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TRÊS LAGOAS

Prioridade da Petrobras, retomada da fábrica UFN3 pode ser anunciada por Lula na próxima semana

Para o próximo fim de semana, vários políticos e gestores, estaduais e federais, reservaram espaço em suas agendas para um anúncio de investimento bilionário em MS; fábrica de fertilizantes do Paraná será reativada

4 AGO 2023 • POR Eduardo Miranda • 18h13
Fábrica de Fertilizantes de Três Lagoas deve ter retomada das obras confirmada   Divulgação

A fábrica de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas, denominada UFN3 pela estatal, foi elencada como prioridade pela empresa, e pode ter sua retomada oficializada neste mês. Há indícios que na próxima semana, a estrutura cujas obras foram paralisadas em 2015, tenha a retomada dos trabalhos confirmados. O investimento - não há números fechados - será bilionário. 

Os sinais foram dados desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse na presidência da República, nomeou o ex-senador e empresário do setor de óleo e gás Jean Paul Prates para a presidência da estatal, e mudou a política da empresa.

Em janeiro, o processo de venda da estrutura da UFN3 foi suspenso pela Petrobras, que não teve sucesso em vender a unidade desde que se propôs a isso, em 2017.

Em junho, a estatal foi além, e informou ao mercado que retomaria sua estratégia de voltar ao setor de produção de fertilizantes.

No mês passado, foi criado um Grupo de Trabalho (GT), que terá um prazo de 90 dias para apresentar um cronograma para o retorno da Petrobras ao setor.

Dentre as prioridades da estatal estão duas: a reativação da Fábrica de Fertilizantes do Paraná (Fafen-PR), em Araucária, paralisada desde a década passada, e a conclusão da UFN3 em Três Lagoas, que foi paralisada com 80,95% dos trabalhos concluídos. 

Na terça-feira (1), em São Paulo (SP), o governador Eduardo Riedel (PSDB) informou à imprensa que no próximo dia 11 deste mês mais um investimento bilionário de uma grande empresa será anunciado para Mato Grosso do Sul, e que neste anúncio estariam presentes ministros de Estado, como a ministra da Planejamento, Simone Tebet, que é de Três Lagoas, e até mesmo outros ministros da gestão petista. 

O próximo dia 11 é mesmo dia em que o presidente Lula fará o anúncio do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O presidente da República estará no Rio de Janeiro (RJ), cidade que abriga, coincidentemente, a sede da Petrobras. 

Para o próximo fim de semana, vários políticos e gestores, estaduais e federais, reservaram espaço em suas agendas para este suposto anúncio de investimento bilionário em Mato Grosso do Sul. 

Fertilizantes

Sobre a retomada do setor de fertilizantes da Petrobras, os estudos para a reabertura da fábrica paranaense, estão em fase final, informou o diretor de Processos Industriais e Produtos da companhia, William França. A unidade foi fechada em 2020, sob protestos de sindicatos, com o argumento de que só dava prejuízo.

A unidade tem capacidade para produzir 2.000 toneladas de ureia por dia e também produz Arla 32, um agente que reduz emissões em veículos a diesel.

“É um passo muito importante porque representa a reentrada da Petrobras na fabricação de fertilizantes, que é uma diretriz nacional, e não só da Petrobras, após a invasão da Ucrânia pela Rússia”, afirmou Prates, em entrevista a jornalistas para detalhar o balanço do segundo trimestre.

Outro estudo no segmento contempla a retomada das obras da fábrica de fertilizantes de Três Lagoas (MS), lançada no governo Dilma Rousseff e paralisadas desde 2015 com 80,95% do projeto concluído. A Petrobras chegou a negociar a unidade com a russa Acron, mas as conversas foram suspensas em 2022.

França diz que estudos também indicam viabilidade na retomada das obras, que levariam a uma capacidade de produção anual de 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil de toneladas de amônia usando como matéria-prima gás natural transportado pelo Gasoduto Bolívia-Brasil.

