Esportes

GUERRA CIVIL

Jovem da Síria resgata paixão por futebol no Brasil

Aos 16 anos, garoto aproveita esporte para se entrosar com nova vida

GLOBOESPORTE

08/01/2016 - 09h47
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Jovens se reúnem em um dia qualquer para jogar videogame. Cena comum em praticamente todos os cantos do mundo, do Brasil ao Japão, mas aconteceu na Síria manchada pelo início de uma guerra civil que dura até hoje. O lugar errado, na hora errada, o que por pouco não transforma um encontro divertido em imensa tragédia. Um míssil atinge um conglomerado de prédios, destrói as construções e deixa feridos e rastros. Mas, por milagre, não explode. 

Amer F. Salha é um dos sobreviventes. Ao lado de um grupo de amigos, o rapaz de 16 anos sai com pequenos ferimentos e marcas até hoje mostradas como cicatrizes de vitória. Os olhos deste garoto sírio viram muito mais do que a idade sugere. Viram a destruição de sua cidade-natal, o desabamento do prédio em que vivia, companheiros serem vítimas e a situação financeira da família ruir. Por sorte, o campo de visão hoje é bem melhor.

Ele deixou a guerra civil para trás e, ao lado dos pais e da irmã mais nova, embarcou para o Brasil, onde vive – legalmente – em Campinas, interior de São Paulo. Cursa o colegial em uma escola particular, ajuda a mãe em um trabalho caseiro e refaz a vida pouco a pouco. De antigo, só a paixão pela bola. Ele treina há dois meses com o time sub-17 do Guarani, clube que lhe abriu as portas para treinar e, por meio do esporte, sonhar.

– Vou ter sucesso, porque o futebol é minha vida – afirma o garoto.

A família tenta se adaptar diariamente às diferenças entre os países desde que chegou ao Brasil, há três meses. O primeiro passo, e talvez o mais difícil, é deixar para trás tudo o que passou. Amer morava na capital Damasco, um dos principais alvos da guerra, até perder o apartamento, bombardeado. Com os pais e a irmã, tentou a sorte em Kassab e Lattakia, até perceberem que a sobrevivência só seria possível em um lugar distante.

Os pais de Amer gastaram milhares de dólares e conseguiram, na embaixada brasileira em Beirute (capital do Líbano, país vizinho), vistos de permanência no Brasil. Embarcaram em Dubai, moraram pouco tempo em São Paulo e mudaram-se para Campinas. No interior, tentam recuperar a vida. Até hoje, a irmã tem traumas adquiridos na antiga casa. O pai trabalha em uma empresa que vende programas de computador. A mãe cozinha para fora.

– Minha vida era muito boa, tudo era maravilhoso. Meu pai tinha emprego, tínhamos uma casa. Mas daí a guerra veio e perdemos tudo. A situação ficou ruim na Síria em 2011, então viajamos de Damasco para Kassab (cidade entre Síria e Turquia), onde ficamos três meses, depois fomos para Lattakia, onde moramos até agosto de 2015. Meu pai tinha amigos, e eles nos falaram que as pessoas no Brasil eram boas, por isso viemos. Aqui as pessoas são adoráveis, não há guerra. Nossa situação ainda não é das melhores, mas está evoluindo – diz o garoto, que concilia os afazeres de casa com os estudos e o futebol.

Apesar de viverem legalmente no Brasil, Amer e os familiares aumentam a estatística de sírios que foram embora por causa da guerra civil vigente desde 2011. Dos 23 milhões de habitantes, mais da metade não está mais no país, que viu também a morte de 240 mil pessoas após o começo dos conflitos. Dos refugiados, muitos optam pelo Brasil, que tem 2.077 habitantes da Síria em seu território (maior entre as nações da América Latina).

