Artigos e Opinião

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Octavio Luiz Franco: "A sensibilidade canina"

Coordenador do S-Inova Biotech, professor do programa de Pós-graduação em Biotecnologia - UCDB

Redação

21/01/2016 - 00h00
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Muitas pessoas no mundo inteiro têm cães. Eles podem auxiliar em diferentes funções para os seres humanos como guias para cegos, proteção ou apenas companhia. Neste último quesito, os cães são considerados campeões funcionais, especialmente devido corrida e solitária vida moderna.

Vida esta que leva inúmeras pessoas a buscarem carinho e atenção em seres que não são da espécie humana. Afinal quem é proprietário de um cão sabe bem que os mesmos quase nunca estão mal-humorados e são bem receptivos e compreensivos aos seres humanos.  

É muito comum ouvir donos de cães sempre dizerem que cães podem entender seus sentimentos, sendo profícuos em perceber se estão tristes ou felizes, cansadas ou animadas.

Seria esta percepção uma verdade ou um simples anseio de pessoas solitárias? Neste mês, cientistas demonstraram na revista Biology Letters evidências claras de que cães são realmente capazes de entender os sentimentos humanos com clareza e convicção.

Pesquisadores avaliaram dezessete cães adultos de diferentes raças e os observaram afim de analisar se os cães eram ou não capazes de reconhecer expressões emocionais. Estas expressões estariam claramente demonstradas em expressões faciais e vozes humanas, demonstrando que os animais apresentavam enorme talento cognitivo. 

Cada cão tomou parte de duas sessões com dez tentativas cada uma.  

Em cada uma das sessões os pesquisadores projetaram fotos de pessoas desconhecidas com rostos felizes e tranquilos ou tristes e agressivos. O mesmo foi feito com fotos de outros cães, também apresentando faces calmas ou agressivas. Além disso os cientistas tocaram a vocalização de cães latindo agressivamente ou não, bem como utilizaram vozes de humanos desconhecidos ao animal. 

Vale ressaltar que a vocalização foi feita em Português afim de que o animal não entendesse as palavras citadas. A primeira descoberta interessante consistiu de que os animais passaram muito mais tempo observando as imagens de expressões diretamente relacionadas com os tons de voz.

Assim imagens de cães conectadas a sons humanos e vice-versa foram rapidamente descartadas pelos animais. Esta medida hoje é a mais utilizada para avaliar as habilidades cognitivas de outros mamíferos.

Além disso a resposta cães a felicidade ou tristeza humana foi completamente diferente, demonstrando pela primeira vez a habilidade dos cães em discernir entre emoções humanas mostrando a compreensão interespécies. 

Outro dado importante é que os cães se sentiram mais confortáveis em ver fotos de outros cães que a de humanos lembrando-nos que cães não são seres humanos e que além de gostarem de serem tratados como cães, também gostam de socializar com outros da mesma espécie.

Aparentemente, este talento cognitivo  co-evoluiu junto com os seres humanos nos últimos milhares de anos que estamos associados. Este talento permitiu aos cães melhor entenderem os seres humanos e assim sobreviver no seu novo nicho ecológico, a selva de pedra humana. 

Desta forma aparentemente podemos esconder nossos sentimentos das pessoas que nos rodeiam, mas não dos nossos cães de estimação. Seremos nós capazes de reconhecer o sentimento do que chamamos de nosso melhor amigo? Tente olhar para seu cão e ver se está triste ou feliz e verá o quanto isso pode ser difícil. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.

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O que tem para dizer o MPF?

19/11/2024 07h45

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O que há de ser entendido no silêncio que o Ministério Público Federal (MPF) adotou – quando se calou e se mantém calado – diante da solução que os governos federal e estadual encontraram para pôr fim ao caso da Terra Indígena (TI) Ñande Ru Marangatu, em Mato Grosso do Sul?

Como é sabido, a questão abarcava conflitos violentos que vinham acontecendo há décadas entre indígenas e não indígenas. Esses conflitos foram desencadeados a partir da instrução do processo administrativo em que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) demarcou – pela ocupação indígena em passado remoto que ela mesmo declarou – um território inteiro de terras particulares em Antônio João, até então, integralmente ocupado, possuído e explorado há quase um século por seus respectivos proprietários. 

O que amparava esses conflitos era a teoria do indigenato, de 1912, do ministro João Mendes, que pela ocupação indígena em passado remoto identificou a TI Ñande Ru Marangatu. Essa forma de identificação de terra indígena tem sido a causa das incontáveis invasões indígenas às terras particulares que ocorreram e que ocorrem todos os dias em MS e em muitas regiões do território nacional.

Lado outro, a Comissão Especial de Autocomposição do Supremo Tribunal Federal (STF) homologou o acordo, o que leva concluir que a mais alta Corte de Justiça concorda com esse modus operandi de se identificar terras indígenas e o adota, como se tanto fosse possível, na solução das causas que julga envolvendo matéria indígena. O exemplo mais recente envolve o julgamento do Recurso Extraordinário nº 1.017.365/SC.

