Política

INQUÉRITO

Tenente Portela foi o 'embaixador' da tentativa de golpe em MS, revela PF

No fim de 2022, ele era um frequentador assíduo do Palácio da Alvorada, visitando constantemente o então presidente

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Relatório da Polícia Federal (PF), divulgado ontem, após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirar o sigilo, revelou, depois das análises dos telefones celulares apreendidos, que o presidente do PL em Mato Grosso do Sul, Aparecido Andrade Portela, mais conhecido como Tenente Portela, primeiro-suplente da senadora Tereza Cristina (PP), atuou como um intermediário entre o governo do então presidente da República Jair Messias Bolsonaro (PL) e os “financiadores” das manifestações antidemocráticas residentes em Mato Grosso do Sul. 

Segundo a PF, no fim de 2022, Tenente Portela era um frequentador assíduo do Palácio da Alvorada, visitando o então presidente constantemente. No dia 26 de dezembro de 2022, em diálogo pelo aplicativo WhatsApp entre Portela e o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, então ordenança de Bolsonaro, ambos tratavam da concretização do golpe de Estado.

“Mauro Cid é cobrado pelo Tenente Portel sobre a ‘realização de um churrasco’. Diz: ‘O pessoal q colaborou com a carne, estão me cobrando se vai ser feito mesmo o churrasco’. ‘Pois estão colocando em dúvida, a minha solicitação’.

A contextualização da mensagem com os demais elementos de prova indica que Portela utilizou o codinome ‘churrasco’ para se referenciar ao golpe de Estado.

Nesse sentido, o investigado repassa a Mauro Cid que, possivelmente, pessoas que financiaram os atos antidemocráticos com a ‘colaboração da carne’ estariam cobrando a consumação do ato de ruptura institucional pelo presidente Jair Bolsonaro”, trouxe o relatório da PF.

Dando esperança

Em resposta ao Tenente Portela, Mauro Cid disse o seguinte: “Vai sim. Ponto de honra. Nada está acabado ainda da nossa parte”. Ou seja, conforme a PF, Mauro Cid estava alimentando a esperança do suplente de senador de que ainda era possível o golpe de Estado. 

A sequência do diálogo reforça que estavam tratando da possibilidade de uma ruptura institucional. “Mauro Cid ainda se oferece para intermediar uma possível solução ‘se quiser eu falo com eles...para tirar da sua conta’.

Tenente Portela responde: ‘Se eles vier aqui em casa, eu ligo, por viva vós (sic) p o sr.’ E completa: ‘Vamos vencer de alguma forma’”.

Ainda no relatório, a PF contextualizou que Tenente Portela era amigo próximo de Bolsonaro desde o período em que ambos serviram na cidade de Nioaque, na década de 1970. 

“Conforme notícias veiculadas em fontes abertas, Tenente Portela, como é conhecido, foi indicado pelo ex-presidente para ser suplente da senadora Tereza Cristina. De acordo com os registros de entrada e saída de pessoas no Palácio da Alvorada (Ofício n° 38/2023/GAB/GSI), o investigado Tenente Portela realizou ao menos 13 visitas no mês de dezembro de 2022 ao então presidente Jair Bolsonaro, o que evidencia a proximidade de ambos”, reforçou.

É nesse contexto que a PF identificou os diálogos entre Tenente Portela e o então ajudante de ordens e atual colaborador Mauro Cid, fazendo com que a conversa ganhasse relevância para a investigação. 

“Considerando que o Tenente Portela possui residência em Campo Grande-MS, onde é suplente de senador, a cobrança do mesmo a Mauro Cid no dia 26/12/2022, apenas 2 dias após estar junto ao então presidente no Palácio da Alvorada, para que ‘ocorra um churrasco’ e que, segundo ele, pessoas que teriam ‘contribuído com a carne’ o estariam cobrando, revela que ambos tinham objetivos em comum”. 

Os diálogos, realizados por meio de mensagens cifradas, técnica comum no meio militar, demonstram que os interlocutores ainda tinham a esperança de concretizar o plano que estava em ação desde o fim do segundo turno das eleições presidenciais de 2022.

“Ao ser cobrado por uma ação mais contundente do então presidente Jair Bolsonaro (‘realização de um churrasco’), Mauro Cid tenta manter o ânimo do aliado, ao dizer que ainda tem esperança de que seja desencadeada alguma ação: ‘Nada ainda está acabado de nossa parte’”.

Intento golpista

No relatório, fica evidenciado o intento golpista dos diálogos no dia 29 de dezembro de 2022, quando Tenente Portela volta a enviar mensagens para Mauro Cid pelo aplicativo WhatsApp, questionando: “Alguma esperança ainda?. Ou podemos aceitar a derrota?”.

É então que Mauro Cid responde: “zero...”. No dia seguinte, 30 de dezembro de 2022, Tenente Portela envia uma mensagem, mas a apaga, porém, mais tarde, no mesmo dia, tenta realizar uma chamada de voz para Mauro Cid, mas ele responde que estaria em voo – nesse horário Mauro Cid estaria voando para os Estados Unidos da América no avião presidencial.

