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Os tortos caminhos

Por Gaudêncio Torquato, escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político

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A esquerda e a direita estão entortadas. Pelo conceito que expressam, a esquerda representaria a defesa de visões progressistas, uma defesa intransigente de proteção à coletividade, significando a proteção dos direitos individuais, o alimento, a casa, a livre expressão. Sob esse ideário, o Estado assume a posição de Protetor do Cidadão. Já a direita defende princípios assemelhados, com ênfase aos direitos individuais e às políticas conservadoras, que elegem a família e as tradições como seu motor de propulsão.

Pois bem, os trajetos das duas configurações do arco ideológico estão tortos. A direita se bifurca em uma encruzilhada que abre veredas, não se podendo saber para onde seus transeuntes andarão, se na curva mais extrema ou na estrada mais central. A esquerda, da mesma forma, reparte-se em duas curvas, uma sinalizando o caminho da extremidade, outra aconselhando a trajetória mais central, o que coincide com a mesma bússola da direita. Ambas apontam para uma vereda central. A barafunda se estabelece.

Vamos aos fatos. Hoje, a direita se divide entre a ala do militar, capitão aposentado, Jair Bolsonaro, que pretende e prega querer levar seu povo à terra prometida. O Moisés brasileiro conseguirá abrir e fechar o mar para inundar o exército de Faraó e, assim o fazendo, implantar seu império?

O fato é que, até a chegada de Jair ao Palácio do Planalto, o País tinha uma direita envergonhada, que não assumia abertamente a defesa de ideias ortodoxas na área de costumes. Ser de direita era entendido como uma pessoa retrógrada, defensora da supressão de direitos, um soldado civil da ditadura de 1964. Poucos, muito poucos, assumiam essa cara.

Já ser de esquerda significaria simpatizar com o comunismo ou, pelo menos, com uma posição mais amena, o socialismo de fundo democrata, encarnado na social-democracia. Mesmo assim, os social-democratas sofriam por carregarem a pecha de simpatizantes disfarçados do comunismo.

Pulemos no tempo. Cheguemos ao assento do Jair na cadeira principal do Planalto. A direita tira a carapuça, enxuga o rosto e mostra-se de cara inteira e lavada ao País. A banda direitista se mobiliza e percorre a via até as eleições municipais. A esquerda toma um tranco. Aparecem outros coadjuvantes, ou melhor, pastores do rebanho direitista, com uma tuba de ressonância capaz de sufocar a sinfonia bolsonarista, a do Jair. Um tal de Marçal entorta o caldo e faz a performance mais estrambótica no palco da direita. Que se bifurca, conforme os termos do início dessa análise.

Já a esquerda tropeça na larga avenida em que caminhava. O andarilho principal, do PT, volta ao Palácio do Planalto, enxotando o capitão Jair, mesmo ganhando o assento presidencial por pequena margem. Também, pudera. O capitão foi um desastre na administração da pandemia que se alastrou no País durante seu reinado.

Uma ala da esquerda se posta na linha de frente do seu comandante, Luiz Inácio, defendendo suas ações, mesmo aquelas que não condizem com o ideário do partido, concebido, em sua origem, por sindicatos do ABC paulista e empurrão da igreja católica, lá pelos idos dos anos 1980. Outra banda faz cara feia ao pragmatismo do senhor da guerra e da paz, o mesmo Luiz, que colocou o chamativo sobrenome Lula em seu proclamado nome. Pragmatismo que se mostra no pacto com partidos do centro e da direita, alguns abrigados na sombra de um tal centrão, ao qual o mandatário-mor do País entrega pacotes de benesses no balcão de recompensas.

A ala mais à esquerda do velho PT encurva sob a ventania assoprada pela banda mais central e, assim, com a lombar dolorida, caminha, caminha, de forma trôpega, desviada de seu destino, afastada de seu sonho socializante. As curvas no caminho desvendam a índole de um País que sinaliza sua contrariedade em caminhar na faixa mais à esquerda do arco ideológico.

