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OPINIÃO

Sônia Puxian: "Enquanto isso..."

Jornalista

Redação

29/07/2017 - 01h00
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Na fila do Caixa do Supermercado dois senhores conversavam entre si: “Pois é! Já não basta a situação caótica em que o país se encontra e agora vem o aumento do PIS/COFINS sobre o combustível. E não foi pouco não. O desemprego toma conta de milhares de brasileiros que já não sabem mais onde recorrer e agora mais essa”. 

E o outro senhor indignado respondeu: “Já não sei mais o que pensar e o que falar, parece que o povo brasileiro já não tem mais voz, nada acontece pra mudar o panorama sombrio”. E desanimado, completou: “Restou apenas indignação e desânimo porque a situação não mostra caminhos que desafoguem a angústia e o desespero da população”.

E a conversa se prolongou porque a fila era grande... Deu pra colocar o assunto em dia e medir o grau de insatisfação que toma conta de tantos brasileiros que já não sabem mais onde recorrer. 

Recorrer ou correr da situação? Ninguém sabe, o que se sabe é o que se vê, e o que se vê é o que decidem fazer e fazem, sem perceber que a medida do povo está diminuindo cada vez mais diante das novas medidas. Muitos brasileiros estão deixando o Brasil e outros já saíram há algum tempo. Será que restou outra alternativa? No exterior a seriedade com que se trata o dinheiro dá uma sensação de segurança ao saber que o gasto mensal pode ser calculado e mantido. Não acontecem alterações bruscas nos preços e a economia é estável, possibilitando uma garantia de que no fim do mês as contas serão pagas. 

Por outro lado, o que se nota é que os brasileiros economizam de um lado pra dar conta das contas a pagar, mas por outro lado os aumentos que aparecem de surpresa consomem os valores do salário que já não tem mais valor devido ao aumento de tantos itens de consumo obrigatório.   

O desmerecimento com a população é grande e não é em poucos lugares. Parece que as pessoas foram reduzidas a alguém que não merece consideração ou respeito. Quando se vai às compras tem se a impressão de que é tudo normal. Como assim? Quando se compra o pão ele já está velho... Ugh! Pois é! Nem sempre o pão que está disponível aos clientes no cesto é do mesmo dia. Se tiver a sorte de pegar o pãozinho saindo do forno, comemore. Caso contrário acostume-se a comer pão velho, comprado na hora.... Você não gosta?

A carne nunca se sabe a procedência ou de onde ela veio. Se tiver sorte de comprar uma carne que mesmo depois de muito cozida dê pra mastigar dê-se por feliz. Na maioria das vezes ela fica dura mesmo cozinhando por muitas e muitas horas. Melhor não procurar a resposta, muito embora ela exista. Ou será que foi para o exterior.

Tudo isso e muito mais se ouve na fila do Caixa do Supermercado e dá até pra ficar esperta para as próximas compras. Sem falar nas comidas frias que se come em restaurantes. Hummm.... Será que estão economizando gás também? E olha que são restaurantes requintados. E a pizza? Você gosta de comer pizza fria? Está na hora de mudar os hábitos e preferir comida, carnes e pizza frias. Pode ser que as coisas mudaram e não avisaram ninguém.  

E tenta pedir pra esquentar que você vai ver o que vem... Melhor só imaginar. Sem contar que o atendimento está indo muito bem. Mas está indo pra onde? Ah isso é difícil saber. Tudo isso, vale repetir, é comentado em filas de supermercados ou em algum outro momento. Parece que a desconsideração anda às soltas, mas será que um dia vai ser pega? Ninguém sabe, tudo anda à vontade, a cortesia saiu de linha e o respeito deve também ter se mudado do Brasil.

Mas e quem não pode se mudar do Brasil? Pergunta difícil. Tentar mudar alguma situação é impossível, buscar saídas parece utopia, mas na hora do aperto fiscal aí sim fica tudo fácil: “Desconta do povo”. Ah, a população vai compreender.

Enquanto isso o povo desabafa nas filas do Caixa do Supermercado. Isso ele ainda pode fazer! Tenham ótimos dias...

ARTIGOS

Eleição sem Bolsonaro? Bolsonarismo sem Bolsonaro? O peso do ex-presidente em 2026

07/04/2025 07h15

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Ao aceitar a denúncia contra Jair Bolsonaro, o STF sedimentou o entendimento de que a eleição presidencial de 2026 ocorrerá sem a presença do ex-presidente na lista de candidatos. A inelegibilidade já era uma realidade, em função da decisão emanada pelo TSE, entretanto, a trilha aberta na semana passada consolida este caminho e afasta praticamente de forma definitiva a candidatura do capitão.

Bolsonaro, entretanto, possui um ativo valioso na arena política: votos. Algo que se tornou importante não somente pela habilidade de eleger representantes, mas pela capacidade de produzir em profusão um milionário fundo partidário e eleitoral, aquilo que faz a máquina e as campanhas funcionarem. No modelo adotado pelo Brasil pós-Lava Jato, que proibiu as doações empresariais, a quantidade de deputados se tornou a conta mais importante de qualquer partido, pois seu resultado é aquilo que indica qual a fatia do bolo ficará com cada agremiação.

