Um comportamento até então desconhecido foi registrado em pequenos bagres-abelha (Rhyacoglanis paranensis) do Mato Grosso do Sul: a escalada de cachoeiras de até quatro metros de altura.
O fenômeno foi flagrado pela Polícia Militar Ambiental no rio Aquidauana quando milhares de peixes subiam rochas escorregadias atrás da cachoeira do Sossego. Esse evento despertou interesse de zoólogos da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), que documentaram a ocorrência e analisaram o comportamento.

Como os bagres-abelha escalam as cachoeiras
A escalada dos bagres segue um padrão definido. Os peixes utilizam as nadadeiras peitorais totalmente abertas, “abraçando” a rocha, e impulsos laterais do corpo combinados com movimentos da cauda para avançar.
Durante o processo, uma pequena cavidade sob o abdômen cria sucção, permitindo que os indivíduos mantenham aderência às superfícies molhadas. A tática de impulsos curtos intercalados com pausas estratégicas permite que avancem sem se exaurir, garantindo que consigam superar os paredões de pedra, mesmo em locais com correnteza intensa.
Além disso, a atividade ocorre principalmente no final do dia, quando a temperatura cai e os peixes saem de áreas sombreadas para iniciar a escalada. O mecanismo lembra o comportamento de outras espécies conhecidas por escalar cachoeiras, como o goby-lava do Havaí, mas apresenta diferenças anatômicas.
Enquanto os góbios utilizam ventosas bucais e pélvicas, os bagres-abelha dependem do formato do corpo e das nadadeiras peitorais para manter a aderência, evidenciando uma evolução convergente para essa habilidade.
O R. paranensis normalmente habita rios de água turva e é difícil de observar. A agregação massiva observada sugere uma possível migração reprodutiva, quando os peixes sobem o rio para desovar em áreas mais altas, embora ainda não haja confirmação sobre a frequência ou abrangência desse comportamento.





