Ao projetar mais de 1 milhão de pessoas para uma manifestação em Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ), em um domingo de forte calor, a fim de pedir a anistia aos presos do 8/1, o ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro (PL) cometeu um grande equívoco, conforme analisaram lideranças de partidos de centro-direita em Mato Grosso do Sul.
Além disso, segundo disseram essas mesmas lideranças ao Correio do Estado, a baixa adesão por parte da militância bolsonarista demonstrou que o ex-presidente está perdendo um pouco da sua conhecida força de mobilização – e isso exatamente em um momento muito crítico, pois no dia 25 ele vai enfrentar o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Para os políticos de vários partidos de centro-direita em Mato Grosso do Sul, que concordaram em comentar o fracasso da manifestação de Bolsonaro no Rio desde que tivessem seus nomes preservados, o ato se tratava de uma aposta sobre a capacidade de mobilização do ex-presidente da República como líder popular
e sobre o poder de adesão que a causa da anistia poderia alcançar entre a direita brasileira.
De acordo com eles, o fracasso do ato expôs o enfraquecimento do ex-presidente no cenário político e permitiu que outras lideranças da direita questionem a sua capacidade de mobilizar grandes massas, especialmente diante de sua inelegibilidade até 2030, fazendo crescer a pressão para que Bolsonaro indique logo um sucessor para concorrer à eleição para a Presidência da República em 2026.
“Penso que o erro do Bolsonaro foi superestimar a quantidade de pessoas que participariam da manifestação. Em todas as postagens nas redes sociais, ele falava que mais de 1 milhão de pessoas estariam presentes, e isso não chegou a 20 mil. Além disso, o foco da população no momento é saber como os preços dos alimentos vão cair, e não sobre a anistia de pessoas que praticaram atos de vandalismo”, disse uma liderança de centro-direita no Estado.
Essa mesma fonte ainda pontuou que a situação do ex-presidente ficou muito complicada para o julgamento que enfrentará no STF.
“O cenário é o pior possível para Bolsonaro. E o anúncio que o filho dele, o deputado federal Eduardo Bolsonaro [PL-SP], fez ontem, de que vai se licenciar do mandato parlamentar para morar nos Estados Unidos, pegou muito mal. Ficou parecendo que está fugindo e ainda temendo pelo pior com relação ao julgamento do pai”, ressaltou.
Já para uma outra liderança de centro-direita do Estado o equívoco de Bolsonaro foi marcar uma manifestação em pleno domingo de sol na Cidade Maravilhosa.
“O próprio pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, disse que tentou convencer Bolsonaro de que o Rio não era a melhor opção para fazer a manifestação, mas foi ignorado. Agora, ficou muito feio para a imagem política do ex-presidente”, alertou.
Uma terceira liderança de centro-direita de MS acredita que Bolsonaro deveria cancelar a manifestação agendada para o dia 7 abril na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), sob pena de causar ainda mais prejuízo para a sua própria imagem política.
“A cada dia, fica mais claro que o candidato de centro-direita para concorrer ao cargo de presidente da República contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva [PT] é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas [Republicanos]. Quanto mais Bolsonaro demorar para reconhecer isso, pior será o cenário político para nós”, concluiu.
SAIBA
Eduardo anuncia que vai morar nos EUA
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anunciou ontem que vai se licenciar do mandato parlamentar para morar nos Estados Unidos, onde está atualmente. Ao comunicar a decisão, ele fez críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pelo inquérito que investiga o seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, por tentativa de golpe de Estado.
Eduardo não é alvo da investigação, mas foi impedido de assumir a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados por decisão de Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL. Eduardo fez o anúncio em uma rede social, uma semana antes do julgamento no STF que pode tornar o seu pai réu por tentativa de golpe de Estado.
Ele disse que a licença é temporária e que vai abrir mão de receber o salário de R$ 46.366,19. Na postagem, ele disse que vai, durante a licença, “focar em buscar as justas punições a Alexandre de Moraes e a sua gestapo da Polícia Federal”.