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CASO MARCEL COLOMBO

Milícia dos Name tinha braço nos três poderes, diz policial

Quatro testemunhas foram ouvidas no primeiro dia do julgamento sobre a execução do "Playboy da Mansão", que deve seguir até esta quinta-feira (19)

17 SET 2024 • POR Judson Marinho • 09h30
O réu Marcelo Rios, duTrante o julgamento pela morte de Marcel Colombo, na tarde desta segunda   Foto: Gerson Oliveira

Segundo o ex-investigador da Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros (Garras) Jean Carlos, “a milícia dos Name tinha braço nos Três Poderes”.

A fala foi proferida durante júri popular que teve início ontem e que levou ao tribunal quatro réus acusados de envolvimento com a execução de Marcel Colombo, o Playboy da Mansão.

Durante o julgamento nesta segunda-feira, no período da tarde, Jean Carlos, o qual foi ouvido como testemunha do processo, informou que durante a realização da Operação Ormetá Marcelo Rios – um dos réus – disse ao investigador que o seu patrão, Jamil Name, estava envolvido em diversos homicídios em Campo Grande.

Nessa conversa entre Jean Carlos e Rios, o ex-guarda municipal teria informado que Jamil Name Filho, o Jamilzinho, mandou matar Colombo por conta de um desentendimento entre os dois em uma boate na Capital.

Jamil Name Filho e Marcel Colombo tiveram uma discussão em uma boate em Campo Grande, e depois dessa briga que eles tiveram o Jamilzinho teria ficado obcecado para tirar a vida do Marcel”, declarou Jean Carlos no julgamento, citando os dizeres de Rios para ele no decorrer da investigação da Operação Omertá.

O investigador também declarou em depoimento que Rios disse a ele que Guri (termo que usava para se referir a Jamilzinho) o entregou R$ 50 mil para matar o Playboy da Mansão no período em que Colombo estava preso, ficando assim livre de qualquer suspeita, porque a vítima morreria dentro do sistema prisional.

“Esse crime não aconteceu na prisão, ocorreu que Marcel Colombo acabou sendo beneficiado por um alvará de soltura e saiu do sistema penal, e por isso o Jamilzinho começou a cobrar mais o Marcelo Rios para que ele terminasse de cumprir o plano que ele tinha de matar o Marcel Colombo. E se não o matou lá [no presídio], ele tinha que se virar para matar na rua”, disse Jean Carlos.

A execução do Playboy da Mansão ocorreu quando a vítima e mais dois amigos estavam sentados à mesa de um bar quando, por volta da meia-noite de 18 de outubro de 2018, um homem chegou ao local de moto, estacionou atrás do carro da vítima e, ainda usando capacete, se aproximou pelas costas e atirou.

A vítima morreu no local e um jovem de 18 anos foi atingido no joelho. De acordo com a investigação do caso, feita pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS), José Moreira Freires, Marcelo Rios e o policial federal Everaldo Monteiro de Assis (ambos réus no julgamento) foram os intermediários do crime, sendo encarregados de levantar informações sobre a vítima. Ainda, o foragido Juanil Miranda teria sido o executor dos disparos.

A defesa de Rios, durante o julgamento, indagou Jean Carlos sobre o registro dessas conversas com o réu no Garras, alegando que essas falas proferidas em julgamento não estão formalizadas no relatório do investigador. Jean Carlos informou que nem todas as conversas informais registradas em 56 páginas do relatório estão contidas nele, porém, essas afirmações de Rios foram de fato ditas a ele.

A BRIGA

Segundo Marcelo Oliveira Provenzi, testemunha de defesa ouvida no Tribunal do Júri,  o desentendimento entre Jamilzinho e Playboy da Mansão começou quando o Colombo pegou com a mão cubos de gelo da mesa em que Jamilzinho estava sentado, em uma boate em Campo Grande.

“Marcel passou uma e duas vezes mexendo no balde de gelo, e Jamilzinho disse [‘por que você está metendo a mão no meu balde de gelo?’], e assim começou uma confusão”, declarou Provenzi ao júri.

BILHETE

Acostumado a interrogatórios e depoimentos, o delegado Tiago Macedo dos Santos foi aos prantos, na manhã de ontem, ao falar como testemunha do julgamento sobre um bilhete elaborado por um interno da Penitenciária Federal de Mossoró (RN), em que informava que a família Name estaria tramando sua morte e a de outros integrantes da força-tarefa da Omertà.

O bilhete foi escrito em um pedaço de papel higiênico por um detento que acompanhava conversas entre Jamil Name – que morreu em 2021 no presídio de Mossoró antes mesmo de ser julgado –, seu filho, Jamilzinho, e outros integrantes da suposta milícia de extermínio que estavam presos naquele complexo prisional.

No bilhete desse interno, cuja identidade foi preservada durante o júri, mas que veio a público durante as investigações, constava a informação de que, além de Santos, havia um plano para executar o delegado Fábio Peró e seus familiares, o qual comandou as operações que resultaram na prisão e nas condenações da milícia. Nesse bilhete, segundo o depoimento, também constava o nome de um promotor.

No período da tarde, prestou depoimento como testemunha o delegado João Paulo Sartóri, que também foi questionado com relação aos supostos bilhetes.

“Esse bilhete foi apreendido pela Penitenciária Federal de Mossoró e, entre os fatos, constava ameaças [a membros] que atuam na investigação: promotores e defensores públicos. Também foi mencionada a arma que teria executado Marcel, a qual teria sido ocultada por Antunes”, disse Sartóri.

Ainda conforme o relatado pelo delegado, o teor do bilhete indicava que Rios deveria assumir toda a culpa do crime contra a vida do Playboy da Mansão. E reforçou que, pelas circunstâncias em que foi apreendido o bilhete, não havia dúvidas sobre a sua origem. (Colaborou Naiara Camargo)

Saiba

Ao contrário do julgamento da morte de Matheus Teixeira, em que o plenário nos dias do julgamento estava lotado, no primeiro dia do caso Playboy da Mansão havia poucas pessoas acompanhando a fala das testemunhas no Tribunal  do Júri de Campo Grande.

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