Brasil

FALTA DE TRANSPARÊNCIA

PF apura repasses de emendas; cidade do pai de Motta e 'rei do lixo' são alvo

Investigações aconteceram às vésperas da aprovação do novo orçamento, que prevê R$ 50 bilhões para emendas parlamentares

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Às vésperas da análise do Orçamento de 2025 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Polícia Federal reforçou nesta quinta-feira, 3, ações que apuram suspeitas de desvios e fraudes envolvendo emendas parlamentares.

Foram alvo das operações da PF o empresário José Marcos Moura, conhecido como "Rei do Lixo", e a administração pública da cidade de Patos, no sertão da Paraíba, governada pelo pai do deputado Hugo Motta (Republicanos), presidente da Câmara.

A expectativa, conforme informou a Coluna do Estadão, é de que Lula sancione o Orçamento de 2025 nesta sexta-feira, 4, que prevê a destinação de R$ 50 bilhões para as emendas parlamentares. O Projeto de Lei Orçamentária Anual deste ano foi aprovado no último dia 20, após meses de atraso devido ao impasse do Legislativo com o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a execução das emendas.

Neste período, foram intensificadas investigações que envolvem os repasses e que tramitam no âmbito do STF ou na Justiça de primeiro grau.

Ontem, a PF fez buscas na segunda fase da Operação Outside, que apura suspeitas de fraude, superfaturamento e desvio de recursos federais destinados a obras em Patos (PB). Foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão. A investigação tramita na 14.ª Vara Federal do município paraibano.

Desde 2021, a cidade é administrada por Nabor Wanderley (Republicanos), pai de Hugo Motta. O contrato investigado é anterior à sua gestão, mas foi executado durante a administração de Wanderley.

Prefeitura

Procurada pelo Estadão, a prefeitura informou que nenhum prédio municipal foi alvo de buscas. "Em nenhum momento foram recolhidos documentos, materiais eletrônicos ou quaisquer objetos nos prédios pertencentes à administração municipal", diz o comunicado.

O contrato foi celebrado em 31 de dezembro de 2020 entre o Ministério do Desenvolvimento Regional e a prefeitura de Patos. O valor total, após aditivos, alcança R$ 6 milhões. Os recursos federais foram repassados ao município por meio do orçamento secreto - revelado pelo Estadão em 2021 - e deveriam ter sido usados para a restauração de duas avenidas, conhecidas como Alças Sudeste e Sudoeste.

Conluio

A investigação apontou que empresários e agentes públicos formaram um conluio para fraudar a licitação, direcionar o contrato por meio de cláusulas restritivas de concorrência e desviar recursos.

A empresa favorecida é a Engelplan, administrada pelo empresário André Luiz de Souza Cesarino, que, segundo os investigadores, tem ligação com funcionários da prefeitura de Patos. O Estadão pediu manifestação da defesa, mas também não obteve resposta.

A empresa teria diminuído o preço de sua proposta para vencer a licitação e, depois, teria sido favorecida com aumento do valor por meio de aditivos contratuais. Em apenas um deles, o superfaturamento foi estimado em R$ 269 mil.

A análise dos documentos apreendidos na primeira fase da operação reforçou as suspeitas. A PF fez buscas em endereços ligados ao empresário e à sua construtora. Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), foram encontrados indícios da participação de novos agentes públicos nas irregularidades.

"A nova fase da operação tem como objetivo o aprofundamento da investigação, bem como apurar elementos que indiquem possível atuação ilícita de investigada, que, utilizando-se de sua posição na administração pública, teria favorecido interesses privados da empresa contratada para realização da obra. O objetivo principal é reverter ao erário os valores pagos indevidamente e a apuração de responsabilidade dos envolvidos nas irregularidades", informou a CGU.

Secretário

Agentes federais também fizeram ontem nova investida em um inquérito que apura suspeitas envolvendo o empresário José Marcos Moura. O "Rei do Lixo" foi alvo de buscas em uma nova fase da Operação Overclean, que apura desvios de emendas parlamentares.

O secretário de Educação de Belo Horizonte, Bruno Barral, também é investigado e foi afastado do cargo por ordem do ministro do Supremo Kassio Nunes Marques, que é o relator do inquérito.