E o racha à direita exibe a inevitável condição de um País que tem espaços livres a serem ocupados por líderes autênticos e de imagem ilibada. Quem? Quem? Quem? Bolsonaro? Esse foi um tosco participante da bancada do baixo clero, na Câmara Federal, onde aparecia como feroz defensor dos pesados anos de chumbo. Sua imagem não é tão respeitada e ainda expressa a cor dos traumas e dor dos tempos mais recentes de sofrimento. Quem mais? Pablo Marçal? Ora, esse não passa de um palhaço à procura de um circo. Quem mais? Ronaldo Caiado, Romeu Zema, Tarcísio de Freitas? São andarilhos da direita muito iniciantes, sem o traquejo da fama e de pouca visibilidade na paisagem.

Como se observa, os dois caminhos nas pontas do arco ideológico estão encurvados, tortos, afastados de seu prumo. Procura-se um andarilho capaz de mostrar a reta capaz de levar os caminhantes para um lugar seguro e longe de tempestades.

CLÁUDIO HUMBERTO

"Precisamos estar alertas e vigilantes"

Deputada Rosângela Moro (União-SP) sobre Kátia Abreu ao conselho penitenciário

23/10/2024 07h00

Cláudio Humberto

Cláudio Humberto

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Oposição pede que PF investigue queda de Lula

A mal explicada queda do presidente Lula, no sábado (19), virou um requerimento da oposição para que a Polícia Federal investigue o que de fato ocorreu, após as diferentes versões plantadas pelo Planalto. A iniciativa é do deputado Evair de Melo (PP-ES), intrigado com a “falta de clareza” sobre os fatos. “A necessidade de investigação detalhada surge a partir de indícios de que a comunicação oficial a respeito do acidente pode ter sido manipulada”, diz o documento à direção-geral da PF.

Versões

Evair de Melo alega ser preciso saber o real estado de saúde de Lula, além de esclarecer se foi escorregão, pé de banco quebrado etc...

Hospital das estrelas

O deputado cobra investigação sobre uso de recursos públicos para Lula ser atendido e se tratar no caríssimo Sírio-Libaneis. SUS? Nem pensar.

E a conta?

Ainda na tarde desta terça (22), Lula voltou ao Sírio-Libaneis para mais exames. O parlamentar do Progressistas quer reparação ao erário.

Nada a esconder

“A clareza das informações é fundamental para a confiança da população”, disse Evair à coluna, ao cobrar transparência na apuração.

DF e Estados se rebelam contra DPVAT malandro

Os governadores do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), decidiram não cobrar dos cidadãos o seguro obrigatório DPVAT, que, extinto em 2019 no governo Bolsonaro (PL), foi ressuscitado por Lula (PT) com a sigla SPVAT, no valor de até 60 reais, após forte lobby das seguradoras para recuperar o faturamento bilionário. Lula tenta empurrar para o DF e Estados o desgaste político da cobrança, mas, após Santa Catarina, DF e MG ontem disseram “não”.

Jogada malandra

A malandragem ficou clara no convênio da Caixa: o SPVAT cobrado em janeiro de 2025 seria escondido, embutido no IPVA ou no licenciamento.

Comissão’ ilegal

O governo oferece aos Estados “comissão” de 1%, inadmissível entre entes públicos, do seguro tomado dos cidadãos sem que saibam disso.

Vai que é sua

Esperam-se adesões à decisão dos três Estados, que mandam o recado para Lula: se ele tem interesse na cobrança do SPVAT, que a faça.

Queda, versão XIII

A inesgotável fábrica de versões do Planalto produziu mais uma, com ordem de divulgação imediata pelos engajados: Lula caiu enquanto “cortava a unha do pé”. Tomando banho sentado num banquinho?

