Política

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Filhos do coração

Filhos do coração

Redação

09/05/2010 - 20h36
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SCHEILA CANTO

Quando a maternidade é neglicenciada, por mães que estão mais preocupadas consigo mesmas do que com a educação dos filhos, é bem provável que estes tenham  comprometimento no desenvolvimento psicológico, prejudicando as atividades escolares e sociais, com aumento de somatização, depressão, agressividade e uso de drogas. E, delegar a função de mãe para terceiros é tudo que algumas mães conseguem fazer quando perdem o controle sobre seus filhos.

Maninho, Augusto, Eduardo, Júnior, Geleia, são exemplos de uma educação terceirizada. Eles, juntos a pelo menos outros 30 jovens e adolescentes, passam diariamente pelos cuidados da dona Eroltildes dos Santos, 45 anos, que há dez anos acolhe meninos em sua residência, no Bairro Coophavila 2. A casa da “Tia Erô” é o conhecido refúgio do bairro, onde muitos jovens vítimas de maus-tratos e abandono físico e afetivo encontram acolhimento.
Subsidiada por uma mesada de um salário mínimo, doado por um vereador, Erotildes conta que largou o emprego num salão de cabeleireiro para dedicar-se exclusivamente ao cuidado dos seus “filhos do coração”. Ela é separada, mãe de 3 filhos biológicos (Tuti, 27 anos, Shirlene, 26 anos e Alexandre, 18 anos). “Eles me ajudam no cuidado com os meninos. Aliás, tudo começou com meu filho mais novo, quando tinha 10 anos, que me pedia para acolher alguns amigos e fui percebendo a carência daqueles meninos, que às vezes já estavam envolvidos com drogas por falta de amor, educação afetiva e orientação religiosa”, acrescenta Eroltides.

Chamada por alguns de mãe e pela maioria de tia, Erô preocupa-se em oferecer a estes jovens, na faixa etária de 12 a 18 anos, todo o cuidado e atenção necessária para moldar o caráter de cada um e evitar que eles fiquem na rua, sob más influências.

“Muitos que estão aqui foram liberados pela própria mãe para morarem comigo; elas desistiram, abriram mão de cuidar deles por vários motivos e avaliaram que estavam melhor comigo. A maioria chega aqui sem nunca ter recebido uma palavra de carinho, como ‘eu te amo’. Todos sofreram rejeição, são muito carentes, boa parte sofreu maus-tratos, violência psicológica, etc...”, conta.

Numa casa simples de três quartos, Erô diz que há sempre espaço para quem chega em busca de uma palavra amiga, carinho e de acolhimento fraterno. “Na panela há sempre comida do dia, na geladeira não há supérfluo, mas o básico para um lanche da tarde. Num dos cômodos montei uma sala de aula com carteira e quadro doados por uma escola. Ali eles estudam, fazem tarefa e têm aula de reforço. Consigo alimentá-los, diariamente, graças à ajuda de muitos amigos e vizinhos. Até mesmo de alguns pais, que têm situação financeira melhor que a minha, mas seus filhos preferem viver aqui”, esclarece.

Quando perguntada como ela consegue manter estes jovens longe do principal fantasma que hoje assola as famílias (as drogas), Erô responde: “Dou amor com autoridade, aqui existem regras e limites, não autoritarismo. Educo-os dentro dos ensinamentos de Deus”, resume.
Erô encara sua dedicação de mãezona como uma missão divina. “Me sinto feliz e realizada porque já consegui, em nome de Jesus, tirar muitos jovens das drogas e evitar que tantos outros se envolvessem com o vício. Acredito que meu trabalho só tem efeito porque une amor, educação e espiritualidade”, enfatiza.

O trabalho de Erô é complementado com visitas às famílias para saber o que está acontecendo. “Em algumas ocasiões fiquei chocada pensando: o que esses meninos querem na minha casa? Aqui eles dormem num colchão no chão, enquanto na casa deles têm todo o conforto de um quarto individual. Só posso concluir que eles preferem comer arroz e feijão, mas terem carinho. O que importa para eles é o amor, a atenção, o afeto e não as coisas materiais”, conclui.