O Estadão não conseguiu contato com Barral. A PF cumpriu diligências em 16 endereços nas cidades de Salvador, São Paulo, Belo Horizonte e Aracaju. Esta é a terceira fase da Operação Overclean.

Segundo cálculos atualizados da PF e da CGU, o esquema de fraudes em contratos e superfaturamento de obras investigado na Overclean movimentou cerca de R$ 1,4 bilhão. Os crimes investigados são corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e contratos, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça.

A PF afirma que o esquema envolveu negociação de propina com servidores públicos. Os federais investigam agora se houve conluio com parlamentares que indicaram as emendas. O inquérito foi enviado ao STF porque o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA), que tem foro privilegiado, foi citado. Ele nega irregularidades.

Rede

O "Rei do Lixo" é um personagem central da investigação. A PF afirma que ele tem uma ampla rede de contatos e influência política que usaria para facilitar o andamento de contratos superfaturados. O empresário chegou a ser preso no inquérito, mas conseguiu habeas corpus para aguardar a conclusão da investigação em liberdade.

Os irmãos Alex Rezende Parente e Fábio Rezende Parente, donos de empresas de construção, também são investigados. Os federais apreenderam R$ 1,5 milhão com Alex em um jatinho que saiu de Salvador para Brasília.

Ele é apontado como líder do esquema, responsável por coordenar as fraudes nas licitações, negociar com servidores públicos e organizar o pagamento de propinas. Já Fábio agiria como o braço financeiro do grupo, cuidando da transferência dos recursos aos aliados.

O inquérito teve início a partir de suspeitas envolvendo uma licitação de quase R$ 112 milhões para pavimentar avenidas e estradas urbanas e rurais em municípios da Bahia.

O processo licitatório estava sob responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), autarquia federal vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

Emendas são verbas previstas no Orçamento da União que deputados e senadores podem enviar para suas bases eleitorais. Nos últimos anos, a indicação do dinheiro tem sido alvo de disputa, com uma fatia cada vez maior dos recursos sob controle do Congresso, o que tirou poder do Executivo.

As emendas de comissão, por exemplo, controladas pela cúpula do Legislativo, substituíram o orçamento secreto como principal forma de barganha política, o que foi questionado pelo ministro Flávio Dino, do Supremo. 

tarifaço

Brasil tem reservas para enfrentar decisões de Trump, diz Lula

"Mesmo o presidente Trump falando o que ele quer falar, o Brasil está seguro porque temos um colchão de US$ 350 bilhões", afirmou Lula

08/04/2025 07h36

O presidente Lula fez as declarações durnate evento promovido pela empresa Mercado Livre Brasil

O presidente Lula fez as declarações durnate evento promovido pela empresa Mercado Livre Brasil

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O Brasil tem reservas internacionais suficientes para enfrentar as decisões do governo Donald Trump, disse nesta segunda-feira (7) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante anúncio de investimentos do setor de logística em Cajamar (SP), Lula reiterou que a economia voltará a crescer mais que o previsto em 2025.

“Nós pagamos a dívida externa brasileira. Nós, pela primeira vez, fizemos uma reserva [internacional] de US$ 370 bilhões, o que segura este país contra qualquer crise. Mesmo o presidente Trump falando o que ele quer falar, o Brasil está seguro porque temos um colchão de US$ 350 bilhões, que dá ao Brasil e ao ministro da [Fazenda] Fernando Haddad uma certa tranquilidade”, disse Lula, em evento promovido pela empresa de comércio eletrônico Mercado Livre.

Segundo os dados mais recentes do Banco Central (BC), as reservas internacionais estavam em US$ 338,6 bilhões na última sexta-feira (7). No entanto, se contar os cerca de US$ 17 bilhões leiloados pelo BC desde o ano passado com compromisso de serem recomprados ao longo deste ano, o total sobe para US$ 355,6 bilhões.

Crescimento da economia

Durante o evento, o Mercado Livre anunciou investimentos de R$ 34 bilhões no Brasil apenas neste ano. Para o presidente, as apostas da empresa no país são justificadas porque a economia brasileira continuará a crescer acima do previsto neste ano, por causa de medidas recentes do governo para estimular o crédito e o consumo.