*Saiba

“Churrasco” era código para golpe de Estado

No relatório, a Polícia Federal apontou que, na contextualização da troca de mensagens entre Tenente Portela e Mauro Cid com os demais elementos de prova, o suplente de senador utilizou o codinome “churrasco” para se referenciar a golpe de Estado. “O pessoal que colaborou com a carne, estão me cobrando se vai ser feito mesmo o churrasco”, escreveu Portela para Cid.

Já no dia 9 de janeiro de 2023, evidenciando preocupação após a tentativa de golpe de Estado no dia anterior, na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF), Tenente Portela envia a Mauro Cid diversas mensagens de usuários da rede social X, que estariam reconhecendo pessoas de Mato Grosso do Sul que teriam participado dos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro de 2023.

“Pessoal está em cima de mim aqui, infelizmente vou ter que devolver a parte desse pessoal, minha vida está um inferno”, disse o suplente de senador, acrescentando ainda que tentaria pagar os valores de forma parcelada, mas que não teria cargo nenhum e que tentou pegar um empréstimo consignado, mas não teria margem suficiente.

Mauro Cid então informa que enviou a resposta no aplicativo Signal, o que indica o cuidado que ambos teriam para não serem descobertos.

“Diante dos diálogos identificados, restou claro que o investigado Tenente Portela atuou de forma direta na solicitação e arrecadação de recursos financeiros entre apoiadores do plano de ruptura do Estado Democrático de Direito. Verificou-se também que os investigados tinham confiança de que os atos antidemocráticos ocorridos no 8/1/2023 desencadeariam ações concretas das Forças Armadas para executar um golpe de Estado”, trouxe o relatório da PF.

Temor

Ainda de acordo com o documento, além de arrecadar recursos e sugerir linhas de ação, Tenente Portela também apresentava a preocupação de que pudesse ser identificado por outros usuários de redes sociais como um organizador dos atos criminosos ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023. 

“A preocupação dele com as denúncias com relação aos ataques de 8 de janeiro fica clara quando envia mensagens com prints para Mauro Cid. As mensagens partiram do perfil @camilajarams, da candidata a deputada federal Camila Jara (eleita) no X (Twitter).

Ela buscava informações sobre ‘golpistas’ e pedia para que enviassem dados por mensagem direta”, relatou a PF.

Já no dia 12 de janeiro de 2023, em função da resposta eloquente dada pelas instituições para combater os atos antidemocráticos, o investigado passa a se desesperar, no sentido de que teria de ‘‘devolver a parte desse pessoal’’. 

“Os diálogos demonstram a atuação do mesmo [Tenente Portela] como agente intermediário de arrecadação e financiamento de ações antidemocráticas que resultaram no episódio do 8/1/2023.

Assim, tem-se que a gravidade das condutas identificadas em relação ao investigado Aparecido Portela (Tenente Portela) são relevantes do ponto de vista penal, uma vez que atuou como elo de financiamento entre apoiadores da causa golpistas e os interesses do núcleo mais próximo do então presidente Jair Bolsonaro.

A extração pericial, formalizada no Laudo nº 1522/2023, do telefone celular apreendido em poder de Jair Messias Bolsonaro, identificou trocas de mensagens, por meio do aplicativo WhatsApp, entre Aparecido Portela e o ex-presidente, evidenciando uma relação subjetiva entre ambos”.

A reportagem tentou contato com Tenente Portela, mas, até o fechamento desta edição, não obteve sucesso. O espaço continua aberto para posterior declaração do presidente estadual do PL.

 

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Política

Alckmin diz que é cedo para falar sobre eleições de 2026 e defende debate sobre escala 6x1

Alckmin é cotado para seguir como vice de Lula em 2026, mas seu nome começou a aparecer bem posicionado em pesquisas de intenção de voto para o Palácio dos Bandeirantes

19/12/2025 19h00

Vice-presidente, Geraldo Alckmin

Vice-presidente, Geraldo Alckmin Crédito: Fábio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil

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O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou a jornalistas nesta sexta-feira, 19, que ainda é cedo para falar sobre as eleições de 2026 e não deu pistas sobre seus planos políticos. "Esse é um tema para o próximo ano. Está chegando", disse. Indagando se tem conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o assunto, ele se limitou a responder: "É cedo ainda".

Alckmin é cotado para seguir como vice de Lula em 2026, mas seu nome começou a aparecer bem posicionado em pesquisas de intenção de voto para o Palácio dos Bandeirantes.

Escala 6x1

Sobre a proposta do fim da jornada de seis dias de trabalho e um de folga, a escala 6x1, muito criticada pela indústria, Alckmin disse que há uma tendência no mundo inteiro de redução de jornada. "Se eu consigo fazer mais, mais produtos, aumentar a produção, com menos gente, utilizando robô, inteligência artificial, digitalização, é natural. No mundo inteiro, a tendência é de redução de jornada de trabalho", sustentou.

