Política

COMPROVA EXPLICA

Lula não tem relação com luciferianismo nem com satanismo; entenda o contexto das postagens

O vídeo foi disseminado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que usaram o material para associar o petista ao satanismo

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Influenciador digital que se autodenomina “mestre e líder da igreja de Lúcifer do Novo Aeon” Vicky Vanilla diz em vídeo que “está decretada” a vitória do ex-presidente e atual candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno, realizado no dia 02 de outubro – o que não ocorreu.

Nas imagens, é possível vê-lo em frente a uma bandeira do petista, falando sobre a união de diferentes religiões e entidades ligadas ao satanismo e ao ocultismo para garantir a vitória do ex-presidente.

O vídeo viralizou e foi usado para associar Lula ao satanismo. Vanilla, no entanto, diz que o petista não faz parte da sua igreja e também que não é bolsonarista.

  • Comprova Explica: Autointitulado líder da Igreja de Lúcifer do Novo Aeon, o influenciador Vicky Vanilla fez uma live na semana passada no TikTok usando uma camiseta vermelha e exibindo uma toalha com o rosto do ex-presidente e candidato Lula (PT) ao fundo. Em um trecho da live, que viralizou em outras redes, Vanilla afirma que diferentes religiões e entidades ligadas ao satanismo e ao luciferianismo tinham se unido para garantir a vitória do petista já no primeiro turno.

O vídeo foi disseminado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que usaram o material para associar o petista ao satanismo. A campanha de Lula negou qualquer ligação com as doutrinas ou com a entidade liderada por Vicky Vanilla.

Enquanto isso, apoiadores de Lula passaram a espalhar um vídeo com um trecho de uma entrevista do líder luciferiano em que ele criticava Lula. A intenção dessas postagens era desvincular Vanilla da imagem do ex-presidente e dizer que, na verdade, ele seria um bolsonarista disposto a prejudicar a imagem do petista.

A repercussão fez com que Vicky Vanilla publicasse outros dois vídeos – um desmentindo a ligação de Lula com a igreja dele, com o luciferianismo e com o satanismo, e outro em que negava ser bolsonarista ou cabo eleitoral de Bolsonaro.

Os vídeos foram retirados do ar por uma ordem judicial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os luciferianistas não são contrários ao cristianismo, nem deixam de acreditar em Deus – para eles, contudo, Lúcifer não é um anjo caído, e sim um portador de luz”.

Especialistas apontam que nem mesmo entre os cultos a Lúcifer e Satã há unidade e que não há sequer relações estruturais entre os cultos citados por Vicky Vanilla no vídeo da live.

Com a viralização de conteúdos sobre o caso, o Comprova resolveu explicar qual o contexto das postagens, quem é Vicky Vanilla e o que são religiões luciferianas e satanistas, uma vez que o conteúdo envolve um candidato à Presidência de um país cuja maioria da população se identifica como cristã.

  • Como verificamos: O Comprova assistiu ao vídeo verificado aqui e as demais gravações relacionadas ao conteúdo. Também foi visto o vídeo da entrevista de Vanilla ao podcast Supersônico Cast em que ele critica Lula e Bolsonaro.

Foram entrevistados dois pesquisadores sobre o tema do luciferianismo e suas relações com o cristianismo: o historiador Elias Pereira, que é pós-graduado em História das Religiões, e o professor Johnni Langer, PhD em História e professor do curso de Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

O Comprova também acessou o posicionamento oficial da campanha do candidato Lula sobre o assunto e a decisão do TSE sobre uma representação feita pelos advogados do petista a respeito dos vídeos. O Comprova procurou, por fim, o ator do vídeo que viralizou, Vicky Vanilla.

O contexto das publicações

Na segunda-feira após o primeiro turno das eleições (3 de outubro), perfis de apoiadores de Bolsonaro começaram a compartilhar trechos de um vídeo em que um homem vestido de camiseta vermelha e com uma bandeira de Lula ao fundo afirma, entre outras coisas, que diversas seitas e religiões de matriz africana, ocultistas, de doutrina luciferiana e/ou satanista haviam se unido para garantir a vitória do petista contra o atual presidente.