“Agora, as pessoas dizem: ‘A economia vai desacelerar, ela vai crescer menos’. E eu quero dizer para vocês, na frente dos trabalhadores do Mercado Livre, que a economia brasileira vai surpreender. Porque essa gente que fica discutindo o chamado mercado, essa gente que fica discutindo a economia não conhece o microcrédito funcionando, e o dinheiro chegando na mão de milhares e milhões de pessoas”, declarou Lula.

Segundo o presidente, a melhoria na economia já vem sendo percebida nos últimos anos, ao citar, como exemplo, que categorias profissionais tiveram reajuste salarial acima da inflação. "O salário mínimo já aumentou acima da inflação por dois anos consecutivos. O emprego voltou a crescer todo o ano. E o crédito está acontecendo com muita força nesse país, muita força”, destacou.

Desde que Donald Trump anunciou a aplicação de tarifas a produtos de outros países, chamado tarifaço, bolsas de valores de diversos país tiveram quedas. Para o presidente, o crescimento no Brasil não vai depender de outros países.

“Não depende de ninguém, não depende dos Estados Unidos, não depende da China, não depende da África, só depende de nós brasileiros”, disse.

“É isso que nós queremos: não queremos nada demais. Nós só queremos ser tratados com respeito, com dignidade, porque nós temos esse direito porque quem produz a riqueza desse país são vocês”, afirmou

Mercado Livre

Ao visitar o Centro de Logística do Mercado Livre, Lula abraçou funcionários da empresa e até colocou um pacote na esteira para ser encaminhado para entrega.

Ele esteve acompanhado de Fernando Yunes, vice-presidente sênior do Mercado Livre no Brasil, que explicou como será utilizado o aporte de R$ 34 bilhões neste ano. “É um aporte para conseguirmos avançar na nossa logística. Esse valor vai ser aportado tanto no Mercado Livre quanto no Mercado Pago e no marketing”, disse Yunes durante o evento.

Yunes também anunciou que a empresa vai contratar neste ano mais 14 mil pessoas, somando 50 mil funcionários no Brasil até o final deste ano. 

Estavam na comitiva os ministros da Fazenda, Fernando Haddad; do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho; e do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte do Brasil, Márcio França, além do prefeito de Cajamar, Kauãn Berto.

Fundado em 1999, o Mercado Livre é a companhia líder em e-commerce e serviços financeiros na América Latina, com operações em 18 países e mais de 84 mil funcionários diretos. A operação no Brasil representa 54% do total do negócio da empresa.

democracia

Bolsonaro diz que foi vítima de golpe na eleição de 2022

Manifestação em SP foi para pressionar a Câmara a cologar em votação o projeto que dá perdão aos condenados pelos atos do 8 de janeiro

07/04/2025 07h16

Secretaria de Segurança de SP estimou 600 mil pessoas, mas um aplicativo da USP apontou a presença de 44,9 mil pessoas

Secretaria de Segurança de SP estimou 600 mil pessoas, mas um aplicativo da USP apontou a presença de 44,9 mil pessoas

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Na primeira manifestação de rua após se tornar réu no Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse neste domingo, 6, em São Paulo, que as acusações contra ele são fruto de perseguição política, atacou o ministro Alexandre de Moraes e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mandou recados ao Congresso sobre o projeto de anistia aos implicados no 8 de Janeiro.

Em um discurso de cerca de 25 minutos para apoiadores reunidos na Paulista, o ex-presidente afirmou que quem sofreu um golpe foi ele, ao ser derrotado na eleição de 2022, e que a manutenção de sua inelegibilidade em 2026 significaria "escancarar a ditadura no Brasil". Bolsonaro está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"Vamos falar quem deu golpe em outubro de 2022? Quem tirou Lula da cadeia? O cara condenado em três instâncias por corrupção, por lavagem de dinheiro, é tirado da cadeia. Quem descondenou o Lula para ele fugir da (Lei da) Ficha Limpa? Os mesmos", disse ele. "O golpe foi dado, tanto é que o candidato deles está lá."

O ex-presidente voltou a afirmar que seus adversários o querem "morto" e que sua saída do Brasil, em dezembro de 2022, sem reconhecer o resultado das urnas, foi medida de autoproteção.

"O golpe deles só não foi perfeito porque eu saí do Brasil em 30 de dezembro de 2022. Se eu estivesse no Brasil, seria preso na noite de 8 de janeiro, ou assassinado por esses mesmos que botaram esse vagabundo na Presidência. Estou no caminho deles. Se acham que vou desistir, fugir, estão enganados. O que os canalhas querem é me matar."

