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Sônia Puxian: "Corei de vergonha! Nem acreditei no que ouvi"

Jornalista

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Escrever é uma forma de se expor. Cada qual coloca no papel o que vai no coração e na ideia, logo demonstra sua opinião, sentimento e modo de pensar. “Dize-me o que escreves e te direi quem és!”. Ops! Nasceu agora essa frase, num momento de inspiração. 

Escrever, para mim, é algo natural e quase sempre o texto nasce pronto, fruto de inspiração e espontaneidade, aí então é só deslizar a caneta sobre o papel como faço agora. Deixei de lado o que estava fazendo e obedeci ao meu pensamento que trouxe esse tema de uma maneira natural e rápida. Vamos lá!

Eu me recordo que no tempo de escola, (estudei no Colégio Assunção, um dos melhores de São Paulo, no bairro nobre dos Jardins) eu tive uma professora da Língua Portuguesa considerada a melhor e mais competente, pelo conhecimento e rigidez em sala de aula. Certa vez na entrega das provas a minha ficou por último e eu fiquei preocupada. Ao terminar a entrega ela comentou com a classe: “Essa eu deixei por último porque quero comentar. Essa prova é da Sônia”, e prosseguiu: “Quero apresentar como modelo de prova perfeita, a melhor nota da sala, sem erro de Português, conteúdo claro, respostas exatas e texto conciso”. 

Nossa! Corei de vergonha! Nem acreditei no que ouvi... Fiquei emocionada e fui pega de surpresa. Eu estava ansiosa pela nota porque a professora nunca tinha dado nota 10, era impossível isso acontecer, e até comigo foi assim. Ela levantou a minha prova para a sala e disse que foi a melhor, só descontou um décimo por conta de uma vírgula. E escreveu ao lado da nota: “Parabéns!”. Aquilo ficou gravado pra sempre na minha memória. 

Nem pude me conter de alegria porque eu nem sabia que sabia tanto... E no momento em que atravessei a sala para receber a prova, a sala toda falou:  “A Sônia é um gênio!”. Fiquei mais corada ainda. Todas queriam ver a minha prova. E assim foi! Senti-me muito reconhecida. Só pra esclarecer, a pergunta feita nessa prova teve que ser traduzida pela professora porque a maioria não entendeu a pergunta, inclusive eu.

E pra complementar, no tempo em que cursei Jornalismo, o professor mais conceituado do Curso virou-se pra mim e disse: “Você não precisa estudar, já sabe muito!”. E brincando respondi: “Eu vim ajudar vocês e testar vosso conhecimento...”. Sorrindo ele falou: “Tinha que ser Sônia Puxian!”. E rimos juntos... E não foram poucas as vezes que ouvi isso, sendo também dito por professores do curso de Direito, Publicidade. Curioso que eram sempre os professores mais rígidos e exigentes que reconheciam essa questão. E pra confessar quero dizer que a minha admiração também sempre foi pelos professores mais exigentes, porque eles sabiam mais, logo eu aprenderia mais também.

Mas olhando para esse tempo eu me dei conta que tinha o dom da escrita, era algo natural e posso até dizer espontâneo. E tem outro detalhe, sempre gostei muito de ler, então o conteúdo brota facilmente porque o conhecimento se expande.  

Tenho a impressão que estou falando muito de mim, talvez até me elogiando, mas não é nada disso, é apenas a vontade e o desejo de compartilhar com vocês, caros leitores, momentos que foram significativos em minha vida e marcaram presença. 

O leitor é a extensão desses momentos porque é em respeito a ele e à sua presença nessa página de jornal que eu me inspiro a escrever cada texto. Eu me sinto em uma sala de estar trocando palavras. Isso me faz feliz! Tenham a certeza de que toda  palavra é a expressão maior de um sentimento que segue à risca o desejo de ser o mais fiel possível a essa espontaneidade da escrita. 

É por meio dela que nos comunicamos mesmo sem estarmos próximos. Isso é muito bom. Só para registrar, dia desses caminhando pela rua, uma moça veio ao meu encontro e perguntou: “Você é jornalista?”. Curiosa, perguntei como sabia, e ela respondeu: “Leio todos seus artigos no Correio do Estado e gosto muito!”. Puxa, isso me alegrou. Gosto!    

Agradeço atenção, amo estar aqui.

Tenham ótimos dias, sejam felizessssssssssss...

ARTIGOS

O que tem para dizer o MPF?

19/11/2024 07h45

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O que há de ser entendido no silêncio que o Ministério Público Federal (MPF) adotou – quando se calou e se mantém calado – diante da solução que os governos federal e estadual encontraram para pôr fim ao caso da Terra Indígena (TI) Ñande Ru Marangatu, em Mato Grosso do Sul?

Como é sabido, a questão abarcava conflitos violentos que vinham acontecendo há décadas entre indígenas e não indígenas. Esses conflitos foram desencadeados a partir da instrução do processo administrativo em que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) demarcou – pela ocupação indígena em passado remoto que ela mesmo declarou – um território inteiro de terras particulares em Antônio João, até então, integralmente ocupado, possuído e explorado há quase um século por seus respectivos proprietários. 

O que amparava esses conflitos era a teoria do indigenato, de 1912, do ministro João Mendes, que pela ocupação indígena em passado remoto identificou a TI Ñande Ru Marangatu. Essa forma de identificação de terra indígena tem sido a causa das incontáveis invasões indígenas às terras particulares que ocorreram e que ocorrem todos os dias em MS e em muitas regiões do território nacional.