O vídeo era o trecho de uma live no TikTok publicada por um perfil chamado Vicky Vanilla, que se identifica como “mestre e líder da igreja de Lúcifer do Novo Aeon”.

De acordo com reportagem do jornal O Globo, a live foi feita em 30 de setembro. O material não está mais disponível nas redes sociais e não foi possível assistir ao conteúdo na íntegra.

No trecho que foi compartilhado por apoiadores do atual presidente, Vanilla diz que os bolsonaristas iriam “comer o pão que o diabo amassou” e que “amanhã não tem para ninguém, já está decretado”.

“Nós nos unimos, esse tempo todo que eu tive que disfarçar, ficar quieto, disfarçar, falar de outras coisas nas redes sociais. Nós nos unimos esse tempo todo: os terreiros de Quimbanda, os terreiros de Axé, as irmandades luciferianas do país, os segmentos satanistas, os satanistas ateístas, os satanistas gnósticos, os luciferianos ateístas, luciferianos gnósticos, nós nos unimos esse tempo todo”.

Em seguida, ele profere ofensas aos apoiadores de Bolsonaro e diz que “eles não vão conseguir vencer o poder e o tamanho de uma egrégora que é a nossa. Amanhã já está decretado, vocês estão arruinados (…). Porque vocês nesses últimos quatro anos apoiaram um ditador, um facínora, um vagabundo safado”.

A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) foi uma das apoiadoras do presidente que compartilhou o vídeo, com a legenda “A guerra é espiritual”. Já um perfil no Twitter que apoia Bolsonaro escreveu:

“Satanistas declaram apoio a Lula. Pronunciamento de um adepto do satanismo e bruxaria sobre as eleições. É esse candidato que você quer para o Brasil?”.

Após a repercussão do material, Vanilla publicou um vídeo em suas redes sociais em, 4 de outubro, dizendo que as publicações dos apoiadores do presidente eram “fake news” e que suas falas durante a live haviam sido retiradas de contexto.

“Esse corte faz parte de todo um pronunciamento que eu fiz na última live e está sendo colocado totalmente fora de contexto por pessoas que querem que você não saiba a verdade. O vídeo está sendo espalhado como uma fake news, tanto a meu respeito, quanto a respeito do candidato Lula, que não tem qualquer ligação com a nossa casa espiritual. Ele está sendo divulgado como uma artimanha dos pseudocristãos, dos fariseus instalados na política que não querem que você se aproxime da verdade de Cristo”, afirmou.

Como o vídeo da live não está mais disponível, o Comprova procurou Vicky Vanilla para explicar qual era o intuito e o contexto das falas em que ele se refere à “união” entre as seitas citadas no trecho do vídeo e a eleição de Lula, mas não houve resposta até o fechamento deste Comprova Explica.

Enquanto trechos do vídeo seguiam viralizando nas redes sociais, alguns apoiadores do ex-presidente Lula começaram a publicar que Vanilla, na verdade, era apoiador do presidente Bolsonaro e havia feito a live para prejudicar a imagem do PT.

Essas postagens compartilhavam um trecho em vídeo da participação de Vanilla no podcast Supersônico Cast, que foi publicado em 14 de maio de 2022.

No trecho compartilhado, Vanilla fazia críticas ao PT e a Lula. A fala em tom crítico aconteceu momentos após os convidados do podcast conversarem sobre assuntos como criminalidade e pena de morte.

Vanilla afirma: “Agora, o Lula também me soltar que o cara roubou, um ‘é só um celularzinho para ir tomar uma cervejinha’. Você viu isso aí? É, é uma política de bosta, o cara vem falar ‘é só um celularzinho, companheiros, só pra tomar uma cervejinha’. Ah, vem roubar o meu, pra ver o berro na sua cara”.

Em seguida, os outros participantes do podcast mencionam uma suposta proposta do ex-presidente Lula que buscaria “regular a mídia”, o que, na interpretação de um dos convidados, significaria “regular a internet,” e que a medida poderia “acabar com isso aqui [o podcast]”. Vanilla então, comenta: “Nazismo, o nazismo começou assim também”.

O trecho compartilhado, contudo, não mostrava a fala completa de Vicky Vanilla quando criticou Lula.

