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Sônia Puxiam: "Ops! Estão ligando no meu celular"

Jornalista

Redação

10/06/2016 - 02h00
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O Brasil ocupa o quinto lugar em número de acessos à Internet, perdendo apenas para a China, Estados Unidos, Índia e Japão. E quando o assunto é celular, os brasileiros disparam na frente de muita gente, com crescimento de 100% em seis anos.  

O aparelho já é parte do dia-a-dia da maioria, pode-se até arriscar a dizer que faz parte da família. Ugh! Em tudo ele está presente e tem até um papel importante, porque conecta as pessoas, passa informação e oferece várias opções de comunicação e serviços.

Com ele você filma, grava, posa para uma foto, ou melhor, várias fotos, afinal quem é que resiste, e envia na hora através das redes sociais; você efetua pagamentos, consulta seu saldo bancário, envia mensagens, sem falar no WatsApp que virou epidemia. E quase ninguém fica sem ele!

Dia desses ao tomar um cafezinho num local aconchegante e badalado verifiquei que na mesa ao lado havia um grupo de quatro amigas: duas delas conversavam animadamente e bastante entrosadas, sem se referir às demais; a outra moça ao lado permaneceu calada, sem participar da conversa e a quarta ficou teclando no celular o tempo todo. Em resumo, só duas estavam presentes...

Em outra mesa estavam apenas duas amigas e a conversa fluiu animada e interessante, sem desvios de olhar e atenção. E assim permaneceram até que depois de bom tempo chegou uma terceira e juntou-se ao grupo. Foi nesse momento que a conversa mudou e mais uma vez a terceira ficou na ponta do triângulo, ou seja, a atenção foi dividida e algumas vezes esquecida. Pois é!

Curioso o relacionamento entre as pessoas hoje em dia! A maioria estabelece parâmetros de comunicação e entrosamento, mas quase sempre quem ganha a parada e nunca sai da conversa é o celular, afinal se alguém estiver no grupo e o aparelho tocar, imediatamente interrompe-se a conversa para atender quem está do outro lado da linha.

Há uns meses atrás, passeando pelo Shopping em São Paulo uma cena me chamou a atenção: uma criança de uns três anos de idade aproximadamente estava no carrinho e passeava tranquilamente com o irmãozinho e a mãe, mas não participava de nada, estava totalmente envolvida nos joguinhos do tablet que trazia entre as mãozinhas.

Eu olhei para aquela cena e fiquei atenta. A criança estava tão entrosada na tela do aparelho que o passeio pra ela não fez a menor diferença, de nada valeu sair ou ficar em casa uma vez que a atenção estava voltada exclusivamente para o tablet.

Curiosa, me aproximei e perguntei para a mãe se a criança já sabia manusear o aparelho e ela me disse que sim, ela assiste filminhos infantis e brinca com joguinhos fáceis de manusear. E completou dizendo que desde menor ela entretém a criança com o tablet porque assim ela fica quietinha. Ugh! 

Mas o celular tem lá seus mistérios e alguns arquivos privados protegidos por senha. Agora imagina a relação de um casal de namorados se um dos dois quiser dar uma olhada nas fotos ou mensagens do outro: vai ser problema! É claro que cada qual tem lá os seus motivos para conservar a privacidade e nada melhor do que um aparelho celular para tentar descobrir algum deslize ou mensagem inconveniente recebida por outra pessoa.

Muitos casos de romance sério terminaram porque ao pegar escondido o celular do parceiro descobriu-se que havia uma relação antiga com outra pessoa e a troca de palavras amorosas entre ambos era feita também pelo celular... Viu só? O aparelho além de tudo é um amigo fiel, esconde segredos, desde que não seja invadido por outrem.

 Cuidado! Quando existe senha no celular e a maioria deles tem, o melhor a fazer é não tentar descobrir ou perguntar qual é o número, porque você pode se deparar com segredos nunca antes revelados.
Ops! Estão ligando no meu celular, com licença, vou atender...

ARTIGOS

O que tem para dizer o MPF?

19/11/2024 07h45

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O que há de ser entendido no silêncio que o Ministério Público Federal (MPF) adotou – quando se calou e se mantém calado – diante da solução que os governos federal e estadual encontraram para pôr fim ao caso da Terra Indígena (TI) Ñande Ru Marangatu, em Mato Grosso do Sul?

Como é sabido, a questão abarcava conflitos violentos que vinham acontecendo há décadas entre indígenas e não indígenas. Esses conflitos foram desencadeados a partir da instrução do processo administrativo em que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) demarcou – pela ocupação indígena em passado remoto que ela mesmo declarou – um território inteiro de terras particulares em Antônio João, até então, integralmente ocupado, possuído e explorado há quase um século por seus respectivos proprietários. 

O que amparava esses conflitos era a teoria do indigenato, de 1912, do ministro João Mendes, que pela ocupação indígena em passado remoto identificou a TI Ñande Ru Marangatu. Essa forma de identificação de terra indígena tem sido a causa das incontáveis invasões indígenas às terras particulares que ocorreram e que ocorrem todos os dias em MS e em muitas regiões do território nacional.