Neste jogo, o bolsonarismo tornou-se uma moeda valiosa. Em um primeiro momento, elegeu hordas de deputados na esteira de seu líder, em 2018, com inúmeros nomes desconhecidos que passaram a orbitar o cenário político. Em 2022, o fenômeno se repetiu. Aqueles que romperam com Bolsonaro foram punidos pelo eleitor, já aqueles que optaram pela fidelidade canina foram agraciados com votações robustas. Bolsonaro, que havia sido responsável direto pela eleição de 52 deputados pelo PSL em 2018, ajudou a eleger 99 no PL em 2022.

A força do bolsonarismo se tornou um ativo tão potente em termos eleitorais que muitos deputados tradicionais, já conhecidos do eleitor, abraçaram o ex-presidente como forma de garantir seus mandatos. Alguns migraram para seu partido, enquanto outras siglas encontraram na aliança com o bolsonarismo uma forma de crescer e criar maior envergadura política. Republicanos, Progressistas e até setores do União Brasil embarcaram neste caminho.

Tudo isso tem relação com as eleições de 2026. Com Bolsonaro inelegível, o desenho deste cenário se tornou algo delicado, que precisa ser estudado com atenção, sob pena de perda de fatias importantes de fundo partidário e eleitoral no próximo ciclo. Mais do que isso, ainda é possível contar com a variável da eventual prisão de Bolsonaro, passível de acontecer, em razão do julgamento que ocorrerá no STF.

Bolsonaro diz que segue candidato e que manterá seu nome na disputa até o fim, ou melhor, até o julgamento de sua candidatura pelo TSE, que, em condições normais de temperatura e pressão, seguramente será impugnada, assim como ocorreu com Lula em 2018. Neste cenário, resta saber quem será seu companheiro de chapa, aquele que vai herdar a candidatura e poderá levar seu movimento adiante. Este será aquele nome responsável por impulsionar as candidaturas proporcionais e, eventualmente, vencer a disputa pelo Planalto. Muitos consideram que, nesse cenário, o bolsonarismo pode inclusive se fortalecer ainda mais. A conferir.

Fato é que tudo indica uma eleição sem Bolsonaro na lista de candidatos presidenciais, porém, isto está longe de ser uma eleição sem Bolsonaro. Seu nome, dentro ou fora da disputa, vai balizar cada etapa do pleito de 2026.

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ARTIGOS

Aumento de policiamento e redução das desigualdades, políticas que se complementam

05/04/2025 07h45

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Recentemente, foi noticiado por vários jornais que o atual governo tem acenado para a questão da violência de forma diferente do que se costuma ver em posições políticas orientadas mais à esquerda. Normalmente, nessas vertentes, a violência urbana tende a ser vinculada à questão da desigualdade social, o que, em situações discursivas extremas ou emocionadas, atribui às pessoas que cometem delitos a pecha de vítimas da desigualdade social.

Por outro lado, o discurso político acerca da violência, em posições políticas orientadas mais para a direita, atribui sua causa à impunidade, que, para eles, é própria do sistema judicial brasileiro, acrescida da falta de policiamento ou de um corpo policial mal equipado.

Durante anos, e ainda hoje, o debate político sobre a segurança pública tende a exaltar uma das visões e, como se fosse algo automático, excluir a outra. Apesar do tom eleitoreiro das declarações do atual presidente da República, se fôssemos analisar esse fato com certo otimismo (um erro que cometemos muitas vezes), poderíamos dizer que, finalmente, alguém pode ter enxergado o óbvio: as políticas “opostas” acerca da segurança pública são, na verdade, complementares.

Tem razão a direita ao afirmar que o policiamento fraco e a pouca ostensividade ampliam a atuação criminosa em toda a sociedade, abrindo caminho para o crescimento do já bastante hegemônico crime organizado. Somente com policiamento constante, policiais bem remunerados e bem treinados, especialmente na correta aplicação dos procedimentos de abordagem policial, teríamos alguma chance de mitigar o crime organizado já existente. Daí se percebe, ainda que com certa cautela, o reconhecimento das guardas municipais como agentes de segurança.

No entanto, a esquerda também tem razão ao afirmar que não há contingente policial capaz de conter a criminalidade e seu crescimento em países com alta desigualdade social. Em países capitalistas, como o Brasil, o poder de consumo é a grande meta de seus cidadãos. Contudo, em uma sociedade desigual, uma parcela significativa da população não tem condições – e, em muitos casos, nunca terá – de alcançar um padrão razoável de consumo. Quanto maior for o número de pessoas que desejam consumir, mas não têm recursos para isso, mais “ovelhas negras” optarão pela via rápida para conseguir, ou seja, o crime.

É de se notar, no entanto, que as duas políticas propostas atuam em momentos distintos da criminalidade. A “direita” se preocupa com a criminalidade já existente e constituída, o que exige, naturalmente, uma atuação mais ostensiva e imediata. Nesses casos, a atuação policial não é apenas positiva, mas fundamental para o combate ao crime.

A “esquerda”, por sua vez, busca políticas que evitem o “embrião” do crime, desenvolvido em ambientes periféricos e profundamente desiguais, como bem explorado pela sociologia e criminologia que estudam o tema. A questão que se impõe é: por que não desenvolver uma política de segurança pública que combata ambos os momentos? Por que uma precisa ser aplicada em detrimento da outra?

Como dito, não há contradição nos discursos sobre segurança pública de ambos os lados e, se fossem adotados de maneira concomitante, o quadro da segurança pública nacional certamente seria outro. Nosso otimismo nos leva a crer que, talvez, haja uma esperança.

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