A dificuldade de adaptação ao Brasil só não é maior graças ao futebol. Por indicação de pessoas próximas a dirigentes, Amer começou a treinar no Guarani há um mês. Ele, que joga de atacante, completa o elenco do time sub-17 duas vezes por semana. Apesar de falar quatro línguas (inglês, árabe, francês e russo), o sírio ainda esbarra no idioma para se comunicar com a maioria dos garotos. Sabe poucas palavras em português. A exceção é Lohan Costa, que se tornou seu principal amigo.

– Quando o Amer chegou no Guarani, a gente estava almoçando lá no refeitório. Uma advogada dele perguntou quem falava inglês aqui no clube. Levantei a mão, apesar de meio confuso. Por que será que estava perguntando isso? Aí ela falou que viria um sírio para jogar conosco. Fiquei feliz, porque é outra cultura, outra região – lembra o atacante, um dos principais destaques da equipe de base do Bugre.

Nasceu ali uma amizade dentro e fora de campo. Por ser o único a falar inglês entre os meninos, Lohan serve de intérprete a Amer. Já teve, muitas vezes, que traduzir alguma reclamação de um colega no calor do jogo, mas fez de um jeito bem mais sutil. Tudo para preservar o companheiro.

– Falo algo legal e dou um abraço nele (risos). Às vezes estou lá na frente do ônibus, ele pede para eu traduzir algo, eu tenho que passar por todo mundo para falar com ele.

Amer faz parte de um plano futuro do Guarani. O clube evita promessas ao garoto, que na Síria jogava em um clube local e participava de competições com a seleção sub-17. A diferença para outros meninos da base ainda é grande, segundo avaliação de integrantes da comissão técnica. O Bugre, no entanto, dará oportunidade ao sírio. A ideia é criar um programa de intercâmbio, que atraia outras nacionalidades ao Brinco de Ouro e aumente as chances de um atleta estrangeiro emplacar com a camisa do Bugre.

– A gente tem a ideia de trazer atletas de outros países. O clube procura fazer um laboratório com o Amer para saber como faria em 2016 com outros, até para poder sentir a questão de adaptação, do clima, da logística que o clube oferece. A ideia é projetá-lo para que ele consiga, quem sabe no futuro, subir de categoria. O processo vai dizer se ele tem condição ou não de chegar a uma equipe profissional – explica Marcelo Casado, coordenador-técnico das categorias de base do Guarani desde janeiro de 2015.

– Amer é um menino que chegou bem tímido e no primeiro dia se soltou, fazendo o recreativo com os outros garotos. A gente sabe a história de vida e tudo que ele passou por lá. É legal saber que o esporte pode mudar muita coisa na vida de um jovem. A gente vai se virando no inglês, e ele está lutando para aprender o português. Crescer aqui será uma lição de vida – complementa Angelo Foroni, ex-jogador e técnico da equipe sub-17 do Bugre.

O jovem não liga para as dificuldades que possam aparecer no caminho. Fã de Ronaldinho Gaúcho, sabe de cor todos os grandes destaques do futebol brasileiro atual, de Neymar até o volante Luiz Gustavo. E se espelha neles para concretizar um sonho de infância. Amer Salha gostaria de se profissionalizar no Guarani, jogar na Europa e alcançar o sonho máximo de dez em dez garotos de sua idade: atuar no Barcelona.

É claro que Amer sabe a dificuldade de atingir um status como esse no futebol. Sabe tanto que também trabalha com um plano B (atuar na área de física) caso as coisas no esporte não se encaixem como gostaria. Mas quem vai dizer que o sonho é impossível? Jamais ele, que sobreviveu e vivenciou tantas coisas para estar, hoje, mais perto da bola.

– Eu posso fazer isso, posso ser um jogador profissional. É meu maior sonho.

