Mariana Trigo, TV Press
Personagens fortes e guerreiras sempre seduziram Luciana Borghi. E foi dessa forma que esta carioca de 35 anos estreou este ano na tevê, após 15 anos de experiência pelos palcos cariocas e paulistanos. Na pele da descolada tatuadora Bárbara Lee, em “Tempos modernos”, a atriz vive sua primeira personagem na tevê com características muito semelhantes aos seus trabalhos no teatro. Com a determinada Bárbara, a atriz foi se identificando ao longo da trama com a diversidade dos nove desenhos multicoloridos estampados por seu corpo. Tanto que, para incorporar a personagem, ela chega duas horas antes das gravações para iniciar o processo de caracterização das tatuagens, feitas à base de uma tinta especial. “Esse preparo diário tem sido como um rito de iniciação. Preciso de tempo e paciência. Primeiro, fiquei enlouquecida e me assustei com as tatuagens. Hoje vejo que isso serviu para esculpir este papel aos poucos”, define a atriz.
Dentre os desenhos na pele branca, destacada pelos longos cabelos escuros, Luciana se identifica mais com a guerreira com espada e coroa. O desenho é uma mistura de Santa Bárbara com Mulher Maravilha. Além desse, a tatuagem oriental de uma gigantesca carpa subindo um rio com duas flores de lótus, além dos naipes tatuados nos dedos também emprestam um ar misterioso à personagem, que vive um sofrido triângulo amoroso com Ramón e Ditta, de Leonardo Medeiros e Alessandra Maestrini. “Se ela não ficar com o Ramón nesta reta final, acho que vai acontecer algo inusitado, uma virada na vida dela. Nas ruas, as pessoas vivem me dizendo: ‘Larga esse banana! Não case com ele, minha filha!’”, diverte-se Luciana.
Independentemente dos rumos de seu papel, Luciana afirma que nunca se interessou em fazer tevê por uma agenda sempre lotada por peças para atuar, dirigir e escrever. Até que recebeu um convite do próprio autor Bosco Brasil – que já conhecia de encontros no mundo teatral. “Recebia telefonemas de produtores de elenco falando sobre testes, mas normalmente estava fora do Rio, viajando, trabalhando”, explica.
No entanto, bastou experimentar atuar com gestos mais comedidos e uma técnica bem diferente do teatro durante os últimos meses, para a atriz começar a mudar seus planos. “A tevê tem me dado um domínio meio felino, de aprender a guardar energia para a hora de gravar, de saber onde tenho de me posicionar para a luz. Agora não quero mais parar!”, avisa, arqueando ainda mais suas sobrancelhas.
Aliás, na hora em que Luciana recebeu as principais características de Bárbara Lee, ficou impressionada quando leu que a personagem era definida pela voz grave e forte e pelo olhar marcante – tanto que sua maquiagem nos olhos é bem retrô, com delineador preto com um risco nos cantos dos olhos, mais conhecido como “gatinho”. “Ela é uma pin-up rock’n’roll. Me identifico muito com essa estética, mas minha praia musical é mais a MPB. Mas adoro esse contraste da pele branca com os coloridos no figurino”, ressalta a atriz, que agora se dedica à estreia de duas peças ainda este ano. Na primeira, o monólogo “Electra de Copacabana”, Luciana também assina como autora e apresenta uma mistura de referências pessoais, desde seu nascimento e infância no bairro. “Depois da peça, vou pensar se faço uma tatuagem para homenagear a Bárbara. Tem de ser num local bem escondido, algo como uma espada ou uma pin-up. Eu até já queria, mas esse trabalho veio para me aguçar”, entrega.