Moeda do Brics’ é lorota

A hipocrisia da tal “moeda do Brics” esbarra no levantamento do Banco Central e da Tradings Economics indicando que essa turma gosta é de acumular reservas cambiais em dólares. Só a China já juntou US$3,2 trilhões, Rússia e Índia R$600 bilhões cada e Brasil US$360 bilhões.

Desculpa de amarelo

Em coletiva , ontem, os “movimentos sociais” aparelhados pela esquerda brasileira, a mais atrasada do planeta, culparam o “bloqueio econômico” dos EUA, 60 anos depois, pelo apagão de energia na ditadura cubana.

Quem vencerá

O Paraná Pesquisas (SP-05509/2024) apurou que 62,4% dos eleitores paulistanos apostam na vitória do atual prefeito Ricardo Nunes, independentemente da intenção de votos. Boulos tem 29,7%.

Apostas em Fortaleza

A corrida pela prefeitura de Fortaleza (CE) estreou na plataforma de bets Polymarket. Segundo apostas até esta terça (22), André Fernandes (PL) tem 68% de chances de vitória contra 31% do petista Evandro Leitão.

Pujança paulista

Sob gestão de Tarcísio de Freitas (Rep), São Paulo registrou recorde de empresas abertas em setembro: 21.663 novos empreendimentos. É o maior saldo líquido mensal de toda a série histórica, iniciada em 1998.

Governo de uma nota só

A senadora Damares Alves (Rep-DF) denunciou ordem do governo Lula (PT) para retirar da pauta projeto de lei que isenta de imposto de renda os cidadãos com doenças raras: “não aguento mais o descaso”.

Pesquisa vs. Aposta

A média das pesquisas presidenciais Real Clear Politics nos EUA aponta vantagem de Kamala Harris sobre Donald Trump: 49,1% a 48,5%. Nas apostas, a média RCP aponta Trump com 60,1% de chance de vitória.

Pensando bem...

...tem queda que evita mico.

PODER SEM PUDOR

Autêntico ‘pele vermelha’

Visitando Washington, em 1991, o ex-deputado baiano Benito Gama se deparou no Museu de História Natural com indígena americano genuíno mostrando sua dança típica, ao som de tambor, e gritando “uh-uh-uh-uh”, como nos filmes do velho oeste. Ele já caminhava para outro setor, quando o índio se aproximou e cochichou, em perfeito português: “Não vá embora sem falar comigo...” Era um cearense que viveu na Bahia. Trabalhava em Washington como motorista do embaixador da Argentina e, à noite, fazia bico como índio.

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CLÁUDIO HUMBERTO

"O Brasil hoje sente inveja da Venezuela e da Nicarágua"

Jair Bolsonaro sobre Lula, o "pai da mentira", defender o desarmamento

22/10/2024 07h00

Cláudio Humberto

Cláudio Humberto

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Por que Lula tomava banho sentado, eis a questão

Jornalistas mais engajados foram orientados a divulgar, sábado, que Lula (PT) caiu durante o banho. Um pé do banquinho em que estava sentado teria se quebrado, fazendo-o cair, bater a cabeça e ganhar cinco pontos na nuca. Gerou a dúvida: em que estado Lula se encontrava para ter de tomar banho sentado? Estava sozinho? O Planalto achou melhor alterar a versão: “ele escorregou”. O dr. Roberto Kalil citou pequena hemorragia e ordenou observação para evitar piora, mas a assessoria decidiu armar uma sessão de fotos fazendo de conta que Lula trabalhava normalmente.

Transparência

A História prescreve transparência: o presidente deveria ter contado o ocorrido a veículo insuspeito, expor o curativo, mostrar que está bem.

Interesse nacional

A saúde do presidente é assunto de interesse nacional e não pode ficar a mercê de conveniências e jogadas de marqueteiros de fim de semana.

Dá azar

Botar Lula posando para foto foi uma idéia infeliz, por isso não faltou quem lembrasse as velhas farsas com Tancredo Neves e Costa e Silva.

