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CAMPO GRANDE

Sem pivôs de escândalo, licitação tem deságio de 30% na Capital

Com um valor máximo de R$ 40,3 milhões divididos em sete lotes, a manutenção de ruas e estradas sem asfalto previstas no edital deve ser encerrado por um total de R$ 28,1 milhões

21 AGO 2024 • POR Felipe Machado • 10h45
Anhanduizinho é a região mais populosa da capital e está na licitação lançada   Foto: Edemir Rodrigues

A licitação para manutenção de pavimentos de ruas e estradas de sete regiões de Campo Grande, aberta na segunda-feira (19), teve desconto total de 30%, com valor máximo de R$ 40,3 milhões quando saiu o edital e, através de pregão eletrônico, este total foi reduzido para R$ 28,1 milhões. 

Segundo consta nas sessões de cada lote, as empresas AL dos Santos, Engenex e MS Brasil, de André Luiz dos Santos, mais conhecido como "André Patrola", e Edcarlos Jesus Silva, alvos da operação Cascalho de Areia, deflagrada ano passado, ficaram de fora das licitações, mesmo estando aptas a participar.

Atualmente, três regiões das sete regiões presentes no edital estão sob controle dessas empresas, sendo elas Imbirussu, Lagoa e Prosa (lotes 3, 4 e 5 na licitação lançada essa semana). Elas estavam nas mãos desses empresários pelos valores de R$ 2,91 milhões, R$ 4,3 milhões e R$ 5,18 milhões, respectivamente. 

Os valores máximos que o executivo estava disposto a pagar, o negociado (apenas esperando aprovação de documentação) e as empresas que serão responsáveis por cada região a partir de agora são:

Lote 1 (Anhanduizinho)

Valor Máx.: R$ 8.183.224,95 Valor negociado: R$ 5.253.999,71 (Santa Cruz Construcoes e Terraplenagem Ltda)

Lote 2 (Bandeira)

Valor Máx.: R$ 6.117.371,88 Valor negociado: R$ 4.298.324,78 (Santa Cruz Construcoes e Terraplenagem Ltda)

Lote 3 (Imbirussu) - Valor atual: R$ 2,91 milhões (Engenex, de Edcarlos Jesus)

Valor Máx.: R$ 4.123.900,06 Valor negociado:  R$ 2.960.599,78 (VIA77 Construtora Ltda)

Lote 4 (Lagoa) - Valor atual: R$ 4,3 milhões (Engenex, de Edcarlos Jesus)

Valor Máx.: R$ 5.390.371,61 Valor negociado: R$ 4.039.820,56 (Gradual Engenharia e Consultoria Eireli)

Lote 5 (Prosa) - Valor atual: R$ 5,18 milhões (sob os cuidados de André Patrola)

Valor Máx.: R$ 7.410.470,14 Valor negociado: R$ 5.186.999,85 (Isocon Engenharia Ltda)

Lote 6 (Segredo)

Valor Máx.: R$ 3.907.599,69 Valor negociado: R$ 2.805.678,37 (Construtora Jlc Ltda)

Lote 7 (Anhanduí)

Valor Máx.: R$ 5.245.823,42 Valor negociado: R$ 3.565.132,86 (Isocon Engenharia Ltda)

Caso os valores negociados acima sejam confirmados, o deságio chega aos 30,38%, ou seja, inicialmente previsto em R$ 40.378.761,75 e agora em R$ 28.110.555,91. Neste momento, como citado antes, todos os "leilões" estão suspensos para verificação das documentações das empresas que enviaram as propostas.

Fora desse, dentro de outro

Mesmo não estando presente nesta licitação dos pavimentos, uma das empresas deflagradas na Operação Cascalhos de Areia conseguiu outro contrato, em fevereiro, para o aluguel de máquinas e caminhões. A prefeitura já realizou nova licitação depois da eclosão do escândalo e boa parte dos lotes permaneceu nas mãos dos principais alvos da operação. 

Quase dois meses depois de vencer licitação e assinar um novo contrato, de R$ 13,4 milhões anuais, para locação de máquinas para a prefeitura de Campo Grande, a empresa MS Brasil Comércio e Serviços, oficialmente pertencente a Edcarlos, garantiu outro acordo milionário, mas desta vez sem licitação, e vai faturar cerca de R$ 4,6 milhões por ano. 

Operação

A operação Cascalhos de Areia, do Ministério Público Estadual, foi desencadeada depois de denúncias de servidores municipais indicando que as empresas recebiam os pagamentos mesmo sem fazerem a manutenção das ruas sem asfalto. 

Além disso, as denúncias apontavam que as mesmas empresas também recebiam pela locação de máquinas que nem mesmo tinham. E, como a investigação não evoluiu até agora, as empresas seguem aptas a participarem de novas licitações.

Oficialmente,  as empresas Engenex e MS Brasil pertencem a Edcarlos Jesus, mas os investigadores do MPE suspeitam que o verdadeiro proprietário seja André Luis dos Santos, o André Patrola.

Além de supostamente ser "laranja" de André Patrola, Edcarlos é genro de Adir Paulino Fernandes, 66 anos, um vendedor de queijos que por sua vez era proprietário de uma série de empresas que também tinham contratos milionários com a prefeitura de Campo Grande e nos últimos anos faturou mais de R$ 220 milhões em prestação de serviços.

Mas, ao contrário do genro, o queijeiro que nem mesmo abria que era um rico empreiteiro parou de firmar contratos com o poder público depois de ter sido preso por posse de arma irregular em junho do ano passado.

*Colaborou Neri Kaspary

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