Chega a ser intrigante – e não dá mais para aceitar – os incêndios na Serra do Amolar. Décadas atrás, quando o Pantanal tinha o ciclo natural de cheias e vazantes, não se viam incêndios como os que vêm ocorrendo nos últimos anos. Quando digo intrigante, é porque a vegetação desse ecossistema era bem mais densa e compacta. Os criadores de gado tinham cuidados especiais com os aceramentos, que impediam os incêndios de se propagarem para as propriedades vizinhas.
Ao que se sabe, antigos criadores ou seus sucessores venderam suas propriedades a pessoas de outros estados, e até mesmo de outros países, sem qualquer compromisso com a preservação da natureza desse verdadeiro paraíso – um patrimônio universal que hoje corre sério risco de desaparecer, se não forem tomadas providências enérgicas que possam coibir os incêndios criminosos que têm açoitado a maior planície alagada do planeta Terra.
Algumas medidas paliativas já foram tomadas pelo atual governador do nosso estado, porém, com a extensão que tem, são necessários recursos externos capazes de conter as tragédias que se tornaram acontecimentos recorrentes, embora de grande repercussão no País e no mundo. Urge que medidas para proteger esse patrimônio universal sejam encaradas com rigor, envolvendo os municípios que integram o Pantanal, bem como o governo estadual e os nossos representantes na Câmara dos Deputados e no Senado da República.
A comunidade pantaneira que vive e trabalha nesse ecossistema hoje se sente desprotegida. Muitos já se desfizeram de suas pequenas propriedades, transferindo-se para as cidades em busca de um meio de sobrevivência – em um estágio da vida de difícil adaptação a qualquer outra atividade –, enfrentando barreiras intransponíveis pela idade avançada, pela falta de moradias e de estruturas necessárias às acomodações dessas famílias, o que se tornou um grave problema social.
Apesar dos últimos graves acontecimentos, não se ouve falar em punição dos culpados, que parecem desafiar as leis existentes no País. Muitos encontros para debater os problemas do meio ambiente têm sido realizados, tanto no Brasil quanto em outros países. Contudo, ainda não se veem medidas concretas, ficando tudo apenas na retórica, com a impressão de que todos ficam na expectativa de quem vai atirar a primeira pedra – até que outra tragédia venha a acontecer.
O espírito de estadista deve incorporar nossos gestores públicos, porque a população ordeira aguarda ansiosamente as medidas urgentes e necessárias para salvar o nosso Pantanal, dando condições de desenvolvimento e sustentabilidade. Alguém tem que dar o murro na mesa e comprar essa briga.