"Se você faz isso para todos, ou vai fazendo por setores mais avançados da economia, essa é uma discussão que cabe ao Parlamento e à sociedade fazê-la. Mas é uma tendência mundial hoje, redução de jornada de trabalho", completou.

ReData

Alckmin ainda fez algumas ponderações sobre o Regime Especial de Tributação para Serviços de Datacenter (ReData), alegando que a medida provisória (MP) que o instituiu não foi votada. "Porque esperava-se votar junto com o PL da Inteligência Artificial. Como não aprovou, ficou para o começo do ano. Mas esperamos que aprove, se possível, em fevereiro." Ele disse que o Redata vai trazer muito data center e investimentos de altíssimo valor para o Brasil.

 

Política

Justiça revoga tornozeleira de ex-vereador Cláudinho Serra, mas mantém restrições

Em decisão sobre a Operação Tromper, juiz de Sidrolândia nega pedido de pernoite em fazenda para Serra, citando gravidade dos crimes, mas autoriza deslocamentos diurnos para trabalho

19/12/2025 13h50

Vereador afastado após ser acusado de corrupção, Claudinho Serra (PSDB), lê a Bíblia Sagrada durante sessão da Câmara

Vereador afastado após ser acusado de corrupção, Claudinho Serra (PSDB), lê a Bíblia Sagrada durante sessão da Câmara Divulgação

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O juiz Bruce Henrique dos Santos Bueno Silva, da Vara Criminal de Sidrolândia, revogou o monitoramento por tornozeleira eletrônica do ex-vereador Cláudio Jordão de Almeida Serra Filho, o "Claudinho Serra” (PSDB) e de Cleiton Nonato Correia, proprietária da GC Obras, e Carmo Name Júnior, todos investigados no âmbito da Operação Tromper por crimes de fraude em licitações, corrupção e lavagem de dinheiro.

Apesar da retirada do equipamento, o magistrado manteve uma série de outras medidas cautelares, como o recolhimento domiciliar noturno e a proibição de frequentar bares, e negou pedidos mais amplos de flexibilização, citando a gravidade das acusações e o risco à ordem pública. A decisão também revelou que a Fazenda Divisa, de propriedade de Serra, foi identificada nas investigações como um "possível local de ocultação de valores ilícitos".

A decisão analisou pedidos individuais de Cláudinho e Cleiton Correia, que buscavam adequar as medidas cautelares às suas rotinas profissionais e pessoais.

O ex-vereador e ex-secretário de finanças de Sidrolândia solicitou autorização para pernoitar por até oito dias em sua Fazenda Divisa, em Anastácio, alegando que o deslocamento diário de mais de cinco horas a partir de sua residência em Campo Grande seria inviável. Ele argumentou que a medida era apenas uma adequação à sua atividade laboral.

Já Cleiton Correa fez dois pedidos: a extensão do horário de recolhimento noturno até as 22h30 para participar de cultos religiosos e a autorização para viajar e pernoitar em São Gabriel do Oeste, onde sua empresa, a GC Obras de Pavimentação Asfáltica, possui contratos ativos.

O Ministério Público Estadual se manifestou contra todos os pedidos, argumentando que as flexibilizações comprometeriam o controle judicial e que a fazenda de Serra era um local suspeito na investigação.

O juiz indeferiu o pedido de pernoite, concordando com o MPMS de que a fazenda é um ponto sensível da investigação. Ele destacou que a administração de um empreendimento agropecuário pode ser “feita por prepostos” e que a conveniência pessoal do réu não pode se sobrepor à necessidade de vigilância rigorosa em um caso de "elevada gravidade e repercussão".

No entanto, o juiz autorizou Serra a se deslocar diariamente para a fazenda, desde que retorne à sua residência em Campo Grande até as 22h30 para cumprir o recolhimento noturno.
Para Cleiton Correia, o pedido foi acolhido parcialmente. O juiz estendeu o horário de recolhimento para as 22h30, reconhecendo o direito fundamental à liberdade religiosa e considerando que a ampliação de 30 minutos era "mínima" e não comprometeria a fiscalização.

O deslocamento para São Gabriel do Oeste foi autorizado apenas durante o dia, sendo vedado o pernoite fora da comarca. O juiz ponderou o direito ao trabalho com o risco de fuga, dada a proximidade de MS com fronteiras internacionais.

A surpresa da decisão foi a revogação, de ofício, do monitoramento eletrônico para Serra, Correia e Carmo Name Júnior, assessor de Claudinho. O juiz argumentou que, com as flexibilizações de deslocamento entre municípios, a fiscalização via tornozeleira se torna "de execução operacional complexa", especialmente em áreas rurais.

"A imposição da monitoração em tais moldes, longe de assegurar o fim cautelar pretendido, pode gerar tumulto processual, mediante instauração de incidentes indevidos por alegado ou suposto descumprimento", afirmou o magistrado.

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