de-açúcar na safra 2025/2026 alcançou 715,9 mil hectares em Mato Grosso do Sul, um crescimento de 6,2% em relação à safra anterior.
No mercado interno, os dados de produção seguem indicando avanço, conforme o boletim. Segundo o levantamento quinzenal da safra 2025/2026 realizado pela Biosul, até 31 de outubro, a moagem no Estado atingiu 42,7 milhões de toneladas de cana, com estimativa de alcançar 50,5 milhões de toneladas ao longo da temporada. Conforme a avaliação da Conab, mesmo com a irregularidade climática registrada, a projeção para a safra permanece positiva, com expectativa de resultados superiores aos do período anterior.
No aspecto de preços, por integrar a Região Centro-Sul, Mato Grosso do Sul utiliza o estado de São Paulo como referência para a cotação do açúcar total recuperável (ATR). “Os preços começaram 2025 apresentando queda em relação ao final do ano passado, permanecendo no valor de R$ 1,2478/kg de ATR de março a junho de 2025”, trouxe o Boletim Casa Rural.
O preço médio acumulado nos seis primeiros meses de deste ano se manteve em R$ 1,926 por quilo, abaixo do registrado no início de 2024, mas acima dos valores observados em maio e junho do ano passado.
Segundo análise do Itaú BBA, no mercado internacional, os preços do açúcar bruto operaram em patamar mais baixo, refletindo a recomposição dos estoques mundiais e o aumento da disponibilidade global. O cenário permanece sensível ao comportamento do petróleo e às condições climáticas em importantes países produtores. No mercado doméstico, o etanol hidratado apresentou sinais de recuperação ao longo do mês, favorecido pela maior competitividade diante da gasolina e pela melhora gradual do consumo.
“A Consultoria Agro do Itaú BBA aponta que o equilíbrio entre oferta e demanda permanece construtivo no curto prazo, ainda que os preços sigam dependentes do ritmo de reposição nos postos”, divulgou o Itaú BBA em seu relatório.
INVESTIMENTOS
O ambiente de desenvolvimento no setor é reforçado pelos investimentos. De acordo com a Agência BNDES de Notícias, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou um limite de crédito de R$ 62 milhões para a Energética Santa Helena, no município de Nova Andradina. Do total, R$ 32 milhões serão destinados a investimentos em inovação e R$ 30 milhões à aquisição de máquinas e equipamentos, como caminhões e colhedoras.
A operação tem capacidade para processar mais de 2 milhões de toneladas de cana por ano. Com a produção de etanol hidratado e anidro, passou também a fabricar açúcar bruto. A empresa também desenvolve programas ambientais e reaproveita subprodutos do processo industrial, como o bagaço, para geração de energia, e resíduos, que são utilizados na fertilização das lavouras.
“Essa linha de crédito aprovada para a Santa Helena representa muito mais do que um aporte financeiro, é um catalisador de produtividade, competitividade e transformação dentro da empresa. Com esses recursos, poderemos acelerar projetos estratégicos, incorporar novas tecnologias e aprimorar processos que impactam diretamente nossa eficiência operacional”, afirmou o diretor financeiro da Santa Helena, Marcelo Maçães Coutinho.
“O financiamento do BNDES reafirma o compromisso do governo do presidente Lula com o fortalecimento do setor sucroenergético, que tem peso decisivo na economia de Mato Grosso do Sul e do País. Quando apoiamos projetos estratégicos e inovadores, fortalecemos toda a cadeia produtiva e contribuímos para ampliar competitividade, produtividade e valor agregado, com geração de empregos no campo e na indústria”, expressou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
Além do açúcar e do etanol, a cana-de-açúcar também avança como insumo da matriz energética estadual. Conforme reportagem do Correio do Estado no primeiro semestre deste ano, um exemplo é a empresa Atvos.
Nos últimos dois anos, a Atvos intensificou seus investimentos em Mato Grosso do Sul, com aporte de R$ 350 milhões na construção de sua primeira planta de biometano no Estado, na Usina Santa Luzia, em Nova Alvorada do Sul. A unidade terá capacidade de produzir 28 milhões de metros cúbicos de biometano por safra, utilizando resíduos da cana-de-açúcar.
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