Aos 60 anos de idade, faleceu, por volta das 12h40min de sexta-feira, depois de ficar dois dias internado no Proncor, em Campo Grande, o deputado estadual Amarildo Cruz (PT). De acordo com o comunicado dos familiares, o parlamentar teve uma terceira parada cardíaca no período da manhã e não resistiu.
Ele procurou ajuda médica na quarta-feira, passou por exames iniciais, ficou internado e estava sendo tratado com antibióticos. Ainda assim, teve de ser intubado durante a noite e, na sequência, passou por diálise, já que o sistema renal havia entrado em colapso.
Informações preliminares e extraoficiais apontaram que Amarildo teve uma infecção bacteriana. O Correio do Estado entrou em contato com o Proncor, mas o hospital afirmou que não tinha interesse em falar sobre a doença que ocasionou a morte do parlamentar.
LUTO
O governo Eduardo Riedel (PSDB) decretou, em edição extraordinária do Diário Oficial do Estado, luto oficial de três dias em decorrência do falecimento do deputado estadual. “Mais que um parlamentar atuante, ele também era um servidor estadual incansável na defesa dos interesses do estado que escolheu para viver há mais de 40 anos”, trouxe nota oficial.
A nota reforçou que Riedel lamentava a morte de Amarildo Cruz, que ainda nesta semana cumpriu agenda em seu gabinete na Governadoria. No texto, a assessoria completou que o governador se unia “em oração aos familiares e amigos neste momento de luto e dor, rogando a Deus que o receba em seus braços e conforte os corações de amigos e familiares que se despedem de um amigo e ente querido”.
A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems) também decretou luto de três dias, conforme consta no Ato 22/2023 da Mesa Diretora, publicado em edição extra do Diário Oficial da Assembleia Legislativa, e as bandeiras, na entrada da Casa de Leis foram hasteadas a meio mastro.
O deputado foi velado na Assembleia Legislativa desta sexta 20h30min até as 6h deste sábado, com participação do público em geral. Depois, o corpo seguirá para Presidente Epitácio (SP), onde será sepultado. O ato da Mesa Diretora também designou comissão para acompanhar e representar a Casa de Leis na cerimônia fúnebre, formada pelos deputados Junior Mochi (MDB), Pedro Kemp (PT) e Pedrossian Neto (PSD), na cidade natal do parlamentar falecido.
SUPLENTE
Com o falecimento do deputado estadual Amarildo Cruz, a vaga deixada por ele na Alems será ocupada pela primeira-suplente, Gleice Jane Barbosa, de 43 anos. Ela tem graduação em Letras, pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), e atualmente é professora da Escola Estadual Ministro João Paulo dos Reis Veloso, no município de Dourados.
Além disso, Gleice Jane tem experiência na área de Letras, atuando principalmente na formação de professores. A futura deputada estadual é especialista em Educação e Inclusão, pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), atuando principalmente na área de Educação e Gênero.
Ela é filiada ao PT desde 2004 e foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Dourados, concorrendo para deputada federal em 2018 e para vereadora em 2020, sem obter êxito. Nas eleições gerais do ano passado, Gleice Jane conquistou 9.767 votos, o que lhe garantiu a primeira-suplência pelo partido.
Gleice Jane encontra-se em tratamento, depois de ter passado a semana passada hospitalizada, após ter sido diagnosticada com a síndrome de Guillain-Barré, um distúrbio autoimune, ou seja, o sistema imunológico do próprio corpo ataca parte do sistema nervoso, que são os nervos que conectam o cérebro com outras partes do corpo.
Em conversa com o Correio do Estado, ela disse que está em recuperação e que poderá tomar posse sem problema nenhum e cumprir a rotina da Casa de Leis. “Estou tranquila, porque a doença tem cura e a recuperação é certa. Mas é demorada e não tem um prazo. Posso estar totalmente recuperada em alguns dias ou alguns meses, estou contando com os dias, mas tenho de ter paciência”, afirmou.