 

Futebol

Corinthians vence Vasco e conquista tetracampeonato da Copa do Brasil

Título garantiu ao Timão uma vaga na Copa Libertadores de 2026

21/12/2025 19h16

Corinthians venceu o Vasco por 2 a 0 e conquistou o título da Copa do Brasil

Corinthians venceu o Vasco por 2 a 0 e conquistou o título da Copa do Brasil Foto: Rodrigo Coca / Corinthians

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O Corinthians é campeão da Copa do Brasil 2025. Depois do empate sem gols no jogo de ida, na Neo Química Arena, o time alvinegro foi cirúrgico jogando Maracanã, aproveitando as poucas chances que teve — finalizou somente duas vezes em direção à meta — para vencer o Vasco por 2 a 1, neste domingo, e ficar com a taça. Yuri Alberto e Memphis Depay fizeram os gols do time paulista. Nuno Moreira marcou para a equipe cruz-maltina.

Trata-se do quarto título conquistado pelo Corinthians na Copa do Brasil. Os paulistas também venceram em 1995, 2002 e 2009. Dorival Júnior, por sua vez, igualou Luiz Felipe Scolari, também com quatro taças, e se tornou o técnico que mais venceu o torneio.

Pela conquista do título, o Corinthians vai receber uma premiação de R$ 77,1 milhões, encerrando a participação com um acumulado de R$ 109,1 milhões, e também garante uma vaga na Copa Libertadores 2026. Já o Vasco recebe R$ 33 milhões pelo vice-campeonato e fecha o torneio com um total de R$ 53,5 milhões.

Diferentemente do primeiro duelo, em Itaquera, o Corinthians foi para o jogo com o meio-campo modificado. O volante Maycon ganhou a vaga do Rodrigo Garro, que vive mau momento, e o jovem Breno Bidon, também volante, assumiu a função de jogar mais adiantado.

A ideia era reforçar o setor e impedir o Vasco de trabalhar a bola livremente, como aconteceu no jogo de ida.

Empurrado por um Maracanã abarrotado, com torcedores fazendo muito barulho, o Vasco tentou adotar uma postura de protagonismo no começo do jogo. O time de Fernando Diniz ficou mais com a bola e pressionou a defesa corintiana quando não tinha a posse.

Para sair de trás, a equipe de Dorival Júnior buscou jogadas pelos lados. Aos 18 minutos, Matheuzinho recebeu ótimo passe, de Raniele, nas costas da defesa e fez lançamento preciso para Yuri Alberto, que ficou cara a cara com o goleiro Léo jardim e balançou as redes.

A jogada do gol pareceu ter demonstrado o caminho para o Corinthians, que continuou apostando nas bolas esticadas. Yuri Alberto teve chance clara para ampliar aos 25, mas desta vez o camisa 9 finalizou mal quando ficou frente a frente com Léo Jardim e desperdiçou a oportunidade de deixar os visitantes mais confortáveis no placar.

Bem posicionado atrás, os paulistas deram pouco espaço para os cariocas realizarem tramas com qualidade. Porém, quando Raniele errou passe no meio-campo, o Vasco não perdoou.

Andrés Gómez recebeu livre na esquerda e fez cruzamento na medida para Nuno Moreira empatar, de cabeça, aos 40. A torcida cruz-maltina fez grande festa nas arquibancadas e o coro de “time da virada” foi entoado. A igualdade no placar fez justiça ao equilíbrio da partida na etapa inicial.

O Vascou voltou melhor após o intervalo. O time de Fernando Diniz empurrou o Corinthians para o campo de defesa e passou a rondar a área adversária, mas sem levar perigo imediato à meta defendida por Hugo Souza. A equipe de Dorival Júnior apelou para os chutões em direção a Yuri Alberto, que, encaixotado, não conseguiu fazer muita coisa.

Aos 17 minutos, os paulistas aproveitaram a primeira chance clara que tiveram em um contra-ataque para marcar. Bidon deu um lindo drible da vaca em Barros e a jogada terminou com Yuri tocando para Memphis só empurrar para as redes.

Logo após o gol corintiano, Diniz tirou o volante Barros para colocar o centroavante Pablo Vegetti, artilheiro do País em 2025, com 27 gols. A ideia era clara: aproveitar o faro apurado do argentino para converter a pressão em bola na rede.