Antes, ele havia criticado Jair Bolsonaro e dito que detestava o atual presidente (a partir de 1:46:03): “Todo mundo sabe que eu não tenho nenhum tipo de apreço pelo Bolsonaro, cara, eu detesto, mas o Lula me soltar… eu detesto Bolsonaro, para mim é escrotidão pura, até um vira-lata amarelo, se você votar no vira-lata caramelo vai ser melhor para você, vai fazer melhor para o país”, disse.

Em seguida, ele fala sobre o petista: “Agora, o Lula também me soltar que o cara roubou, um ‘é só um celularzinho para ir tomar uma cervejinha’. Você viu isso aí?. É, é uma política de bosta, o cara vem falar ‘é só um celularzinho, companheiros, só pra tomar uma cervejinha’. Ah, vem roubar o meu, pra ver o berro na sua cara”.

Apesar de a fala de Vicky Vanilla ter sido descontextualizada, ele também engana ao citar a suposta declaração de Lula sobre “roubar celular para comprar uma cervejinha”. Não há qualquer registro que comprove que o ex-presidente tenha dito isso, conforme demonstraram ReutersAFP Checamos, e Migalhas.

Após a repercussão dessas novas postagens, Vanilla novamente usou suas redes para declarar que sua entrevista ao podcast havia sido distorcida e que ele não possui nenhum alinhamento com Bolsonaro.

Em um vídeo publicado em seu perfil no TikTok, ele disse: “Mais uma vez a minha fala e o meu posicionamento estão sendo colocados de uma forma totalmente desviada das minhas intenções originais (…). Falar que eu sou eleitor, cabo eleitoral do Bolsonaro, isso foi demais. Em todas as minhas lives e meus posicionamentos públicos eu jamais manifestei qualquer tipo de apoio à ideologia fascista do Bolsonaro, que não reflete em absoluto qualquer um dos ideais luciferianos de evolução, fraternidade e consciência política. Isso é um nítido caso de intolerância religiosa, a mesma intolerância religiosa que a esquerda diz combater assiduamente e que no momento está fazendo o contrário me colocando como cabo eleitoral do Bolsonaro, por causa de algumas entrevistas que eu dei no passado”.

Quem é Vicky Vanilla

Ele se apresenta no TikTok como “sacerdote, mago e palestrante”. Em seu site, diz ser “mestre e líder da Igreja de Lúcifer do Novo Aeon”.

Ele afirma que foi iniciado e desenvolveu sua mediunidade em religiões de matrizes africanas (umbanda e quimbanda), praticou o xamanismo ancestral brasileiro, estudou psicanálise e simbologia e já “lecionou as artes oraculares em famosas escolas esotéricas de São Paulo”.

Ainda segundo o site, a “síntese de tudo que Vanilla já aprendeu” é o luciferianismo gnóstico e a Alta Magia da Mão Esquerda.

Além do perfil do TikTok com mais de 1 milhão de seguidores, Vanilla mantém uma conta ativa no Instagram e um canal no YouTube.

Nas redes sociais ele publica conteúdos sobre seu cotidiano, explica conceitos do satanismo e do luciferianismo e também grava vídeos opinativos ou interagindo com seguidores.

O que é o luciferianismo e o que é satanismo?

Luciferianismo e satanismo são correntes diferentes. O primeiro é uma corrente filosófica, muito inspirada no Iluminismo, que enxerga Lúcifer não como um anjo caído, mas como um “portador de luz”.

Ao contrário do que pensa o senso comum, os seguidores do luciferianismo não se opõem ao cristianismo, não pregam contra a Bíblia e nem deixam de acreditar em Deus.

“O luciferianismo tem um pensamento filosófico de Lúcifer pelo sentido da palavra, mesmo, o portador de luz. A ideia do luciferianismo é o culto ao próprio ser humano, aquela ideia de que você é a própria divindade. Ele é muito baseado na questão cristã europeia, de que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Logo, o ser humano também é divino”, explica o historiador Elias Pereira, que é pós-graduado em História das Religiões.