ANÁLISE POLÍTICA
Para o cientista político Tércio Albuquerque, a morte do deputado estadual Amarildo Cruz traz para o PT um baque muito grande, pois ele assumiu na condição de suplente do então deputado estadual Cabo Almi, que também faleceu, vítima da Covid-19.
“Afinal, são dois deputados estaduais que morreram no exercício do mandato e, em uma trágica coincidência, eram do mesmo partido. Agora, quem vai ocupar a vaga na qualidade e na condição de suplente, Gleice Jane, deve dar um pouco mais de trabalho ao governador Eduardo Riedel”, projetou.
Ele explica que Gleice Jane é de uma linha mais radical e intransigente do que eram Amarildo Cruz e Cabo Almir, pois ambos tinham uma relação cordial com o Poder Executivo, mesmo não pertencendo ao partido do gestor e nem ao grupo de deputados que compunham a base.
“Eles tinham uma coerência e avaliavam se o projeto era de interesse para Mato Grosso do Sul. Então, acredito que, a partir de agora, o governador vai enfrentar um pouco mais de resistência na Assembleia Legislativa com a posse da suplente Gleice Jane”, analisou Tércio Albuquerque.
O cientista político ainda avalia que o PT passa por um momento complicado porque, além de perder um nome forte dos seus quadros, tem a situação do deputado estadual Zeca do PT, que se encontra internado e com problema sério de saúde.
“É importante lembrar que Gleice Jane já pleiteou vários mandatos eletivos, desde vereadora até deputada federal. Agora, por uma fatalidade, alcança pela primeira vez a possibilidade de exercer um mandato”, afirmou.
Na avaliação de Tércio Albuquerque, no começo, não é de se esperar muita reação combativa por parte dela, pois, até que entenda como funciona o sistema na Assembleia Legislativa e até que se ambiente com a própria bancada, deverá ser mais contida.
“Ela não poderá mostrar exatamente qual seria seu comportamento e a pauta que defenderia na Casa de Leis representando o PT porque o Amarildo tinha uma circulação boa no governo, afinal, era servidor público estadual concursado. Então, era um outro comportamento”, ressaltou o cientista político.
Ainda conforme Albuquerque, a suplente que assumirá o cargo não tem experiência dentro de uma gestão estadual, apenas no município de Dourados, na condição de professora. “Tudo isso vai influenciar agora no início da legislatura, aliás, na atividade legislativa dela a partir da posse”, analisou.
Tércio Albuquerque projeta que só será possível conhecer os efeitos do trabalho de Gleice Jane dentro de uns dois ou três meses como deputada estadual. “É nesse tempo que Riedel precisa agir para poder tê-la como parceira nas coisas que possam interessar à gestão estadual de uma maneira geral, para não a deixar avulsa, já que o PT está praticamente inteiro dentro do governo neste mandato”, finalizou.
Saiba
Currículo político do parlamentar petista
Formado em Direito, com pós-graduação em Gestão Pública, Amarildo assumiu o posto de deputado estadual por cinco vezes. Foi eleito pela primeira vez em 2006, com quase 18 mil votos. Em 2010, concorreu à reeleição, ficando como segundo-suplente em sua coligação. Em 2012, assumiu a superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis em Mato Grosso do Sul (Ibama-MS). Em 2013, retornou à Assembleia Legislativa de MS, tendo como destaque em sua atuação a presidência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, que investigou irregularidades nos recursos repassados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para unidades hospitalares de 11 municípios de Mato Grosso do Sul. Com 20.585 votos, foi reeleito para o terceiro mandato, em 2014. Como primeiro-suplente do PT, em 1º de junho de 2021 assumiu pela quarta vez como deputado estadual, após o falecimento do deputado estadual Cabo Almi, em decorrência da Covid-19. No ano passado, foi reeleito para seu quinto mandato, com 17.249 votos, participando da atual 12ª legislatura como líder da bancada do PT.


