Desde janeiro do último ano, 16 das 42 vítimas de crimes passionais morreram por golpes de faca no estado
Entre janeiro de 2024 e março deste ano, 16 dos 42 feminicídios registrados em Mato Grosso do Sul ocorreram por meio de golpes de faca, principal instrumento utilizado em crimes passionais ao longo dos últimos 15 meses em todo o estado.
Ao longo do último ano foram registradas 13 mortes por arma branca, em 2025, já três mortes deste tipo registradas pela Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
A última delas ocorreu neste sábado (29), após Alessandra da Silva Arruda, de 30 anos, ser morta com 10 facadas pelo pelo ex-companheiro em Nioaque, município a 183 quilômetros de Campo Grande, ela foi a 7ª vítima de feminicídio no estado em 2025.
Segundo apuração do jornal Jardim MS News, o autor do crime foi quem ligou para a polícia e pediu socorro à vítima, encontrada já sem vida pelos policiais.
O delegado titular da delegacia de Nioaque, Diego Sátiro, destacou que a morte foi motivada por um desentendimento do casal, que vivia no Bairro São Miguel. O autor do crime, Venilson Marques, de 32 anos, foi preso no início da tarde após se apresentar à delegacia. A faca usada no crime foi encontrada cheia de sangue e confiscada pela perícia. O corpo de Alessandra foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML).
Outros casos
Ano passado, outras tantas mulheres foram vítimas de golpes de faca em MS.
Na capital, em fevereiro, a diarista Joelma da Silva André, 33 anos, foi morta pelo próprio marido, Leonardo da Silva Lima, após sofrer nove facadas, três delas no rosto, cinco nas costas e uma no tórax, crime que ocorreu no bairro Nova Campo Grande.
No mês seguinte, em março, Dayane Xavier da Silva, 29, foi morta por quatro facadas pelo marido Thiago Echeverria Ribeiro, de 38 anos, no Bairro Nova Campo Grande. Em agosto último, o juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida o condenou a 21 anos em regime fechado.
Contratada para um programa sexual, Cristiane Eufrásio Millan, 42, foi morta em abril, com 36 facadas após se recusar a fazer sexo com Sérgio Guenka, 52. Conforme apurado à época, ambos estavam na residência de Guenka, que após matá-la, dormiu ao lado de seu corpo por dois dias consecutivos.
Na ocasião, a defesa de Guenka alegou esquizofrenia do homem, que morreu no Hospital Regional após passar mal na Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande, em agosto último.
Vítima do próprio filho de 16 anos, Regina Fátima Monteiro de Arruda, de 52, foi morta com 20 facadas, sendo 9 delas no rosto. O jovem disse que era humilhado pela mãe, fator que, segundo ele, motivou o crime. O fato ocorreu na Rua Macarai, no Jardim Zé Pereira, na capital. Na data, o garoto foi custodiado em uma unidade penal.
Interior
Em São Gabriel do Oeste, em janeiro de 2024, Maria Rodrigues da Silva, 66 anos, foi morta pelo ex-companheiro, de 69 anos, ao ser atingida por uma facada no tórax após discutirem por conta de um veículo, briga que também envolveu o neto da vítima.
Nove dias depois, em Coxim, Marta Leila Silva Neto, 36 anos, foi morta pelo namorado Sipriano Nascimento de Oliveira, durante uma discussão na qual tentava expulsá-lo de casa. À época, segundo o boletim de ocorrência, Marta teria ido até a cozinha e buscado uma faca após sentir-se acuada por Sipriano, que revidou por diversas vezes contra a mulher, que morreu no local.
Esfaqueada no pescoço pelo próprio irmão, Giovani de Souza, Gisieli de Souza, 28 anos, morreu em Dourados após discussão familiar. Conforme a polícia, o crime ocorreu após ambos se desentenderem. Gisieli lutou pela vida por 15 dias, mas não resistiu.
Em Ivinhema, Mariana Agostinho Defensor, de 32 anos, foi morta a facadas pelo companheiro, que confessou o crime após passar um período inconsciente. O crime ocorreu em setembro e a jovem passou um dia desaparecida até ser encontrada pela polícia. Na ocasião, o nome do homem não foi divulgado.
No mesmo mês, Marlene Salete Mees, de 54 anos, foi morta por nove facadas pelo marido, crime que aconteceu no bairro Fração da Chácara, em Amambai. O homem cometeu o crime na frente da filha da vítima, de apenas 11 anos.
No último dia 10 deste mês, Vanessa de Souza Amâncio, 43 anos, foi morta pelo ex-marido, Gecildo Gomes, no bairro Santa Terezinha, em Três Lagoas.
Uma semana depois, Sueli Maria Conceição da Silva, de 56 anos, foi morta a golpes de faca no Jardim Paraíso, em Naviraí. O ex-companheiro, Carlos Pereira da Silva, de 45 anos, foi apontado como autor do crime.
2025
Além de Alessandra, outros dois feminicídios registrados neste ano envolveram arma branca. Em fevereiro, a jornalista Vanessa Ricarte, foi assassinada a facadas pelo ex-noivo Caio Nascimento.
Ela procurou a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) no dia 13 daquele mês para denunciar o companheiro por violência doméstica e solicitar medida protetiva, mas, ao retornar para casa, deu de cara com Caio, que após discussão, desferiu diversos golpes de faca contra o pescoço, peito e barriga da jornalista.
Do mesmo modo, Juliana Domingues, de 28 anos, foi assassinada com golpes de foice pelo marido, no último dia 18, na comunidade indígena Nhu Porã. O esposo foi identificado como Wilson Garcia, de 28 anos. Ele cometeu o crime na frente do filho do casal, de 8 anos.
Recolhimento de armas
Em recente entrevista ao Correio do Estado, a psicóloga Pietra Garcia Oliveira, psicopedagoga e analista comportamental, destacou que o alto índice de feminicídios causados por arma branca pode ser explicado também pelo recolhimento de armas de fogo.
“Na ausência da arma de fogo, esses crimes acontecem com armas brancas e objetos perfurocortantes”, disse ao Correio do Estado.
“Por muita das vezes, há que se atentar, inclusive, às narrativas de defesa da honra por parte dos homens, que por algum motivo, se sintam invalidados, e adotem esse tipo de comportamento”, acrescentou Pietra Garcia.
A profissional destacou que é preciso pensar políticas públicas efetivas que protejam as mulheres e busquem reduzir os casos, uma vez que os crimes deste tipo se repetem anualmente.
Desde 2015, a Lei 13.104/2015 categoriza o crime de feminicídio. De lá para cá, segundo a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), 325 mulheres foram vitimadas em todo o Estado.
Saiba*
Neste período, também foram registradas mortes por estrangulamento, atropelamento, agressões e arma de fogo
**Colaborou Felipe Machado
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