Política

Falando de arquitetura e urbanismo

O Haiti não é aqui...

O Haiti não é aqui...

CAIO NOGUEIRA

29/01/2010 - 01h34
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O terremoto do Haiti e suas consequências têm consternado o mundo, que assiste perplexo as perdas humanas e a destruição das cidades, casas, economia, infraestrutura, etc. Mas passada esta fase de profundo pesar, é preciso reconstruir o país e traçar as bases dessa reconstrução. Ao longo da história, muitas cidades ruíram e souberam se reerguer de hecatombes naturais ou provocadas pela ação humana. Dentre as que mais sofreram os efeitos devastadores da II Guerra Mundial, Londres, Stalingrado (atual Volgogrado), Dresden, Hiroshima e Nagasaki são exemplos do despropósito do conflito, mas também do poder de reconstrução dos povos atingidos. Bagdá ainda não se recompôs das trapalhadas da família Bush, mas a paz um dia reinará e há de trazer de volta seus dias de esplendor. Podemos colocar ainda na conta das idiossincrasias dos governantes o incêndio ordenado por Nero em Roma, no ano 64 da era cristã, sobre cujas cinzas implantaram-se um novo plano urbanístico e a Domus Áurea, palácio do imperador, onde trinta anos depois se ergueu o Coliseu. Duas grandes catástrofes naturais marcaram mudanças importantes nos rumos da Arquitetura e do Urbanismo: o terremoto de Lisboa, em 1755, e o incêndio de Chicago, em 1871 – ocorreram em momentos- chave da modernização de Portugal e dos Estados Unidos. Os tremores em Lisboa foram acompanhados por incêndios e ondas gigantescas que varreram a zona portuária, causando mais de 10 mil mortes. A reconstrução da cidade é uma metáfora das reformas promovidas pelo Marquês de Pombal, primeiro ministro de D. José I, no plano político, educacional e das relações do Estado com a Igreja. Para ele, após os seguidos abalos, era importante “enterrar os mortos e socorrer os vivos”, e “policiar ruas e edifícios mais importantes para evitar roubos”. A cidade foi reconstruída a partir do projeto do arquiteto Eugênio dos Santos e dos engenheiros Manuel da Maia e Carlos Mardel. O traçado é de inspiração neoclássica, com quadras reticuladas e largas avenidas que convergem para a praça que hoje tem o nome do Marquês, de onde parte o eixo formado pela Avenida da Liberdade, que conduz ao porto e à Praça do Comércio. Os edifícios passaram a obedecer a regras construtivas que visavam à maior segurança contra novos sismos e à unidade estética, obtida pela repetição da volumetria e dos elementos de fachada. A arquitetura do século XVIII se caracteriza por reunir valores clássicos que dominaram a Europa após as descobertas das escavações de Pompeia e Herculano, a partir de 1738. Ao mesmo tempo, o modelo neoclássico adequava-se a cidades que passaram a abrigar a atividade manufatureira, os bens e a riqueza agregada pela exploração colonial e uma nova mentalidade científica, que a filosofia denomina “Iluminismo”. Reza a lenda que, perguntado sobre a razão de ruas tão largas, que contrastavam com o antigo traçado medieval da cidade, Pombal confirmou a fama de déspota esclarecido ao predizer: “um dia hão de achálas estreitas”. Ao fim do século XIX, Chicago era um importante centro de produção agrícola e industrial, e entroncamento entre as principais hidrovias e ferrovias norte-americanas. A efervescência econômica e demográfica da cidade gerou um sistema construtivo denominado “baloon frame”, que dava rapidez à execução de casas em painéis de madeira. O incêndio iniciado em um estábulo espalhou-se pela cidade deixando um terço de seus moradores desabrigados. A reconstrução se deu sob um novo ordenamento urbano e a substituição da madeira pelo aço, mantendo-se o processo de execução de painéis para construção em série. Além disso, acrescentam-se outras tecnologias: a eletricidade como força motriz, o elevador, o telefone, enfim, foram dadas as condições para o nascimento do arranhacéu: símbolo da cidade moderna, da especulação imobiliária e da supremacia americana. A catástrofe do Haiti reúne o que de pior o homem e as condições naturais podem causar. O país, que já foi a mais próspera colônia latino-americana, tornou- se um pedaço miserável de terra cercado por mares de horror e iniquidade. Quando parecia que a cobiça internacional e a ambição dos líderes internos haviam concluído sua obra de degradação, eis que a natureza resolve mostrar sua força destrutiva. Já são mais de 175 mil os mortos pelo terremoto que assolou o país. Os que sobrevivem vagueiam errantes, saqueiam ou lutam entre si sobre os escombros da capital. O esforço da comunidade internacional para a reconstrução do Haiti não pode repetir os erros da trajetória política do país. É preciso ouvir a população, fortalecer o que resta de suas instituições e empregar os recursos econômicos e tecnológicos de que a humanidade dispõe. Ao mesmo tempo, os novos assentamentos requerem um novo urbanismo, uma nova arquitetura e técnicas construtivas mais adequadas às condições impostas pela natureza e ao convívio solidário entre os homens. Se isso ocorrer, o significado da reconstrução transcenderá os efeitos da modernização, como vimos em Lisboa e Chicago, e poderá se repetir em outras regiões do terceiro mundo. Em 1993 Caetano e Gil fizeram um disco antológico: Tropicália II é o retorno dos dois baianos ao que fazem de melhor: misturar referências musicais, poéticas e culturais, e deixar que dessa sopa de letras e canções se extraia uma visão de mundo ou, pelo menos, uma visão baiana de mundo... A canção que se destaca, entre ótimos baiões, sambas e blues, é Haiti, uma espécie de rap em que Caetano nos convida a pensar naquele país, em clara analogia com as condições da população pobre e negra no Brasil. Mas a vida imita a arte e nas tragédias parece superála. Os recentes abalos em Porto Príncipe e em outras regiões da ilha vêm mostrar que, se de um lado, o Havaí não é aqui, como o paraíso que Caetano desejava ao menino do Rio, também nunca tivemos entre nós situação sequer parecida com o inferno que hoje ocorre no Haiti. Lá, o buraco é bem mais embaixo.

