Uma parceria que teve início em 2007, quando o Sport Club Corinthians Paulista estava rebaixado para a Série B, a 2ª Divisão do Campeonato Brasileiro e que, assim como um casamento, começou com uma jura de amor eterno, terminou com uma rescisão unilateral e disputa na Justiça, como em um divórcio.
A empresa com sede em Campo Grande (MS), SPR Indústria e Confecção, uma das poucas no Brasil que, em um momento em que o Timão estava em baixa conseguiu atender um pedido de 3 mil camisetas para o clube com a frase “Eu nunca vou te abandonar”, deu início a uma longa parceria que terminou no ano passado, rescindida pela equipe paulista.
Para piorar, o “abandono” do Timão com a empresa campo-grandense ocorreu em um momento dificílimo para a história da empresa, que cresceu justamente a partir daquela primeira encomenda de camisetas.
Desde junho de 2021 a empresa lidera um processo de recuperação judicial na Vara de Falências e Recuperações Judiciais da capital sul-mato-grossense, por causa de uma dívida de R$ 80,1 milhões alegada na época do pedido.
A SPR, que na década passada inaugurou um modelo pioneiro de marketing esportivo que aproxima o clube do torcedor, e chegou a ser a franqueadora master das lojas “Poderoso Timão” em todo o Brasil, alegou ter sido vítima da combinação catastrófica entre a pandemia de Covid-19, que interrompeu os campeonatos em 2020 e abalou as vendas de artigos esportivos, somada ao impacto negativo da crise econômica que teve início em 2016, no fim do governo de Dilma Rousseff (PT).
Dias de glória
Antes de falar de seus problemas, porém, a empresa não nega que cresceu - e muito - desde que o Corinthians recuperou-se de seu rebaixamento, voltando à Série A, em 2008.
O sucesso com o licenciamento da marca do clube e com as vendas por meio das lojas “Poderoso Timão” foi tão grande, que a empresa atraiu outros clubes parceiros e até mesmo a representação no Brasil de outras marcas estrangeiras.
Quando entrou com o pedido de recuperação judicial na Vara de Falências de Campo Grande, a SPR detinha licenças dos seguintes clubes e marcas:
Clubes brasileiros:
- Sport Club Corinthians Paulista
- São Paulo Futebol Clube
- Sociedade Esportiva Palmeiras
- Clube de Regatas Vasco da Gama
- Botafogo de Futebol e Regatas
- Esporte Clube Vitória (BA)
- Clube do Remo (PA)
Clubes estrangeiros
- Liverpool Football Clube
- Manchester City Club Limited
- Roma
Marcas e modalidades estrangeiras
- Kappa
- UFC
A empresa também expandiu seu parque fabril na década passada. Além da fábrica e matriz localizada no Polo Empresarial Norte de Campo Grande, foram abertas mais duas filiais em São Paulo (SP), no Bairro do Bom Retiro, além de outras unidades fabris em Extrema (MG) e em Brusque (SC).
Ainda na década passada, o grupo chegou a representar a marca francesa Le Coq Sportif no Brasil, e adquiriu o interesse de investidores estrangeiros: em 2012 a Plural Sports Participações ingressou na sociedade, com 26,6% do capital social.
Atualmente, os sócios Dom Pepe Empreendimentos tem 73,74% e a Plural Sports 23,26% das ações da empresa. O capital social da empresa registrado na Junta Comercial de Mato Grosso do Sul é de R$ 7 milhões, e o administrador da empresa, que representa a Dom Pepe e seus fundadores é Pedro Grzywacz.
Com o negócio da Poderoso Timão de vento em popa (foram mais de 100 franquias abertas entre 2008 e 2012), a SPR firmou negócios semelhantes para licenciamento e franquias com São Paulo, Vasco da Gama, Internacional e Botafogo.
O rompimento
O fim da parceria com o Corinthians começou, de uma certa forma, amigável. Em 2018, a SPR devolveu o direito de ser franqueadora master das lojas Poderoso Timão, assim como das lojas oficiais do São Paulo Futebol Clube.
O problema foi que, nesta época, a empresa já não vendia tanto como no início da mesma década.
“A partir de então a empresa adotou a estratégia de se dedicar ao licenciamento de produtos vinculados a clubes de futebol e explorar as marcas a estes conectadas. Foi uma mudança de rumo que fez com que o faturamento, inicialmente, permanecesse baixo, agravando a situação do caixa, já pressionado pelas dívidas que haviam sido renegociadas com os credores durante o período de crise econômica”, afirmaram os advogados da SPR no pedido de recuperação judicial, aceito pelo Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul.
Campanha de marketing que deu início à parceria que chegou ao fim em 2022Neste intervalo, a empresa fez novas dívidas, e “os vários desdobramentos que se seguiram à pandemia trouxeram uma queda dramática nas vendas, com brutal redução no faturamento e, consequentemente, grandes prejuízos”, alegaram os advogados da empresa.
Para piorar, em 2022, enquanto o processo de recuperação continuava, o Corinthians rescidiu unilateralmente o licenciamento de sua marca para a SPR.
A empresa chegou a conseguir uma liminar concedida pela Justiça de Mato Grosso do Sul, para manter o seu direito de manter a parceria, sob a justificativa de que o clube - que é um dos credores do processo - por meio da venda dos materiais licenciados com sua marca, responde por 26% do faturamento com vendas.
A disputa se manteve na Justiça, até que em 2ª instância, o Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul entendeu que a decisão sobre rescisão ou não da parceria seria da competência do Poder Judiciário do Estado de São Paulo.
Dias de luta
Depois do fim unilateral da parceria que começou com o bordão “Eu nunca vou te abandonar” a SPR sobrevive, e conforme o último relatório enviado à Vara de Falências e Recuperação Judicial de Campo Grande, têm conseguido obter bons resultados com vendas, escalonando o pagamento dos credores e, em alguns meses, fechando no azul.
O Corinthians, por sua vez, não está em uma situação muito diferente da que se encontrava no início da parceria, em 2007, ano em que foi rebaixado. Depois de 12 jogos do Campeonato Brasileiro de 2023 (data em que esta reportagem foi escrita), o Timão está na 15ª colocação na competição, com 12 pontos ganhos, 1 a mais que o Goiás, o 17º colocado e primeiro clube da zona de rebaixamento.
O balanço do Timão de 2022, conforme reportagem do Estadão, de abril de 2023, informa que a dívida atual do clube é de R$ 824 milhões.