O consumo diário de gás natural, quando a fábrica estiver em plena operação será de 2,2 milhões de m³ por dia.

A UFN3, que também é conhecida por outro nome: Fafen-MS, também será capaz de produzir gás carbônico, produto que é usado como matéria-prima de vários segmentos da indústria, de equipamentos médicos a refrigerantes. 

Bahia

Outras duas unidades antigas da Petrobras, na Bahia e em Sergipe, foram arrendadas para a Unigel, com quem a estatal negocia parceria que incluiria a produção de hidrogênio verde. “Diante da nova disponibilidade para analisar a questão dos fertilizantes, estamos negociando para juntar esforços com eles”, afirmou França.

O fornecimento de fertilizantes para o agronegócio se tornou crítico após o início da guerra na Ucrânia. O Brasil importa cerca de 85% de sua demanda de fertilizantes e cerca de um quarto desse total vinha da Rússia.

O programa de ampliação da produção de fertilizantes do governo Lula previa outra unidade da Petrobras, em Uberaba (MG), a UFN5, mas as obras também foram paralisadas após o início da Operação Lava Jato. Depois, a estatal decidiu sair do segmento.

Lava Jato

A UFN3 também teve suas obras paralisadas no auge da Operação Lava Jato. A fábrica de fertilizantes de Três Lagoas foi uma iniciativa de um consórcio liderado pela Petrobras, que era composto pela estatal de petróleo chinesa Sinopec e também pela Galvão Construtora. 

A fábrica de fertilizantes de Três Lagoas foi projetada para ser a maior do segmento na América do Sul, e que poderá ser capaz de suprir quase 20% da demanda interna do produto, que é majoritariamente importado de países em conflito, como Rússia e Belarus, mas desde que a construtora Galvão e diretores da Petrobras foram citados na operação comandada pelo então juiz federal e atual senador pelo Paraná, Ségio Moro (União Brasil), a continuidade dos investimentos foi se tornando inviável. 

Tentativa de venda

Depois da Operação Lava Jato, a Petrobras, em seu programa de reestruturação, deu início a uma estratégia de venda de ativos e de parar de investir em qualquer atividade que não fosse a extração de petróleo bruto.

A produção de fertilizantes foi incluída neste programa. A estatal, de lá para cá, tentou vender a UFN3 por três vezes, mas não teve êxito em nenhuma delas, dada a complexidade e a dimensão da operação.

Chegou mais perto em 2019, quando a Acron, com fortes ligações com o governo russo, compraria a unidade em consórcio com a estatal boliviana YPFB. A destituição de Evo Morales, porém, fez com que os russos mudassem de planos.

Mais tarde, houve uma nova investida com a Acron, sem êxito, sobretudo depois de autoridades brasileiras exporem a intenção da Petrobras: a de tentar rebaixar a unidade de processadora e indústria de nitrogenados para uma mera misturadora.

No ano passado, depois de o fornecimento de fertilizantes para o mercado brasileiro ficar ameaçado, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, a paralisação das unidades produtoras no Brasil e a dependência local ficaram expostas.

Foi preciso um esforço diplomático da ex-ministra da Agricultura e senadora eleita Tereza Cristina (PP-MS) para garantir o fornecimento pela Rússia. Ainda assim, os preços desses produtos essenciais para a produção agrícola dispararam no mercado internacional no ano passado.

Neste ano, os fertilizantes já tiveram uma queda, mas o entendimento no núcleo do governo federal, é que o setor de fertilizantes é estratégico para o Brasil, que não pode ficar a mercê da flutuação dos preços em função da instabilidade das regiões produtoras.  

Em 2018, quando uma due dilligence (vistoria para compra) foi realizada na UFN3, foi constatado que a unidade precisaria de pelo menos US$ 1 bilhão para ser concluída. Em reais, foram aplicados mais de R$ 3 bilhões em sua construção. Atualmente, não há uma avaliação do investimento necessário para retomar a obra.

(Com Folhapress)

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