A movimentação de valores altíssimos por empresas de fachada e de doleiros paraguaios na região de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, levou a Polícia Federal a identificar uma quadrilha que atua no tráfico internacional de cocaína. Um dos prováveis destinos da droga seria os Estados Unidos.
De acordo com investigação da PF do Estado, a organização criminosa levou, pelo menos, seis toneladas da droga para países da América Central, como Honduras e Guatemala, em três voos identificados, um em 2018, um em 2019 e um em 2021.
Por ser um volume muito grande para a região, a polícia acredita que essa droga tivesse como destino mercado na América do Norte, como os Estados Unidos, porém, isso ainda isso está sendo investigado.
“A aeronave tem capacidade de transporte de mais de duas toneladas, então, tudo indica que o destino final seja os Estados Unidos”, afirmou o delegado Lucas Vilela, que coordenou as operações da semana passada.
Depois da Europa, os Estados Unidos são o mercado consumidor com o maior valor da droga. Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, o continente europeu e a América do Norte são os maiores consumidores de cocaína, seguidos pela América do Sul, Central e Caribe.
A droga era adquirida de narcotraficantes de cartéis colombianos. Segundo registros da PF, a aeronave saía de Mato Grosso ou de Tocantins com destino à Venezuela, de lá era carregada e seguia para o destino final.
Na volta, os pilotos não retornavam pela aeronave, e sim em voos comerciais. Foram nessas viagens que a polícia identificou o ingresso por Honduras e pela Guatemala.
“Os pilotos saíam clandestinamente do país, aparentemente com avião, e retornavam por voos comerciais vindo justamente de países da América Central. E, sem dúvida, que a aeronave saía do país carregada e, possivelmente, ou ela era destruída ou ela era utilizada para o transporte da droga para outros locais”, explicou o delegado.
CHEFE ERA EX-PILOTO
O chefe deste grupo, segundo as investigações, era um ex-piloto que atuou para outros traficantes de drogas. Ele tinha relações com Mato Grosso do Sul para fazer a lavagem de dinheiro, mas era natural do interior de Goiás, onde foi preso na ação.
De acordo com Vilela, a cabeça por trás dos envios para o exterior atuava com a logística dessa operação, como a contratação de pilotos que pudessem levar as drogas para outros países e a obtenção de aeronaves para o transporte.
“Ele teria sido piloto de grandes trafegantes no passado. Já tem uma certa vivência nesse mundo, só que agora, a especialidade dele, na verdade, era meio que um chefe de logística. Ele tinha contato direto com fornecedores de drogas colombianos, e o trabalho dele era recrutar outros pilotos e adquirir aeronaves, geralmente do modelo King Air e aí ele fazia algumas modificações nessa aeronave, para que ela fosse apta a realizar voos por mais de 30 horas. [Ele também] providenciava a pista de pouso para abastecimento”, contou o delegado.
O ex-piloto foi preso em Minaçu, sua cidade natal, para onde teria retornado após ter sido preso na Bahia, com documentos falsos, em uma tentativa de fugir de mandado de prisão.
Em novembro do ano passado, a Polícia Federal apreendeu um avião que transportava com 450kg de cocaína em Minaçu (GO). Na ocasião quadro pessoas foram presas. Investigação mostrou que a aeronave teria saído da Bolívia e pousado em uma pista clandestina do município.
"A operação Sórdidum começou a partir da identificação de um grupo na região de Ponta Porã que vinha movimentando valores de forma desproporcional por meio de empresas de fachada", Lucas Vilela, delegado da PF.
OUTROS TRAFICANTES
A PF identificou por meio de sua inteligência que o chefe desta quadrilha já teria atuado como piloto para outros traficantes de drogas conhecidos.
“A gente tem fontes de inteligência que mencionam aí o envolvimento dele com grandes traficantes. Em ligações e mensagens trocadas com familiares, ele menciona alguns traficantes famosos do Paraguai, com os quais ele tinha contato, que eram pessoas perigosas, e menciona que já esteve preso com essas pessoas, que ele tinha contato, o que indica que ele já estava envolvido nisso, já conhecia as pessoas há muito tempo”, contou Vilela.
Entre esses nomes, um dele é bem conhecido de Mato Grosso do Sul, Jarvis Chimenes Pavão, paraguaio conhecido como “ Barão das drogas” e que já teve associação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Conforme troca de mensagens do investigado, um dos irmãos dele teria adquirido uma propriedade rural no estado de Mato Grosso, que estava em litígio e um dos proprietários dela seria Pavão.
Em conversa com um terceiro irmão, o traficante teria aconselhado a não bater de frente com o narcotraticante paraguaio, por ser perigoso.
“Esse pessoal aí é perigoso, não pode mexer com ele, manda matar por nada. Eu já estive com ele lá no presídio em Assunção”, teria dito. Pavão ficou preso em Assunção até 2017, onde cumpriu pena de 8 anos.