A inteligência artificial (IA) tem mudado significativamente a forma como o trabalho é realizado. Tarefas repetitivas, antes executadas por pessoas, estão sendo automatizadas.
Essa automatização começou na indústria nos anos 1970 e trouxe muitas incertezas à época, mas mostrou-se um impulsionador na melhoria da qualidade dos empregos, exigindo, principalmente, mais qualificação dos profissionais. Com a inteligência artificial, esse processo agora alcança os escritórios, como os de contabilidade, por exemplo.
Isso significa o fim dos empregos como os conhecemos hoje em dia? Nas revoluções industriais, vimos substituições de funções por novas. Não é diferente agora. Ainda passaremos por trocas significativas nas profissões e, embora não seja possível prever exatamente quais serão, sabemos que as atividades que envolvem tarefas repetitivas ou análise de grandes volumes de dados serão as primeiras a serem afetadas.
Um artigo de 2015 do jornal MailOnline do Reino Unido, intitulado “Will your job be stolen by a robot?”, afirmou na época que havia uma chance de 93,5% de contadores e auditores serem substituídos pela automação, por meio da inteligência artificial. Em 2019, a consultoria McKinsey assegurou que haveria apenas uma redução no trabalho repetitivo, deixando as atividades mais nobres da contabilidade para os seres humanos.
Seguindo a mesma linha estão as “Big Four”. As quatro grandes empresas de contabilidade estão investindo pesadamente em inteligência artificial, porque acreditam que a tecnologia não substituirá os contadores, mas aumentará sua eficiência.
Ao longo dos anos, a percepção caótica da quase extinção da profissão contábil evoluiu para o aprimoramento, aumento da eficiência e melhoria significativa da qualidade, com o uso da inteligência artificial e outras tecnologias. Nesse sentido, é possível dizer que, assim como aconteceu com a indústria, a automação nos escritórios trará novas oportunidades de crescimento para os profissionais e não a sua extinção total.
Os contadores, assim como em várias outras profissões, precisam conhecer as tecnologias disponíveis em sua área de atuação, incluindo a inteligência artificial, os algoritmos de ciência de dados, a computação em nuvem e ferramentas de visualização, entre outras disponíveis no mercado, porque o aprendizado deve ser contínuo. Por outro lado, é preciso levar em conta até onde é possível ir com o uso dessas tecnologias.
A inteligência artificial pode trazer alguns riscos se não utilizada de forma adequada. A inclusão de dados incorretos, por exemplo, gerará relatórios com informações distorcidas, podendo acarretar, inclusive, prejuízos para a organização. Por isso, é importante que as instituições estejam atentas à qualidade das informações que utilizam para alimentar essas ferramentas. Outro cuidado que também deve ser observado é o nível de segurança dos dados que serão manipulados pela IA, uma vez que o contador poderá utilizá-la em seus relatórios.
Garantir a segurança e privacidade dos dados é essencial. Apenas pessoas autorizadas podem acessá-los e manuseá-los. Também é fundamental que haja supervisão do contador para analisar os resultados gerados, contextualizar ao cenário aplicado e tomar decisões embasadas em algo que seja confiável.
Sabemos que o uso dessas tecnologias é um caminho sem volta. Mas, mesmo diante das transformações impulsionadas por essa evolução, outro ponto torna-se um requisito extremamente mais importante: aprimorar habilidades interpessoais. Isso inclui ter ética, resiliência, inteligência emocional, capacidade de escuta ativa e boa comunicação. Além disso, o contador tem um papel analítico e estratégico que nunca deve ser subestimado. As chamadas “soft skills” não podem ser substituídas, pelo menos por enquanto. E isso não pode ser descartado.