Aliás, a Corte faz confusão quando identifica terras indígenas. Ora adota a teoria do indigenato, ora adota a sua própria interpretação, proclamada na assertiva de que a “configuração de terras ‘tradicionalmente ocupadas’ pelos índios já foi pacificada com a edição da Súmula nº 650, que dispõe: ‘Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto’”.

Notadamente, o STF relativizou ainda mais o direito de propriedade constitucional diante da matéria indígena, proclamando que, uma vez constatada a ocupação indígena em passado remoto, não há que se invocar o direito de propriedade, o título translativo nem a cadeia sucessória do domínio como defesa. Em resumo, o posicionamento extremo do Supremo é de que a ocupação indígena – seja ela presente, seja ela em passado remoto (indigenato) – define a terra indígena da União. 

A seu turno, por que o MPF – ferrenho defensor dessa ordem jurídica – deixou que os governos federal e estadual pagassem aos particulares pelas terras indígenas que ocupavam e exploravam no distrito de Campestre, em Antônio João? Com a palavra, o MPF em Mato Grosso do Sul!

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A resiliência e a fé

19/11/2024 07h30

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Os desafios diários enfrentados por quem atua na proteção da natureza têm se tornado uma enorme prova de resistência e fé. As condições climáticas extremas, impulsionadas pelas altas temperaturas, ameaçam nossas reservas com o fogo e penalizam a fauna e a flora – já impactadas pela reincidência de incêndios violentos desde 2020.

Percebo que a fauna enfrenta o pior processo de extinção desde o período em que conseguimos a vitória no controle da caça, do tráfico de animais silvestres e da pesca predatória na década de 1980. O cenário atual é de destruição de habitat natural, em que espécies estão sendo dizimadas de forma assustadora, especialmente répteis e insetos. As chamas estão tão intensas que, somadas aos ventos fortes, invadem todos os lugares: locas, copas das árvores, etc, persistindo por meses de forma impiedosa.

Não há dúvidas de que estamos perdendo essa batalha. Somente neste ano já ultrapassamos os 3 milhões de hectares queimados. Esse trágico número foi alcançado mesmo com o empenho de recursos financeiros nas ações de combate, que certamente superam R$ 1 bilhão – entre os investimentos dos governos federal e estadual.

Nunca tivemos – em um histórico de 40 anos – uma infraestrutura de combate tão ampla, incluindo recursos humanos, equipamentos de logística, helicópteros, caminhões e embarcações. É importante destacar o trabalho pioneiro da Famasul, que contabiliza os prejuízos na produção das fazendas no Pantanal, já ultrapassando R$ 50 milhões.

Como podemos ser mais eficientes se nossa capacidade financeira já extrapola seus limites dos desafios e a força humana se mostra insuficiente, em algumas situações até incapaz? Estamos enfrentando algo sem precedentes e que excede nossa capacidade de resposta.

Não devemos nos omitir na identificação dos responsáveis. Eles existem, embora sejam poucos. Ainda assim, acredito que não haverá melhoras significativas na questão comportamental apenas com multas milionárias e possíveis prisões. 

A experiência de outros países, como Portugal e Austrália, nos indica que o ímpeto punitivo não traz uma solução completa. Esses países já lidam com incêndios gigantescos e perdas de vidas humanas em virtude deles há mais de 20 anos.

O mais impressionante – e certamente mais doloroso que as próprias chamas – são as acusações equivocadas e a ignorância de alguns que associam o crescimento dos incêndios às reservas de proteção. Ao contrário, as poucas áreas protegidas no Pantanal (menos de 5%) têm estruturas para evitar incêndios e ações preventivas em seus planos de trabalho, como a presença de brigadas.

Podemos reduzir a escalada dos incêndios ano após ano se implementarmos outras estratégias que não se restrinjam ao combate ao fogo, mas que incluam 
a prevenção. Devemos reconhecer que nossos planos atuais não estão trazendo os resultados esperados e que não será somente o aumento dos investimentos financeiros que nos trará a solução.

O ponto crítico é como um dos biomas mais preservados (cerca de 85%) passou a ser um grande emissor de gás carbônico no País. Os fenômenos naturais são impactados negativamente pelas condições climáticas extremas. Essa situação ameaça nosso bioma e exige novas estratégias que unam ciência e competência para enfrentar esses fenômenos sem precedentes.

Restaurar ao proprietário formas de manejo do fogo pode ser uma alternativa. Eles podem ajudar. Ao mesmo tempo, com mais tecnologia e grupos de ação de combate ao fogo, equipados com boa logística e equipamentos adequados, podemos reduzir o tempo de resposta. Não podemos desistir e precisamos ter fé e resistência para rever nossa relação com o planeta.

Poderíamos, em um gesto responsável, olhar e fazer algo pela nascente do Rio Paraguai. Não sou pessimista, mas talvez apenas a desesperança e o senso de urgência possam nos salvar.

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