Erô também conta com a parceria de alguns amigos voluntários que, além de serem conselheiros dos meninos, também dão aula de violão e aulas de reforço de português e matemática.
A mãezona diz que há alguns meses também chegaram a sua casa algumas meninas, mas elas não dormem lá porque não tem espaço separado só para elas. 

Ao responder o porquê de assumir uma responsabilidade desta, Erô responde: “Perdi minha mãe quando tinha 8 anos, sei o quanto faz falta uma mãe. No caso destes meninos, a maioria é órfã de mães vivas. O Júnior, por exemplo, foi abandonado  quando tinha 2 anos. Hoje ele tem 18 e mora comigo. Outro, a mãe emancipou aos 16 anos para que pudesse morar comigo. Abriu mão dele, mas eu não abro mão de nenhum. Embora as mães biológicas não estejam nem aí para eles, eu estou muito aí para eles”, finaliza.

JUSTIÇA

Juristas de MS aprovam criação de um código de ética para tribunais superiores

Proposta parte do presidente do STF, Edson Fachin, ao defender que magistrados precisam ter rigor técnico e sobriedade

23/12/2025 08h20

O presidente do STF, ministro Edson Fachin, durante sessão de encerramento do ano judiciário

O presidente do STF, ministro Edson Fachin, durante sessão de encerramento do ano judiciário Rosinei Coutinho/STF

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A proposta do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, de criar um código de conduta para os tribunais superiores, por entender que os magistrados precisam ter rigor técnico e sobriedade, foi bem-aceita pelos juristas de Mato Grosso do Sul.

O advogado Benedicto Arthur Figueiredo Neto lembrou que, etimologicamente, a palavra ética vem do grego ethos, que significa costume, caráter e modo de agir.

“Em meio às diversas críticas que alguns ministros do STF têm sofrido por receberem valores para proferirem palestras, o que é totalmente lícito à magistratura, Fachin se inspira no código de conduta da Suprema Corte da Alemanha para a criação de uma normatização ao modo de agir dos seus membros”, explicou.

Ele completou que o código de conduta da Suprema Corte alemã é bastante pragmático e objetivo, no sentido de sempre preservar em primeiro lugar a imagem da Corte e de que a conduta de seus membros sempre siga regras para que essa imagem venha a ser preservada.

“É o caso de como se prevê na Alemanha que os seus membros devem ponderar se o evento do qual vão participar não tem conflito com a reputação e com a honra da Corte. A normatização de um código de ética para tribunais superiores é a franca demonstração de reconstrução da imagem independente pela magistratura, afastando-se da política”, analisou.

Sandro de Oliveira, professor doutor da Faculdade de Direito (Fadir) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), acrescentou que um código de ética da magistratura é pertinente e necessário porque traduz, de forma clara e acessível, os valores que já estão consagrados na Constituição Federal e que devem orientar a atuação de todo agente público, mais especialmente daqueles que exercem a função de julgar.

“O código não cria obrigações novas, mas organiza princípios como legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, oferecendo parâmetros objetivos de conduta que reforçam a confiança da sociedade no Poder Judiciário. Além disso, a magistratura ocupa uma posição singular na estrutura do Estado, pois dela se espera independência, equilíbrio e compromisso permanente com os direitos fundamentais”, pontuou.

Sandro de Oliveira ressaltou que um código de ética funciona como instrumento pedagógico e preventivo, ajudando o magistrado a refletir sobre sua postura dentro e fora da jurisdição, à luz do interesse público, da dignidade da função e do dever de imparcialidade, que decorre diretamente do princípio republicano.

“Ao fortalecer a ética institucional, o código contribui para a transparência e para a legitimidade democrática do Judiciário. Ele reafirma que a atuação judicial não está dissociada da administração pública, mas submetida aos mesmos princípios constitucionais que exigem responsabilidade, probidade e prestação de contas à sociedade, elementos que são necessários à consolidação do Estado Democrático de Direito”, assegurou.

