Após decreto de Lula que regulamenta o uso da força policial no Brasil, deputado bolsonarista afirma que vai entrar com um projeto de decreto legislativo para que policiais não tenham que fazer "carinho em bandido"
O deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS), por meio de suas redes sociais, informou que, quando o Congresso Nacional retornar às atividades legislativas em 2025, irá apresentar um projeto de decreto legislativo (PDL) para derrubar o decreto presidencial que, entre outras coisas, regulamenta o uso da força pelos agentes de segurança pública.
No dia 24 de dezembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto nº 12.341, apresentado pelo Ministério da Justiça, que trata do uso da força, armas de fogo e itens de menor potencial letal durante a abordagem de agentes de segurança em todo o país.
No Instagram, o deputado, que ficou popularmente conhecido como Gordinho do Bolsonaro, afirmou que o presidente Lula esperou o recesso parlamentar para, na véspera do Natal, conceder o que ele chamou de “liberdade para os bandidos”.
“O decreto assinado por Lula é um ataque direto à segurança pública e à autonomia das forças policiais que trabalham para proteger a sociedade. Ao limitar a atuação policial, o governo federal coloca em risco a vida de milhões de brasileiros, favorecendo, na prática, a criminalidade. Por isso, estou apresentando um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) para sustar essa normativa absurda, que vai na contramão do combate ao crime e da proteção dos cidadãos de bem. Assim que for reaberto o protocolo da Câmara – em fevereiro – apresentarei este PDL. Não permitiremos que esse governo continue enfraquecendo nossas polícias e colocando a bandidagem em posição de vantagem.”, disse o parlamentar.
A regulamentação ocorreu após diversos episódios de abuso policial nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro e em outras localidades. Isso se deu em meio a um embate com governadores acerca do uso da câmera corporal pelos agentes de segurança pública.
Reações
O decreto gerou contrariedade na classe política entre os governadores, como Ibaneis Rocha (MDB) do Distrito Federal, que classificou a medida como “interferência”.
Já o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), anunciou no mesmo dia que irá procurar o Supremo Tribunal Federal (STF) para recorrer ao decreto do Ministério da Justiça.
Outro que se manifestou contrário ao decreto foi o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que chamou a medida de inconstitucional.
Decreto
O decreto foi publicado no mesmo dia em que Juliana Leite Rangel foi baleada na cabeça por um tiro de fuzil durante uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal no Rio de Janeiro.
A jovem de 26 anos seguia de carro na companhia de familiares a caminho da casa de parentes em Belfort Roxo quando o veículo foi alvejado.
Segundo a CBN do Rio de Janeiro, em depoimento, a equipe da PRF que participou da ação admitiu ter confundido o carro da família com outro veículo que havia disparado contra outra patrulha da PRF instantes antes na rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias.
Os agentes teriam dito que perceberam apenas depois o "grave equívoco".
Entenda do que trata o decreto
- Uso da força: O decreto estabelece que a força deve ser empregada de forma progressiva. Assim como o uso de armas de fogo deve ocorrer apenas como “último recurso”.
- Proibições: Está terminantemente proibido o uso de arma de fogo contra pessoas desarmadas em fuga de veículos ou que não respeitem bloqueios policiais. A única exceção são situações que representem risco à vida dos policiais ou populares.
- Discriminação: Os policiais não podem discriminar pessoas com base em cor, raça, etnia, orientação sexual, religião ou quaisquer características pessoais. Desse modo, todos os cidadãos devem ser tratados com dignidade e respeito.
- Informes: Fica expresso que sempre que a operação resultar em óbitos ou feridos no uso da força policial deverá ser feito um relatório detalhando informações sobre o incidente.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) ficou incumbido de capacitar os agentes de segurança pública acerca do uso adequado da força. Para monitorar a evolução será criado o Comitê Nacional de Monitoramento do Uso da Força para fiscalizar a atuação dos policiais.
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