Lado outro, a Comissão Especial de Autocomposição do Supremo Tribunal Federal (STF) homologou o acordo, o que leva concluir que a mais alta Corte de Justiça concorda com esse modus operandi de se identificar terras indígenas e o adota, como se tanto fosse possível, na solução das causas que julga envolvendo matéria indígena. O exemplo mais recente envolve o julgamento do Recurso Extraordinário nº 1.017.365/SC.

Aliás, a Corte faz confusão quando identifica terras indígenas. Ora adota a teoria do indigenato, ora adota a sua própria interpretação, proclamada na assertiva de que a “configuração de terras ‘tradicionalmente ocupadas’ pelos índios já foi pacificada com a edição da Súmula nº 650, que dispõe: ‘Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto’”.

Notadamente, o STF relativizou ainda mais o direito de propriedade constitucional diante da matéria indígena, proclamando que, uma vez constatada a ocupação indígena em passado remoto, não há que se invocar o direito de propriedade, o título translativo nem a cadeia sucessória do domínio como defesa. Em resumo, o posicionamento extremo do Supremo é de que a ocupação indígena – seja ela presente, seja ela em passado remoto (indigenato) – define a terra indígena da União. 

A seu turno, por que o MPF – ferrenho defensor dessa ordem jurídica – deixou que os governos federal e estadual pagassem aos particulares pelas terras indígenas que ocupavam e exploravam no distrito de Campestre, em Antônio João? Com a palavra, o MPF em Mato Grosso do Sul!

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A resiliência e a fé

19/11/2024 07h30

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Os desafios diários enfrentados por quem atua na proteção da natureza têm se tornado uma enorme prova de resistência e fé. As condições climáticas extremas, impulsionadas pelas altas temperaturas, ameaçam nossas reservas com o fogo e penalizam a fauna e a flora – já impactadas pela reincidência de incêndios violentos desde 2020.

Percebo que a fauna enfrenta o pior processo de extinção desde o período em que conseguimos a vitória no controle da caça, do tráfico de animais silvestres e da pesca predatória na década de 1980. O cenário atual é de destruição de habitat natural, em que espécies estão sendo dizimadas de forma assustadora, especialmente répteis e insetos. As chamas estão tão intensas que, somadas aos ventos fortes, invadem todos os lugares: locas, copas das árvores, etc, persistindo por meses de forma impiedosa.

Não há dúvidas de que estamos perdendo essa batalha. Somente neste ano já ultrapassamos os 3 milhões de hectares queimados. Esse trágico número foi alcançado mesmo com o empenho de recursos financeiros nas ações de combate, que certamente superam R$ 1 bilhão – entre os investimentos dos governos federal e estadual.

Nunca tivemos – em um histórico de 40 anos – uma infraestrutura de combate tão ampla, incluindo recursos humanos, equipamentos de logística, helicópteros, caminhões e embarcações. É importante destacar o trabalho pioneiro da Famasul, que contabiliza os prejuízos na produção das fazendas no Pantanal, já ultrapassando R$ 50 milhões.

Como podemos ser mais eficientes se nossa capacidade financeira já extrapola seus limites dos desafios e a força humana se mostra insuficiente, em algumas situações até incapaz? Estamos enfrentando algo sem precedentes e que excede nossa capacidade de resposta.

Não devemos nos omitir na identificação dos responsáveis. Eles existem, embora sejam poucos. Ainda assim, acredito que não haverá melhoras significativas na questão comportamental apenas com multas milionárias e possíveis prisões. 

A experiência de outros países, como Portugal e Austrália, nos indica que o ímpeto punitivo não traz uma solução completa. Esses países já lidam com incêndios gigantescos e perdas de vidas humanas em virtude deles há mais de 20 anos.

O mais impressionante – e certamente mais doloroso que as próprias chamas – são as acusações equivocadas e a ignorância de alguns que associam o crescimento dos incêndios às reservas de proteção. Ao contrário, as poucas áreas protegidas no Pantanal (menos de 5%) têm estruturas para evitar incêndios e ações preventivas em seus planos de trabalho, como a presença de brigadas.

Podemos reduzir a escalada dos incêndios ano após ano se implementarmos outras estratégias que não se restrinjam ao combate ao fogo, mas que incluam 
a prevenção. Devemos reconhecer que nossos planos atuais não estão trazendo os resultados esperados e que não será somente o aumento dos investimentos financeiros que nos trará a solução.

O ponto crítico é como um dos biomas mais preservados (cerca de 85%) passou a ser um grande emissor de gás carbônico no País. Os fenômenos naturais são impactados negativamente pelas condições climáticas extremas. Essa situação ameaça nosso bioma e exige novas estratégias que unam ciência e competência para enfrentar esses fenômenos sem precedentes.

Restaurar ao proprietário formas de manejo do fogo pode ser uma alternativa. Eles podem ajudar. Ao mesmo tempo, com mais tecnologia e grupos de ação de combate ao fogo, equipados com boa logística e equipamentos adequados, podemos reduzir o tempo de resposta. Não podemos desistir e precisamos ter fé e resistência para rever nossa relação com o planeta.

Poderíamos, em um gesto responsável, olhar e fazer algo pela nascente do Rio Paraguai. Não sou pessimista, mas talvez apenas a desesperança e o senso de urgência possam nos salvar.

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