Economia

EFEITO EM CADEIA

Seca provoca queda na arrecadação de impostos e afeta o consumo local

Confaz indica leve crescimento do recolhimento do ICMS em MS, com alta de 3,59% no acumulado do ano

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A estiagem prolongada tem gerado um efeito em cadeia que impacta diretamente a economia local, resultando em uma desaceleração não só na arrecadação tributária, mas também no consumo. Conforme dados do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) teve alta de apenas 3,59% nos oito primeiros meses do ano, passando de R$ 10,66 bilhões em 2023 para R$ 11,04 bilhões no mesmo período deste ano.

A diminuição na produção agrícola, impulsionada pela falta de chuvas, compromete a receita do ICMS, mas também afeta a renda dos produtores, gerando uma diminuição na demanda por bens e serviços. 

No acumulado de janeiro a agosto, o ICMS foi o responsável por 88,69% dos tributos recolhidos em Mato Grosso do Sul.
No recorte por setor econômico, a agropecuária (setor primário) registra queda de 17,10% no recolhimento de ICMS. De janeiro a agosto do ano passado, foi angariado R$ 1,094 bilhão, enquanto no mesmo período deste ano foram R$ 907 milhões. 

O mestre em Economia Lucas Mikael reitera que, ao afetar a produção agrícola, a seca contribui para a diminuição da receita tributária, especialmente no que diz respeito ao ICMS, que é fortemente dependente do desempenho do setor agropecuário.

“Esse cenário impacta não só a arrecadação, mas também a dinâmica econômica do Estado. A diminuição na produção agrícola resulta em menor renda para os produtores, afetando o consumo local e reduzindo a demanda por bens e serviços”, explica.

Sendo assim, Mikael detalha que ocorre um efeito em cadeia, em que a queda na atividade econômica gera uma pressão adicional sobre a arrecadação, dificultando investimentos em infraestrutura e serviços essenciais.

O mestre em Economia explica ainda que a situação pode exacerbar as desigualdades regionais, já que as comunidades mais dependentes da agricultura são as mais afetadas.

“A falta de políticas adequadas para mitigar os efeitos da estiagem pode agravar a vulnerabilidade econômica dessas áreas, dificultando a recuperação e a diversificação econômica, que são tão necessárias para um desenvolvimento sustentável”, analisa.

O economista Eduardo Matos corrobora pontuando que queda a nível real da arrecadação tem muita influência da estiagem, visto que a base agropecuária do Estado influencia na economia estadual. 

“Como já dito, não provoca só uma queda no rendimento da agropecuária, mas como a agropecuária tem uma forte influência em outros segmentos da economia, esses outros segmentos também são prejudicados, resultando um efeito dominó, em que um setor acaba prejudicando o outro, de maneira direta ou indireta”, analisa.

Entretanto, para Matos, apesar de haver a existência do problema, não é algo preocupante, pelo menos não no curto e no médio prazo. “É claro que, se esse quadro se perdure, aí há um comprometimento nos investimentos públicos”, afirma.

INFLAÇÃO

O crescimento em relação a agosto de 2023 foi de 1,95%, o que representa menos da metade da taxa de inflação oficial dos últimos 12 meses, que, no fim de agosto, era de 4,24%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em termos reais, ajustando pela inflação, a arrecadação de impostos foi inferior à do mesmo mês do ano passado.

Este é o sexto mês consecutivo em que a arrecadação estadual cresce abaixo da inflação, e esse padrão se repete ao longo do ano. Segundo o Confaz, o aumento nos primeiros oito meses foi de 3,21%, subindo de R$ 12,848 bilhões em 2023 para R$ 13,260 bilhões neste ano.

O ICMS, principal fonte de arrecadação, é uma das que estão apresentando crescimento abaixo da inflação, com uma alta de 3,59% nos primeiros oito meses do ano, passando de R$ 10,66 bilhões para R$ 11,04 bilhões.

OUTROS IMPOSTOS

No item outros impostos, a situação é mais crítica, com um faturamento que caiu 3,66%, passando de R$ 946 milhões para R$ 911 milhões. Em relação ao Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), que representa 7,5% do faturamento estadual, a situação é um pouco melhor, com uma alta de 5,5%, saltando de R$ 941 milhões para R$ 993 milhões.

Por último, o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCD ou ITCMD), apresentou uma arrecadação de R$ 241,394 milhões, com uma alta de 8,11% em comparação aos R$ 223,284 milhões registrados no ano passado.