Os cariocas começaram a cruzar bolas na área e a defesa corintiana precisou se desdobrar para evitar chances perigosas. Dorival, diferentemente de Diniz, teve opções melhores para oxigenar o time e colocou Carrillo e Garro no segundo tempo para tentar fazer o time sair de trás.

Conforme o jogo foi se aproximando dos minutos finais, Dorival fez substituições para “fechar a casinha”, ou seja, fortalecer o sistema defensivo para segurar o resultado até o fim — Yuri Alberto, com sangramento no nariz, foi tirado para a entrada do zagueiro João Pedro.

Diniz empilhou o Vasco com atacantes: Rayan, Vegetti, David e Gómez... O time corintiano sofreu no fim, mas conseguiu assegurar o a vitória para ficar com o título.

VASCO 1 X 2 CORINTHIANS

VASCO - Léo Jardim; Paulo Henrique, Carlos Cuesta (David), Robert Renan e Puma Rodríguez (Matheus França); Cauan Barros (Vegetti), Thiago Mendes e Philippe Coutinho (Tchê Tchê); Andres Gómez, Nuno Moreira (GB) e Rayan. Técnico: Fernando Diniz

CORINTHIANS - Hugo Souza; Matheuzinho, André Ramalho, Gustavo Henrique e Matheus Bidu (Angileri); Raniele (Carrillo), José Martínez, Maycon (Maycon) e Breno Bidon (Rodrigo Garro); Memphis Depay e Yuri Alberto (João Pedro Tchoca). Técnico: Dorival Júnior.

ÁRBITRO - Wilton Pereira Sampaio (Fifa/GO)

GOLS - Yuri Alberto, aos 18, e Nuno Moreira, aos 40 minutos do primeiro tempo; Memphis Depay, aos 17 do segundo tempo

CARTÕES AMARELOS - Carlos Cuesta, Thiago Mendes e Vegetti (Vasco); Yuri Alberto, Carrillo, Matheuzinho e João Pedro Tchoca (Corinthians)

PÚBLICO - 67.111

Declaração

Neymar promete fazer o 'impossível' para conquistar a Copa e manda recado: 'Alô, Ancelotti!'

pesar do discurso confiante, a presença de Neymar na próxima Copa do Mundo ainda é incerta

21/12/2025 09h45

Neymar Júnior

Neymar Júnior Foto: Lucas Figueiredo / CBF

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Neymar voltou a falar sobre Copa do Mundo e deixou claro que mantém o objetivo de disputar o Mundial de 2026 com a seleção brasileira. Neste sábado, durante um show do cantor Thiaguinho, em São Paulo, o camisa 10 do Santos prometeu "fazer o impossível" para buscar o hexacampeonato e aproveitou o momento para mandar um recado ao técnico Carlo Ancelotti.

"Vamos fazer o impossível para trazer a Copa para o Brasil. O possível e o impossível. Em julho, vocês podem me cobrar. Alô, Ancelotti, ajuda nós!", disse o atacante, no palco do show. O camisa 10 do Santos esteve no evento "Tardezinha" acompanhado da esposa, Bruna Biancardi, do filho Davi Lucca, da irmã Rafaella e do cunhado Gabigol.

Apesar do discurso confiante, a presença de Neymar na próxima Copa do Mundo ainda é incerta. O jogador não foi convocado por Ancelotti desde a chegada do treinador à seleção brasileira, e o italiano já afirmou em mais de uma ocasião que só pretende chamá-lo quando estiver em plenas condições.

No Santos, o camisa 10 tem convivido com limitações físicas ao longo da temporada. Até aqui, disputou 28 partidas, com 11 gols e quatro assistências. O contrato com o clube termina em dez dias, e as partes negociam uma renovação por mais seis meses.

Antes de qualquer definição sobre o futuro, porém, Neymar será submetido a uma cirurgia no joelho esquerdo para corrigir um esgarçamento no menisco. O procedimento está previsto para ocorrer nesta semana, com prazo estimado de recuperação de cerca de um mês.

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