Pereira aponta que os luciferianistas não seguem a Bíblia, mas não pregam contra ela. “Eles não são nem um pouco contra Deus. Acreditam em Deus, só que, para eles, Deus está dentro do ser humano”, diz.

Na entrevista ao podcast Supersônico Cast, o próprio Vanilla afirmou que “tudo é Deus” e que “Deus é o aqui e o agora”.

“Se Ele [Deus] é o todo, eu não sou parte dele, porque parte significaria fragmento, fragmento indicaria separação. Então, eu sou Deus, vestindo uma experiência humana e temporária para que possa viver os seus sonhos. A vida é um sonho de Deus”, afirmou.

Há duas correntes principais do luciferismo: o clássico e o neoluciferianismo, muito mais presente hoje na sociedade.

A principal diferença entre eles é que, no luciferianismo clássico, os seguidores enxergam Lúcifer como um ser físico, mas ainda assim como um mestre, e não como um demônio.

Já o neoluciferianismo é uma corrente mais filosófica que acredita que, através de alguns ritos como meditações e orações, é possível despertar o divino dentro das pessoas.

Enquanto isso, o satanismo é diferente das duas correntes do luciferianismo. “O satanismo crê, por exemplo, que o diabo também está dentro do ser humano e isso é visto nas atitudes negativas, como os impulsos mais animalescos, a questão do instinto de sobrevivência, e isso faz com que o diabo dentro de cada um desperte”, aponta o especialista.

Professor do curso de Ciências das Religiões da UFPB, Johnni Langer, que é doutor em História e coordenador do NEVE (Nucleus of Vikings and Scandinavian Studies), comenta que os satanistas são mais filiados a correntes norte-americanas, enquanto os luciferianos seguem uma linha mais europeia.

Ele destaca que não há unidade nesses grupos e há, inclusive, muitas mesclas e influências.

“Nem mesmo cultos em torno do diabo possuem qualquer tipo de união, congregação ou filiação de interesses, seja na esfera puramente religiosa ou política, em nosso país”, diz. Ele aponta, ainda, que os diversos cultos citados no primeiro vídeo de Vicky Vanilla não têm relações estruturais entre si.

“Historicamente e socialmente, são grupos que não possuem relação estrutural entre si, como as religiões afro-brasileiras, a Wicca e as vertentes do satanismo/luciferianismo. O que elas todas têm em comum é que, do ponto de vista imaginário, representam o mal absoluto para os grupos evangélicos, que formam uma das bases eleitorais do Bolsonaro”, explica Johnni Langer.

É verdade que algumas correntes do luciferianismo sofreram influência de outros grupos religiosos e filosóficos, mas isso não significa que atuem juntas.

“Os luciferianistas acreditam em várias concepções que mesclam elementos do cristianismo com ocultismo”, diz Langer.

Elias Pereira aponta que entre as referências está a quimbanda, de matriz africana, mas que está muito mais ligada à corrente clássica do que ao neoluciferianismo.

Atualmente, não é possível dizer, numericamente, quantos adeptos do luciferianismo existem no Brasil – essa doutrina não é citada nominalmente no censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para Johnni Langer, a maioria das vertentes do luciferianismo não sobreviveu ao século XX, enquanto muitas outras surgiram no mesmo período. “Existem igrejas luciferianas no Brasil, mas são difíceis de serem contadas e quase sempre têm um caráter marginal e semi-secreto”, aponta.

Lula não é luciferianista, nem satanista, e sim católico

Além de Vanilla ter dito mais de uma vez que Lula não tem qualquer ligação com o grupo espiritual que ele lidera, a igreja de Lúcifer do Novo Aeon, o petista também desmentiu qualquer relação com luciferianismo ou satanismo.

“A verdade, como já repetimos antes, é que Lula é cristão, católico, crismado, casado e frequentador da Igreja Católica. Não existe relação entre Lula e o satanismo”, diz nota divulgada pelo PT.

Lula se casou pela terceira vez no dia 18 de maio deste ano com a socióloga Rosângela Silva, a Janja. O casamento foi celebrado por um sacerdote católico, o bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino.