Saúde é coisa séria

Não parece ser o caso, mas era grave o estado do general Costa e Silva e de Tancredo Neves quando ambos foram levados a posar para fotos.

Bolsonaro admite apoio a Alcolumbre no Senado

O ex-presidente Jair Bolsonaro admitiu que o PL ensaia aliança com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), provável próximo presidente da Casa, para evitar que o partido fique sem cargos na Mesa Diretora e nas comissões permanentes da Casa. Em entrevista à rádio Auri Verde, Bolsonaro disse que o seu partido ficou “como zumbi” nos últimos dois anos, após o senador Rogério Marinho (PL-RN) ter perdido a disputa pela presidência do Senado contra Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Cálculos exatos

“A gente não vai ganhar eleição com voto secreto”, lamentou Bolsonaro, que acredita que o PL pode ter a maior bancada da Casa já em 2025.

Água e palito

“A eleição do Davi Alcolumbre é 100%, 99% certa”, afirmou. “Se a gente lançar chapa de novo... são mais dois anos com água e palito”.

Política ponderada

“Davi Alcolumbre presidente do Senado. Quer queira, quer não. Agora tem que saber. Nós queremos ter, por exemplo, a vice-presidência?”.

Luxo cancelado

Lula e Janja não desfrutaram dos luxos do Hotel Luciano, em Kazan, com sua fabulosa piscina coberta e a suíte presidencial de R$4,6 mil a diária. Mas o chanceler decorativo Mauro Vieira não se fez de rogado.

Ambiente familiar

Os brasileiros que foram a Kazan para a reunião dos países do Brics se sentiram “em casa”, e não apenas pela habitual simpatia dos russos pelos conterrâneos de Neymar: como em diversos regimes autoritários, na Rússia todos estão proibidos de acessar a rede X.

Mais de um terço

A Proposta de Emenda à Constituição apresentada pelo senador Márcio Bittar (União-AC) que exclui dos ministros do STF da composição do TSE recebeu 28 assinaturas até a tarde desta segunda-feira (21).

É fácil

O governador do Goiás, Ronaldo Caiado (União), reagiu à acusação do governador baiano Jerônimo Rodrigues (PT) de que o problema da segurança “é nacional”. “Deixa sua polícia trabalhar”, sugeriu.

Pode confiar

Há exatos oito anos, pesquisa da ABC News apontava vitória na corrida presidencial dos EUA da então candidata democrata Hillary Clinton por mais de doze pontos de vantagem sobre Donald Trump.

Passando pano

Foi cancelada a reunião do Conselho de Ética que ouviria testemunhas no caso do deputado Glauber Braga (Psol-RJ), acusado de quebra de decoro por agredir um cidadão e um deputado. Mas tem vídeo.

Clima pré-eleição

O Senado mais uma vez não agendou qualquer sessão deliberativa para esta semana. E apenas cinco comissões marcaram reuniões. Trabalho de verdade somente após o fim do segundo turno.

Volta do álcool

Avança na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara liberação da venda de álcool 70% em todo Brasil. Teve voto favorável do relator Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), que vê a proibição “desproporcional”.

Lembrando bem...

...há 20 anos foi um livro que caiu da estante.

PODER SEM PUDOR

Burro esperto

O general-presidente Arthur da Costa e Silva tinha fama de carrancudo, até pela paternidade do Ato Institucional nº (AI-5), que instaurou a ditadura no Brasil, mas ele também tinha seus momentos de bom humor. Ao final do expediente, vez por outra chamava os auxiliares mais próximos para uma rodada de uísque em seu gabinete, no Planalto, e perguntava: “Qual a última piada a respeito da minha burrice?” Os assessores, claro, desconversavam, então ele próprio tratava de contar algumas das mais conhecidas. Depois, batia sua mão enorme sobre sua mesa para sublinhar, dando uma gargalhada: “Eles são gênios, mas quem está sentado aqui sou eu, o burro!”

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