Política

Avaliações positiva e negativa do STF crescem e mostram divisão da percepção da população

O porcentual de brasileiros que avaliam positivamente o trabalho do STF subiu de 23% para 33% entre julho e dezembro deste ano; percepção negativa, que segue predominante, avançou de 32% para 36%

19/12/2025 22h00

Supremo Tribunal Federal (STF)

Supremo Tribunal Federal (STF) Crédito: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

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Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta sexta-feira, 19, mostra que cresceram as avaliações positivas e negativas sobre o trabalho do Supremo Tribunal Federal (STF), mostrando uma divisão da percepção da população brasileira sobre a atuação da Corte.

O porcentual de brasileiros que avaliam positivamente o trabalho do STF subiu de 23% para 33% entre julho e dezembro deste ano. No mesmo período, a percepção negativa, que segue predominante, avançou de 32% para 36%. Já a avaliação regular recuou de 34% para 24%.

No intervalo entre os dois levantamentos, a Primeira Turma do STF condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e três meses de prisão pelos crimes de organização criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado contra o patrimônio da União.

Entre as duas edições da pesquisa, também houve mudança no comando da Corte. O ministro Edson Fachin assumiu a presidência do tribunal e o ministro Luís Roberto Barroso se aposentou. Fachin adota um perfil mais discreto e defende a chamada "autocontenção" do Judiciário, em contraste com o antecessor, que sustentava que o Supremo deveria exercer um "papel iluminista" e atuar de forma mais protagonista na definição de direitos.

No mesmo período, o secretário de Estado do governo Donald Trump, Marco Rubio, revogou o visto do ministro Alexandre de Moraes e de seus familiares, além de outros sete integrantes do STF. O governo dos Estados Unidos também aplicou sanções a Moraes com base na Lei Magnitsky, norma criada para punir violadores graves de direitos humanos. Foi a primeira vez que uma autoridade de um país democrático foi alvo das medidas previstas na legislação. Neste mês, o presidente Donald Trump retirou o nome do ministro da lista de sancionados.

Outros poderes

A pesquisa também avaliou os demais Poderes. No Legislativo, a percepção varia conforme a Casa. No Senado Federal, a maior parcela dos entrevistados (34%) classifica o desempenho como regular, porcentual que empata, dentro da margem de erro (2 p p), com a avaliação negativa, de 33%. A avaliação positiva soma 22%, enquanto 11% não souberam ou não quiseram responder.

Na Câmara dos Deputados, a avaliação negativa predomina: 36% consideram o trabalho ruim ou péssimo. A percepção, porém, está tecnicamente empatada com a avaliação regular, que alcança 35%. A avaliação positiva é de 20%, e 9% não responderam.

A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas presenciais entre os dias 11 e 14 de dezembro de 2025. O levantamento tem nível de confiança de 95% e margem de erro de dois pontos porcentuais. Os entrevistados puderam classificar cada Poder como ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo, com os resultados consolidados nas categorias positiva, regular e negativa.

Governo Lula

Em relação ao Executivo federal, 38% dos brasileiros avaliam que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faz um trabalho ruim ou péssimo. Outros 34% consideram a gestão boa ou ótima, enquanto 25% a classificam como regular. Já 3% não souberam ou não responderam.

Política

Ministro do Paraguai fala em disposição construtiva para avançar em acordo Mercosul-UE efetivo

Segundo Rubén Ramírez Lezcano, um dos desafios centrais para o Paraguai é a superação das assimetrias estruturais

19/12/2025 21h00

Segundo Rubén Ramírez Lezcano, um dos desafios centrais para o Paraguai é a superação das assimetrias estruturais

Segundo Rubén Ramírez Lezcano, um dos desafios centrais para o Paraguai é a superação das assimetrias estruturais Foto: Divulgação

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O ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, reafirmou a "disposição construtiva" para avançar na concretização efetiva do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE), durante a 67ª reunião do Conselho do Mercado Comum (CMC) do Mercosul, órgão decisório de nível ministerial do bloco, nesta sexta-feira, 19, segundo nota do Ministério de Relações Exteriores do país.

"Em particular, o Paraguai confia que os mecanismos de salvaguarda serão abordados e aplicados de maneira compatível com respeito ao negociado e acordado, e também de acordo com as normas multilaterais preservando o equilíbrio de direitos e obrigações das partes", disse Lezcano.

O chanceler também afirmou que "o Paraguai acredita e aposta em um Mercosul que funcione para todos, capaz de traduzir seus princípios em resultados concretos e de responder com pragmatismo e visão aos desafios estruturais que ainda persistem" na região.

Segundo Lezcano, um dos desafios centrais para o Paraguai é a superação das assimetrias estruturais entre os Estados Parte do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e, mais recentemente em 2024, Bolívia). "Não se trata de uma noção abstrata, mas de uma realidade econômica e geográfica que limita nosso desenvolvimento e condiciona nossa competitividade", disse, frisando que a condição mediterrânea do país impõe custos adicionais que encarecem as exportações e restringem a participação nas cadeias regionais de valor.

A reunião do CMC, em Foz do Iguaçu, nesta sexta-feira, foi majoritariamente fechada à imprensa.

No sábado, 20, o Brasil deve passar o bastão da Presidência Pro Tempore do bloco ao Paraguai, durante a 67ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, também em Foz do Iguaçu. 

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