Vanilla já apoiou Lula, mas avalia se manter neutro no 2º turno

Havia pelo menos dois vídeos no perfil de Vicky Vanilla no TikTok de apoio ao ex-presidente Lula, mas eles foram apagados. Em um vídeo gravado em 6 de outubro, Vanilla disse que o material foi retirado do ar por ordem do TSE.

Ele criticou a decisão, apontou que foi vítima de intolerância religiosa e que está avaliando se manterá o apoio a Lula no segundo turno ou se ficará neutro.

De qualquer forma, antes da derrubada do material, Vanilla tinha afirmado que o apoio dele a Lula não era institucional nem religioso, e sim pessoal, como cidadão.

“Eu me posicionei democraticamente a favor do Lula, não religiosamente. O Lula não tem qualquer vínculo com o luciferianismo ou com o satanismo. Eu, na minha qualidade de cidadão, é que manifestei a minha intenção política”, disse, em um vídeo postado na rede no dia 5 de outubro de 2022.

No mesmo vídeo, o influenciador negou que seja eleitor de Bolsonaro. Há, no perfil de Vanilla, mais de um vídeo com críticas a Bolsonaro pelo menos desde maio deste ano.

A suspensão do conteúdo de apoio a Lula foi, realmente, determinada pelo TSE. A Coligação Brasil da Esperança, do petista, entrou com uma representação no dia 4 de outubro de 2022 contra o responsável pelo perfil de Vicky Vanilla no TikTok e contra bolsonaristas que espalharam o vídeo que viralizou nas redes.

No pedido, a coligação, os advogados disseram que “o que se observa é um indivíduo, que conta com quase um milhão de seguidores apenas na mencionada rede social, afirmando ser seguidor do satanás, entidade bíblica que sabidamente representa o mal na Terra, fazendo vídeos de apoio à candidatura de Lula.

Com isso, tal tema se difunde nas redes sociais e aplicativos de mensagens eletrônicas de tal sorte que, em pouco tempo, emite-se a nociva mensagem que os adoradores do demônio apoiam Lula”.

A defesa do candidato petista disse ainda que “os apoiadores do candidato Jair Bolsonaro não perderam a oportunidade de propagar, com base nas publicações do usuário @vicky_vanilla_official, a mentirosa associação do candidato Lula a Lúcifer, espalhando desinformação na Internet“.

Na decisão, tomada em 5 de outubro, o ministro do TSE Paulo de Tarso Vieira Sanseverino mandou que TikTok, Twitter, YouTube, Instagram, Facebook e Gettr removessem as publicações no prazo de 24 horas, sob pena de incidência da multa diária no valor de R$ 50 mil, em caso de descumprimento.

Ao acatar o pedido da defesa de Lula, o ministro destacou que a livre manifestação do pensamento do eleitor na internet só é passível de limitação quando ofende a imagem de candidatos, partidos, federações ou coligações, ou quando são divulgados fatos sabidamente inverídicos.

“Contata-se que o perfil @vicky_vanilla_official contém aproximadamente um milhão de seguidores, na rede social TikTok, e o seu responsável e administrador se apresenta como sacerdote, mago e palestrante. O referido perfil divulga conteúdos relacionados a ideologias ou crenças relacionadas ao satanismo, de modo a promover admiração a personagens religiosos como Satanás e outras figuras similares como Belzebu e Lúcifer. Ocorre que o responsável pelo perfil – sob o argumento do exercício legítimo do direito à liberdade de opinião ou expressão – divulga conteúdos manifestando suposto apoio político a Luiz Inácio Lula da Silva, o que acaba por associar indevidamente a imagem do candidato a ideologias e crenças satânicas. O resultado é que as publicações produzidas e divulgadas pelo perfil @vicky_vanilla_official estão sendo disseminadas nas redes sociais por diversos outros usuários, gerando desinformação com o nome e a imagem do candidato da coligação representante. É forçoso reconhecer que a propagação desses conteúdos, sem nenhum consentimento do candidato ofendido, tem o potencial de interferir negativamente na vontade do eleitor”, diz o texto da decisão, que tem caráter liminar.