ESTIAGEM 

Conforme já noticiado pelo Correio do Estado, a estiagem e a irregularidade de chuvas impactou fortemente a agricultura de Mato Grosso do Sul. Projeção realizada pela reportagem, com base nos dados disponibilizados pelo relatório do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga-MS) e por meio de consultoria técnica de agentes do setor, aponta para prejuízos de mais de R$ 10,3 bilhões na safra 2023/2024.

Dados da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) mostram que somente a segunda safra de milho amargou redução de 40,52% em relação ao ano anterior.

No ciclo 2022/2023, a produção do milho foi de 14,220 milhões de toneladas em MS. Já na safra 2023/2024, a produção foi de 8,457 milhões de toneladas, redução de 5,763 milhões de toneladas.

A saca de milho era comercializada pelo preço médio de R$ 51,19 no fechamento da safra em MS. Considerando que 5,763 milhões de toneladas são 96,050 milhões de sacas, o prejuízo estimado é de R$ 4,9 bilhões.

A área produzida de milho na segunda safra atingiu 2,102 milhões de hectares, queda de 10,7% em relação aos 2,355 milhões de hectares colhidos no ciclo anterior. A produtividade média ponderada no ciclo atual foi de 67,05 sacas por hectare, redução de 33,37% (33,59 sacas a menos) em comparação ao ano anterior, quando foram colhidas 100,64 sacas por hectare.

Na safra de soja não foi diferente. O Estado saiu de uma produção recorde de 15,007 milhões de toneladas na safra 2022/2023 para 12,347 milhões de toneladas de grãos no ciclo 2023/2024, redução de 2,660 milhões de toneladas. 

O preço médio da saca de soja era de R$ 123,75 no período de fechamento da colheita, considerando que 2,660 milhões de toneladas são 44,333 milhões de sacas de soja. Levando em consideração o preço médio da saca, os produtores de Mato Grosso do Sul deixam de faturar em torno de R$ 5,4 bilhões. 

Somando-se a primeira e a segunda safra 2023/2024, é possível afirmar que o produtor rural sul-mato-grossense deixa de ganhar R$ 10,3 bilhões com a agricultura no ciclo. (Colaborou Súzan Benites)

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receita municipal

Arrecadação do ISS dispara e 1ª vez supera o IPTU em Campo Grande

Imposto sobre serviços cresceu 16,4% em doze meses. Enquanto isso, a receita com IPTU teve alta de apenas 1,4%. É a primeira vez que o IPTU fica em segundo lugar

26/11/2024 11h45

Historicamente o IPTU foi a principal fonte de receita própria dos cofres da prefeitura de Campo Grande

Historicamente o IPTU foi a principal fonte de receita própria dos cofres da prefeitura de Campo Grande

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O faturamento da prefeitura de Campo Grande com o Imposto Sobre Serviços, o ISS, cresceu 16,4% nos últimos doze meses, chegou a R$ 662 milhões e pela primeira vez se tornou o imposto mais importante dos cofres municipais, superando IPTU e ICMS, que tradicionalmente foram os “sustentáculos” dos cofres municipais. 

Mas, o fato de o ISS chegar ao primeiro lugar não se deve exclusivamente ao arrocho fiscal do setor de serviços. O mau desempenho dos outros dois tributos ajuda a explicar este guinada que vem ocorrendo ao longo dos últimos anos.

O IPTU, por exemplo, teve aumento de apenas 1,57% nos 12 meses que acabaram em outubro. O montante, conforme publicação do diário oficial da prefeitura de Campo Grande desta terça-feira (26), passou de R$ 614,3 milhões para R$ 624 milhões. No período, a inflação foi de 4,77%. 

No caso do ICMS, a situação é parecida. O aumento é de apenas 2,4%, índice que repõe apenas a metade da inflação. Nos 12 meses encerrados em outubro do ano passado o Governo do Estado havia repassado R$ 502,4 milhões. Agora, os repasses somam R$ 514,6 milhões. 

Para efeito de comparação, de 2020 para cá, o faturamento com o ISS em Campo Grande saltou de R$ 359,5 milhões para R$ 662 milhões, o que representa alta de 84,1%. No mesmo período, o IPTU teve aumento de 14% e o ICMS, de apenas 13,4%. No período, a inflação subiu 27%. 

Uma das explicações para a perda da importância do IPTU nos cofres municipais foi o congelamento do imposto no final de 2021, às vésperas da candidatura do então prefeito Marquinhos Trad ao Governo Estadual. Na época, a legislação permitia reajuste de 10%. 

A perda de importância do ICMS também tem explicação política, já que os critérios para divisão do bolo são definidos pela Assembleia Legislativa, que sempre atende às sugestões do Governo do Estado.