Lado outro, a Comissão Especial de Autocomposição do Supremo Tribunal Federal (STF) homologou o acordo, o que leva concluir que a mais alta Corte de Justiça concorda com esse modus operandi de se identificar terras indígenas e o adota, como se tanto fosse possível, na solução das causas que julga envolvendo matéria indígena. O exemplo mais recente envolve o julgamento do Recurso Extraordinário nº 1.017.365/SC.

Aliás, a Corte faz confusão quando identifica terras indígenas. Ora adota a teoria do indigenato, ora adota a sua própria interpretação, proclamada na assertiva de que a “configuração de terras ‘tradicionalmente ocupadas’ pelos índios já foi pacificada com a edição da Súmula nº 650, que dispõe: ‘Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto’”.

Notadamente, o STF relativizou ainda mais o direito de propriedade constitucional diante da matéria indígena, proclamando que, uma vez constatada a ocupação indígena em passado remoto, não há que se invocar o direito de propriedade, o título translativo nem a cadeia sucessória do domínio como defesa. Em resumo, o posicionamento extremo do Supremo é de que a ocupação indígena – seja ela presente, seja ela em passado remoto (indigenato) – define a terra indígena da União. 

A seu turno, por que o MPF – ferrenho defensor dessa ordem jurídica – deixou que os governos federal e estadual pagassem aos particulares pelas terras indígenas que ocupavam e exploravam no distrito de Campestre, em Antônio João? Com a palavra, o MPF em Mato Grosso do Sul!

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A resiliência e a fé

19/11/2024 07h30

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Os desafios diários enfrentados por quem atua na proteção da natureza têm se tornado uma enorme prova de resistência e fé. As condições climáticas extremas, impulsionadas pelas altas temperaturas, ameaçam nossas reservas com o fogo e penalizam a fauna e a flora – já impactadas pela reincidência de incêndios violentos desde 2020.

Percebo que a fauna enfrenta o pior processo de extinção desde o período em que conseguimos a vitória no controle da caça, do tráfico de animais silvestres e da pesca predatória na década de 1980. O cenário atual é de destruição de habitat natural, em que espécies estão sendo dizimadas de forma assustadora, especialmente répteis e insetos. As chamas estão tão intensas que, somadas aos ventos fortes, invadem todos os lugares: locas, copas das árvores, etc, persistindo por meses de forma impiedosa.

Não há dúvidas de que estamos perdendo essa batalha. Somente neste ano já ultrapassamos os 3 milhões de hectares queimados. Esse trágico número foi alcançado mesmo com o empenho de recursos financeiros nas ações de combate, que certamente superam R$ 1 bilhão – entre os investimentos dos governos federal e estadual.

Nunca tivemos – em um histórico de 40 anos – uma infraestrutura de combate tão ampla, incluindo recursos humanos, equipamentos de logística, helicópteros, caminhões e embarcações. É importante destacar o trabalho pioneiro da Famasul, que contabiliza os prejuízos na produção das fazendas no Pantanal, já ultrapassando R$ 50 milhões.

Como podemos ser mais eficientes se nossa capacidade financeira já extrapola seus limites dos desafios e a força humana se mostra insuficiente, em algumas situações até incapaz? Estamos enfrentando algo sem precedentes e que excede nossa capacidade de resposta.

Não devemos nos omitir na identificação dos responsáveis. Eles existem, embora sejam poucos. Ainda assim, acredito que não haverá melhoras significativas na questão comportamental apenas com multas milionárias e possíveis prisões. 

A experiência de outros países, como Portugal e Austrália, nos indica que o ímpeto punitivo não traz uma solução completa. Esses países já lidam com incêndios gigantescos e perdas de vidas humanas em virtude deles há mais de 20 anos.

O mais impressionante – e certamente mais doloroso que as próprias chamas – são as acusações equivocadas e a ignorância de alguns que associam o crescimento dos incêndios às reservas de proteção. Ao contrário, as poucas áreas protegidas no Pantanal (menos de 5%) têm estruturas para evitar incêndios e ações preventivas em seus planos de trabalho, como a presença de brigadas.

Podemos reduzir a escalada dos incêndios ano após ano se implementarmos outras estratégias que não se restrinjam ao combate ao fogo, mas que incluam 
a prevenção. Devemos reconhecer que nossos planos atuais não estão trazendo os resultados esperados e que não será somente o aumento dos investimentos financeiros que nos trará a solução.

O ponto crítico é como um dos biomas mais preservados (cerca de 85%) passou a ser um grande emissor de gás carbônico no País. Os fenômenos naturais são impactados negativamente pelas condições climáticas extremas. Essa situação ameaça nosso bioma e exige novas estratégias que unam ciência e competência para enfrentar esses fenômenos sem precedentes.

Restaurar ao proprietário formas de manejo do fogo pode ser uma alternativa. Eles podem ajudar. Ao mesmo tempo, com mais tecnologia e grupos de ação de combate ao fogo, equipados com boa logística e equipamentos adequados, podemos reduzir o tempo de resposta. Não podemos desistir e precisamos ter fé e resistência para rever nossa relação com o planeta.

Poderíamos, em um gesto responsável, olhar e fazer algo pela nascente do Rio Paraguai. Não sou pessimista, mas talvez apenas a desesperança e o senso de urgência possam nos salvar.

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