  • Por que explicamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que circulam nas redes sociais. A seção Comprova Explica é utilizada para a divulgação de informações a partir de conteúdos que viralizam e estão causando confusão, como o vídeo postado pelo mestre e líder da igreja de Lúcifer do Novo Aeon, Vicky Vanilla, em favor da vitória do candidato à presidência Lula da Silva no 1º turno, que acabou não se concretizando.
  • Outras checagens sobre o tema: O Comprova já fez diversas checagens envolvendo falsas associações entre o candidato à presidência Lula e a religião, como a de um vídeo que foi editado para sugerir falsamente que o petista defende o fechamento de igrejas. Antes do primeiro turno das eleições, a seção Comprova Explica também demonstrou quem era o Padre Kelmon, candidato à presidência pelo PTB que ganhou destaque, principalmente, a partir de sua participação em debates na televisão e seus ataques ao ex-presidente Lula e ao PT.

 

Política

Arquivos sobre Jeffrey Epstein somem do site do Departamento de Justiça dos EUA

Os arquivos desaparecidos, que estavam disponíveis na sexta-feira (19) e não mais acessíveis no sábado

21/12/2025 12h30

Trump aparece em fotos de festas organizadas por Epstein House Oversight Committee

Trump aparece em fotos de festas organizadas por Epstein House Oversight Committee Foto: House Oversight Committee

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Pelo menos 16 arquivos desapareceram da página pública do Departamento de Justiça dos EUA para documentos relacionados a Jeffrey Epstein - incluindo uma fotografia mostrando o Presidente Donald Trump - menos de um dia após serem postados, sem nenhuma explicação do governo e sem aviso ao público.

Os arquivos desaparecidos, que estavam disponíveis na sexta-feira (19) e não mais acessíveis no sábado, incluíam imagens de pinturas retratando mulheres nuas, e uma mostrando uma série de fotografias ao longo de um aparador e em gavetas. Nessa imagem, dentro de uma gaveta entre outras fotos, havia uma fotografia de Trump, ao lado de Epstein, Melania Trump e a associada de longa data de Epstein, Ghislaine Maxwell.

O Departamento de Justiça não respondeu às perguntas no sábado sobre por que os arquivos desapareceram, mas disse em uma postagem no X que "fotos e outros materiais continuarão sendo revisados e redigidos de acordo com a lei com abundância de cautela à medida que recebemos informações adicionais."

Online, os arquivos desaparecidos inexplicavelmente alimentaram especulações sobre o que foi retirado e por que o público não foi notificado, aumentando a intriga de longa data sobre Epstein e as figuras poderosas que o cercavam. Democratas no Comitê de Supervisão da Câmara apontaram para a imagem desaparecida apresentando uma foto de Trump em uma postagem no X, escrevendo: "O que mais está sendo encoberto? Precisamos de transparência para o público americano."

O episódio aprofundou preocupações que já haviam surgido a partir da muito antecipada liberação de documentos do Departamento de Justiça. As dezenas de milhares de páginas tornadas públicas ofereceram pouca nova visão sobre os crimes de Epstein ou as decisões de acusação que permitiram que ele evitasse acusações federais sérias por anos, enquanto omitiam alguns dos materiais mais de perto observados, incluindo entrevistas do FBI com vítimas e memorandos internos do Departamento de Justiça sobre decisões de acusação.

Faltam entrevistas do FBI sobre sobreviventes

Alguns dos registros mais consequentes esperados sobre Epstein não foram encontrados nas divulgações iniciais do Departamento de Justiça, que abrangem dezenas de milhares de páginas.

Estão faltando entrevistas do FBI com sobreviventes e memorandos internos do Departamento de Justiça examinando decisões de acusação - registros que poderiam ter ajudado a explicar como os investigadores viam o caso e por que Epstein foi permitido em 2008 a se declarar culpado de uma acusação estadual de prostituição relativamente menor.

As lacunas vão além.

Os registros, exigidos para serem liberados sob uma lei recentemente aprovada pelo Congresso, dificilmente referenciam várias figuras poderosas há muito associadas a Epstein, incluindo o ex-príncipe Andrew da Grã-Bretanha, renovando perguntas sobre quem foi escrutinado, quem não foi, e quanto as divulgações realmente avançam na responsabilidade pública.