Em 2012, por exemplo, Campo Grande recebia 25,34% da parcela do ICMS que cabe aos  municípios (25% do total). Em 2024, este percentual é de apenas 11,91%, o que é menos da metade daquilo que recebia então.

Isso representa perda da ordem de R$ 35 milhões mensais. Se a cidade continuasse recebendo aquele percentual, o repasse mensal seria da ordem de R$ 86 milhões os oito primeiros meses de 2024, ante os R$ 52 milhões médios que está recebendo. 

O repasse per capito de ICMS para a população de Três Lagoas, que recebe a segunda maior fatia do bolo, são 360% mais altos que os destinados aos moradores da Capital. 

No caso de Corumbá, a diferença é ainda maior, chegando a 400%. No caso de Dourados, a diferença a maior com relação aos campo-grandenses é bem menor se comparado com Três Lagoas e Corumbá, mas ainda assim é de 67%.

EXPLOSÃO DO ISS

Uma das explicações para o aumento na arrecadação com ISS é a contratação de cerca de 60 auditores fiscais desde 2021. Porém, boa parcela deste aumento acaba indo para bancar os salários destes servidores. Por ano, sem computar impostos, custam em torno de R$ 50 milhões, o que consome boa parte daquilo que os cofrres públicos estão arrecadando a mais.  

Economia

Carrefour pede desculpas por declarações sobre carnes brasileiras e reforça compromisso com o país

Apesar da retratação, o pedido de desculpas divulgado pelo Mapa não aparece no comunicado oficial do Carrefour publicado em seu site

26/11/2024 10h50

Reprodução Internet

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O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou, na manhã desta terça-feira (26), uma carta assinada por Alexandre Bompard, diretor-presidente do Grupo Carrefour, contendo um pedido de desculpas pelas declarações feitas anteriormente pela empresa na França, que geraram repercussão negativa no Brasil.

“Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas”, afirmou Bompard no documento enviado ao ministro Carlos Fávaro.

Apesar da retratação, o pedido de desculpas divulgado pelo Mapa não aparece no comunicado oficial do Carrefour publicado em seu site. Na nota disponível ao público, a empresa se limita a apresentar “esclarecimentos”, sem admitir formalmente qualquer pedido de desculpas ou retratação.

O texto reconhece que as declarações anteriores podem ter sido “recebidas como questionamento de nossa parceria com a produção agropecuária brasileira ou como uma crítica a ela”.

Na carta ao ministro da Agricultura, Bompard enfatiza o compromisso do Carrefour com os mercados locais e destaca que, na França, a rede é o maior parceiro da agricultura francesa, adquirindo quase toda a carne necessária para suas operações no país.

Ele atribui a decisão do Carrefour França de priorizar a compra de produtos locais à intenção de apoiar agricultores franceses, que enfrentam uma grave crise.

“A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais”, justificou.

Bompard também reafirmou a parceria da empresa com o Brasil, mencionando que o Carrefour Brasil compra quase toda a carne que necessita de produtores brasileiros e que seguirá assim.

Ele ainda destacou que, sob sua presidência, o Grupo Carrefour Brasil dobrou tanto o volume de investimentos no país quanto as compras da agricultura brasileira.

O episódio ganhou repercussão após Bompard, em postagem nas redes sociais, criticar o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, afirmando que ele poderia trazer “risco de a produção de carne que não cumpre com seus requisitos e padrões se espalhar pelo mercado francês”. A declaração foi entendida como um ataque à segurança sanitária das carnes do Mercosul, incluindo as brasileiras.

Ao divulgar a carta de desculpas, o Mapa reforçou que o Brasil possui um sistema rigoroso de defesa agropecuária, que posiciona o país como o principal exportador de carne de aves e bovina do mundo.

“Reiteramos os elevados padrões de qualidade, sanidade e sustentabilidade da produção agropecuária brasileira”, informou a pasta.

O Mapa também destacou o trabalho do setor agropecuário brasileiro, que já alcança consumidores em mais de 160 países. Nos últimos dois anos, 281 novos mercados foram abertos para os produtos agropecuários do Brasil, resultado das boas relações diplomáticas promovidas pelo governo.

“O Mapa trabalha sempre no intuito de esclarecer os fatos para não permitir que declarações equivocadas coloquem em dúvida um trabalho de defesa agropecuária de alto nível e uma produção de alta qualidade, comprometida com uma das legislações ambientais mais rigorosas do planeta”, declarou o Ministério.

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