Para ele, é importante registrar que códigos de ética e de conduta não são estranhos ao ordenamento jurídico brasileiro. “Ao contrário, diversas carreiras de Estado e do serviço público, de modo geral, já contam com diplomas próprios que orientam a atuação de seus membros. Nesse contexto, a instituição de um código de ética da magistratura não apenas se mostra legítima, como também relevante, na medida em que contribuiria para balizar comportamentos, fortalecer a confiança social no Judiciário e servir de referência normativa e ética para as demais carreiras do Estado brasileiro”, argumentou.

O advogado André Borges citou que a proposta surge depois de fatos recentes, como esposa de ministro do STF com contrato milionário e advogando na Corte do esposo e ministro viajando no jatinho em que estava advogado que posteriormente teve pedido atendido, revelarem a necessidade urgente de ser atualizado o Código de Ética da Magistratura editado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

“Judiciário é importante demais para que sobre ele recaiam dúvidas sobre a honra e a decência de seus integrantes. Proteção ética surge exatamente de um código de ética. Na Suprema Corte dos Estados Unidos isso já foi aprovado. Trata-se de algo que precisa ser aplicado no Brasil, incluindo ministros das cortes superiores de Brasília [DF]. Vivemos em uma república, que tem como característica principal a responsabilidade dos servidores públicos em geral, no que se incluem os magistrados”, comentou o jurista ao Correio do Estado.

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Política

Lewandowski agora apoia recriação do Ministério da Segurança Pública e cobra mais recursos

Ministro afirmou que a mudança só fará sentido se vier acompanhada de uma ampliação do papel da União no combate à criminalidade

22/12/2025 22h00

Lewandowski

Lewandowski Agência Brasil

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O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, mudou de posição e passou a concordar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a recriação do Ministério da Segurança Pública, caso avance no Congresso a proposta de emenda à Constituição (PEC) que trata do tema. A avaliação foi feita em entrevista ao Valor Econômico, publicada nesta segunda-feira, 22.

Ao defender a volta da pasta, Lewandowski afirmou que a mudança só fará sentido se vier acompanhada de uma ampliação do papel da União no combate à criminalidade e de um reforço significativo de recursos federais. Segundo ele, sem "verbas substanciais", o novo ministério tende a ser ineficaz.

"Eu concordo com o presidente que essa divisão (Ministério da Justiça e Ministério da Segurança Pública) faria sentido, primeiro, se houvesse uma ampliação do papel da União no combate à criminalidade. Em segundo lugar, se viessem verbas substanciais, porque hoje nós temos no nosso Fundo Nacional de Segurança Pública a verba irrisória de R$ 2 bilhões", afirmou.

Na entrevista, o ministro também criticou as mudanças promovidas pela Câmara dos Deputados no texto da PEC da Segurança enviado pelo governo. Embora tenha elogiado a disposição do relator, deputado Mendonça, para o diálogo, Lewandowski avaliou que a versão aprovada se distancia do eixo central da proposta do Executivo.

"A principal crítica que eu faço é que o texto está, de certa maneira, na contramão da proposta que nós apresentamos. O principal ponto da PEC era a coordenação de forças, e isso ficou de fora", disse. Para ele, ao priorizar a descentralização e o fortalecimento das forças locais, o texto pode representar um retrocesso em relação ao modelo de coordenação nacional previsto no Sistema Único de Segurança Pública (Susp), criado em 2018.

Lewandowski também comentou o Projeto de Lei da Dosimetria, aprovado pela Câmara e pelo Senado. Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), ele afirmou que a revisão da norma ainda passará por sua mesa. O presidente Lula já declarou que pretende vetar o texto, que reduz penas de condenados por tentativa de golpe de Estado.

"Na medida em que você ameniza as sanções contra esse tipo de atentado contra as instituições, que é gravíssimo, você pode estimular futuros atentados contra o Estado Democrático de Direito", comentou.

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