Entre os novos detalhes: visão sobre a decisão do Departamento de Justiça de abandonar uma investigação sobre Epstein nos anos 2000, o que permitiu que ele se declarasse culpado daquela acusação estadual, e uma queixa anteriormente não vista de 1996 acusando Epstein de roubar fotografias de crianças.

As liberações até agora foram pesadas em imagens das casas de Epstein em Nova York e nas Ilhas Virgens dos EUA, com algumas fotos de celebridades e políticos.

Havia uma série de fotos nunca antes vistas do ex-presidente Bill Clinton, mas pouquíssimas de Trump. Ambos foram associados a Epstein, mas desde então negaram essas amizades. Nenhum foi acusado de qualquer irregularidade em conexão com Epstein e não havia indicação de que as fotos desempenhassem um papel nos casos criminais contra ele.

Apesar de um prazo estabelecido pelo Congresso na sexta-feira para tornar tudo público, o Departamento de Justiça disse que planeja liberar registros em uma base contínua. Atribuiu o atraso ao processo demorado de obscurecer os nomes dos sobreviventes e outras informações de identificação. O departamento não deu nenhum aviso de quando mais registros podem chegar.

Essa abordagem irritou alguns acusadores de Epstein e membros do Congresso que lutaram para aprovar a lei que forçou o departamento a agir. Em vez de marcar o fim de uma batalha de anos por transparência, a liberação de documentos na sexta-feira foi apenas o início de uma espera indefinida por uma imagem completa dos crimes de Epstein e das etapas tomadas para investigá-los.

"Eu sinto que novamente o DOJ, o sistema de justiça está nos falhando," disse Marina Lacerda, que alega que Epstein começou a abusar sexualmente dela em sua mansão na cidade de Nova York quando ela tinha 14 anos.

Muitos dos registros há muito antecipados foram redigidos ou faltavam contexto. Promotores federais em Nova York apresentaram acusações de tráfico sexual contra Epstein em 2019, mas ele se matou na prisão após sua prisão.

Os documentos recém tornados públicos eram uma fração de potencialmente milhões de páginas de registros na posse do departamento. Em um exemplo, o vice-procurador-geral Todd Blanche disse que os promotores federais de Manhattan tinham mais de 3,6 milhões de registros de investigações de tráfico sexual envolvendo Epstein e Maxwell, embora muitos duplicassem material já entregue pelo FBI.

Muitos dos registros liberados até agora haviam sido tornados públicos em processos judiciais, divulgações do Congresso ou pedidos de liberdade de informação, embora, pela primeira vez, todos estivessem em um só lugar e disponíveis para o público pesquisar gratuitamente.

Aqueles que eram novos muitas vezes faltavam contexto necessário ou estavam fortemente redigidos. Um documento de 119 páginas marcado como "Grand Jury-NY," provavelmente de uma das investigações federais de tráfico sexual que levaram às acusações contra Epstein em 2019 ou Maxwell em 2021, estava inteiramente redigido.

Registros incluem fotos com Michael Jackson e Diana Ross

Aliados republicanos de Trump aproveitaram as imagens de Clinton, incluindo fotos do democrata com os cantores Michael Jackson e Diana Ross. Havia também fotos de Epstein com os atores Chris Tucker e Kevin Spacey, e até mesmo Epstein com o jornalista de TV Walter Cronkite. Mas nenhuma das fotos tinha legendas e não foi dada nenhuma explicação para por que qualquer um deles estava junto.

Os registros mais substanciais liberados até agora mostraram que os promotores federais tinham o que parecia ser um caso forte contra Epstein em 2007, mas nunca o acusaram.

Uma das vítimas disse ser agredida sexualmente por Epstein

Transcrições de procedimentos do grande júri, liberadas publicamente pela primeira vez, incluíam testemunhos de agentes do FBI que descreviam entrevistas que tiveram com várias meninas e mulheres jovens que descreveram ser pagas para realizar atos sexuais para Epstein. A mais jovem tinha 14 anos e estava no nono ano.

Uma delas contou aos investigadores sobre ser sexualmente agredida por Epstein quando inicialmente resistiu aos seus avanços durante uma massagem.

