O suor que escorre no tatame da família Regis, em Campo Grande, carrega mais do que o esforço de treinos diários. Carrega o peso de um legado, a força de um clã e a esperança de um jovem atleta que, aos poucos, inscreve seu nome na elite do jiu-jitsu brasileiro.
Aos 14 anos, Valentino Regis acaba de conquistar o título de vice-campeão brasileiro de Jiu-Jitsu em uma das competições mais acirradas do país, o Brasileiro da CBJJ (Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu) de 2025, e se prepara para alçar voos ainda mais altos, mirando o pódio do Pan Kids na Califórnia, e do Europeu, em Lisboa.
Valentino, que representa com orgulho a equipe Carlson Gracie Campo Grande, travou quatro batalhas intensas na competição nacional.
Venceu três, chegando invicto à final de sua categoria. A medalha de prata, embora não fosse o ouro almejado, tem o brilho da superação para um atleta que treina em um estado considerado periférico no cenário da “arte suave”, mas que pulsa com uma forte tradição no esporte.
Pais de Valentino também são campeõesA história de Valentino com o jiu-jitsu não começou em uma academia convencional, mas sim no epicentro de sua família. Filho de dois campeões de Mato Grosso do Sul, Alan Regis, conhecido como “Tatuapú”, e Meiry Pires, o jovem faixa laranja praticamente nasceu sobre os tatames.
O treinamento, que começou aos 4 anos, é uma herança diária. Sob a supervisão rigorosa e afetuosa do pai e técnico, Valentino dedica duas horas por dia ao jiu-jitsu, complementando a rotina com preparação física três vezes por semana.
“Falamos que somos um clã. Eu e meu marido já vencemos campeonatos importantes e ele tem a responsabilidade de carregar o nome da família ‘Régis’ para mais vitórias”, conta, orgulhosa, a mãe Meiry Pires. A fala dela ecoa a realidade de muitas famílias que transformam o esporte em um projeto de vida.
O ano de 2024 já havia dado mostras do potencial de Valentino, quando ele se sagrou campeão do Mundial Infantil da CBJJE, uma das confederações mais disputadas. Agora, os olhos se voltam para o cenário internacional. No entanto, a jornada para a Califórnia e para Lisboa é uma luta que se estende para além dos tatames.
O “Paitrocínio” como motor
Apesar dos resultados expressivos e do futuro promissor, Valentino não possui patrocínio. Cada viagem, cada inscrição, cada quimono novo é custeado exclusivamente pela família e por amigos que acreditam em seu talento. A mãe, Meiry, além de atleta e incentivadora, tornou-se a “diretora de marketing” do filho, organizando campanhas de arrecadação de recursos para viabilizar os sonhos de Valentino.
“No momento, contamos com o que chamo de ‘paitrocínio’”, define Meire, em uma mistura de bom humor e desabafo. A situação de Valentino espelha a de milhares de atletas no Brasil, onde o jiu-jitsu é um dos esportes individuais que mais cresce, com uma estimativa de mais de 500 mil praticantes, mas onde o apoio financeiro ainda é um desafio imenso, especialmente para quem está longe dos grandes centros do Rio de Janeiro e São Paulo.
Mato Grosso do Sul, apesar da distância geográfica dos principais palcos do jiu-jitsu, possui uma cena organizada, com diversas federações ativas e um histórico de revelar grandes talentos. Essa tradição local serve de base e inspiração para jovens como Valentino, que provam que a excelência pode florescer em qualquer lugar onde haja dedicação e paixão.
Antes dos desafios internacionais, Valentino tem um compromisso marcado no dia 6 de julho de 2025, em Curitiba (PR), onde disputará o Internacional Kids da CBJJ. A expectativa da equipe é que a evolução constante o leve à faixa verde no próximo ano, um passo importante na sua graduação dentro da categoria infanto juvenil.