Outra, então com 21 anos, testemunhou perante o grande júri sobre como Epstein a contratou quando ela tinha 16 anos para realizar uma massagem sexual e como ela passou a recrutar outras meninas para fazer o mesmo.

"Para cada menina que eu trouxesse, ele me daria US$ 200," ela disse. Eram principalmente pessoas que ela conhecia do ensino médio, disse ela. "Eu também disse a elas que, se fossem menores de idade, apenas mentissem sobre isso e dissessem que tinham 18 anos."

Os documentos também contêm uma transcrição de uma entrevista que advogados do Departamento de Justiça fizeram mais de uma década depois com o procurador dos EUA que supervisionou o caso, Alexander Acosta, sobre sua decisão final de não apresentar acusações federais.

Acosta, que foi secretário do trabalho durante o primeiro mandato de Trump, citou preocupações sobre se um júri acreditaria nas acusadoras de Epstein.

Ele também disse que o Departamento de Justiça pode ter sido mais relutante em fazer uma acusação federal de um caso que ficava na fronteira legal entre tráfico sexual e solicitação de prostituição, algo mais comumente tratado por promotores estaduais.

"Não estou dizendo que era a visão correta," Acosta acrescentou. Ele também disse que o público hoje provavelmente veria as sobreviventes de forma diferente.

"Houve muitas mudanças no depoimento das vítimas," disse Acosta.

Jennifer Freeman, advogada representando a acusadora de Epstein, Maria Farmer, e outras sobreviventes, disse no sábado que sua cliente se sente pressionada após a liberação do documento. Farmer buscou por anos documentos que respaldassem sua alegação de que Epstein e Maxwell estavam em posse de imagens de abuso sexual infantil.

"É um triunfo e uma tragédia", ela disse. "Parece que o governo não fez absolutamente nada. Coisas horríveis aconteceram e se eles investigassem de alguma forma mínima, eles poderiam ter parado ele."

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Lula pede que União Europeia mostre 'coragem' por acordo

Pressão exercida principalmente pelo governo francês adiou uma solução final

21/12/2025 11h00

Presidente Lula se reúne com Ursula Von Der Leyen, presidente da Comissão Europeia

Presidente Lula se reúne com Ursula Von Der Leyen, presidente da Comissão Europeia Foto: Presidência da República / Arquivo

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Ainda sem conseguir fechar um acordo com a União Europeia, os países integrantes do Mercosul tentam diversificar suas parcerias comerciais. Em discurso no sábado, 20, durante a 67.ª Cúpula do Mercosul, realizada em Foz do Iguaçu (PR), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que há negociações em curso com países como Japão e Vitenã.

"Infelizmente, a Europa ainda não se decidiu. Líderes europeus pediram tempo adicional para decidir sobre acordo", afirmou Lula, que voltou a instar os dirigentes do bloco europeu. "Sem vontade política e coragem por parte dos líderes, não será possível concluir negociações que se arrastam há 26 anos."

A ideia inicial era que um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia fosse assinado durante a cúpula - que marcou o encerramento da presidência rotativa brasileira do bloco, agora transferida para o Paraguai pelos próximos seis meses -, mas pressão exercida principalmente pelo governo francês adiou uma solução final.

Lula disse ter recebido, na última sexta-feira, uma carta dos presidentes da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do Conselho Europeu, António Costa, na qual ambos manifestam expectativa de ver o acordo aprovado em janeiro.

"Estávamos como o noivo esperando a noiva no altar", lamentou o presidente do Paraguai, Santiago Peña. "Perdemos uma oportunidade."

Já o presidente da Argentina, Javier Milei, voltou a fazer uma série de críticas ao Mercosul durante a plenária do bloco. Ele disse que os objetivos da união aduaneira nunca foram atingidos e que há excesso de burocracia interna, o que travou acordos como o com a União Europeia.

"O Mercosul nasceu com uma missão clara de promover o comércio, aumentar a prosperidade, integrar mercados e elevar a competitividade das nossas sociedades e nenhum dos objetivos centrais se cumpriu", disse Milei. "Não há mercado comum, não há livre circulação efetiva, não há coordenação macroeconômica, não há harmonização normativa real, não há incremento significativo de comércio interno, não há abertura suficiente ao mundo."

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