Aliados

O ato na Paulista para pressionar por uma anistia aos envolvidos nos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023 contou com a presença de sete governadores, além de parlamentares e outros aliados.

Foram à Paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Jorginho Melo (PL-SC), Romeu Zema (Novo-MG), Wilson Lima (União Brasil-AM), Mauro Mendes (União Brasil-MT), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO).

A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), também marcaram presença.

Embora tenham, na época, condenado a destruição na Praça dos Três Poderes, Tarcísio, Caiado, Zema e Ratinho Jr., agora pré-candidatos em 2026, defenderam ontem uma anistia aos radicais.

"Quero prisão para assaltante, para quem rouba celular, para quem invade terra e para corrupto", disse Tarcísio em discurso. Segundo ele, se ovo, carne e outros alimentos estão caros, é porque Bolsonaro precisa voltar.

Ao chegar ao ato, Caiado afirmou que o 8 de Janeiro é indefensável, mas que as penas são desproporcionais. "É isso que estamos buscando: justiça, mas sem ser uma ação do Estado que venha punir como se fosse um gesto de vingança", disse o pré-candidato à Presidência em 2026.

Segundo o Monitor do Debate Público do Meio Digital, da USP, a manifestação de ontem reuniu cerca de 44,9 mil pessoas na Paulista.

O levantamento foi feito com base em fotos aéreas do momento de pico do ato, durante o discurso de Bolsonaro. Em fevereiro do ano passado, quando o ex-presidente também foi à Paulista pedir anistia, ele reuniu cerca de 185 mil manifestantes, conforme a mesma contagem da USP.

Já a Secretaria de Segurança Pública estimou 600 mil pessoas presentes. Neste ano, secretaria e Polícia Militar informaram que não haveria estimativa de público.

Após o ato esvaziado no mês passado, em Copacabana, no Rio, em que o mesmo grupo de pesquisa estimou público de 18,3 mil pessoas, bolsonaristas evitaram falar sobre a expectativa para São Paulo.

Batom

A manifestação foi marcada por referências à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou "Perdeu, mané", com batom, a estátua da Justiça, durante o 8 de Janeiro. Moraes propôs pena de 14 anos de prisão para ela, que está em prisão domiciliar.

Bolsonaro levou ao caminhão de onde discursou a mãe e a irmã da ré. "Não tenho adjetivo para qualificar quem condena uma mãe de dois filhos a pena tão absurda por um crime que ela não cometeu. Só um psicopata para falar que aquilo que aconteceu no dia 8 de janeiro foi tentativa armada de golpe militar", disse ele.

"A grande maioria do povo brasileiro entende as injustiças, e agora se socorre na nossa Câmara e no nosso Senado para fazer justiça. E a anistia é competência privativa do Congresso. Caso o projeto seja sancionado ou promulgado, vale a anistia. Estamos aqui impulsionados pelo episódio da Débora", declarou Bolsonaro

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) também discursou. Em alusão a Débora, ela convocou um "levante dos batons" por um perdão aos "presos injustiçados". A mulher de Bolsonaro disse que a cabeleireira deveria ser punida como um pichadora comum, a uma pena que não resultaria em prisão. "Não houve golpe", afirmou Michelle. "Não iremos desistir. Nosso Deus levantou Jair Messias Bolsonaro para cuidar da nossa Nação."

Câmara

Durante o ato, os manifestantes fizeram coro de "Fora, Moraes" e criticaram a condução da proposta de anistia pelo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). Bolsonaro evitou esboçar reações.

O pastor Silas Malafaia, por sua vez, atacou o deputado e afirmou que Motta está "envergonhando o honrado povo da Paraíba" por não se empenhar a favor do projeto de lei da anistia. Na semana passada, pressionado pela bancada do PL, o presidente da Câmara pediu "equilíbrio" a ações "sem mesquinhez"

Segundo o Placar da Anistia do Estadão, levantamento exclusivo para identificar como cada um dos 513 deputados se posiciona sobre o tema, 197 são a favor do perdão ao 8 de Janeiro. Esse número é mais do que o suficiente para garantir a apresentação da urgência do projeto no plenário da Casa.

 

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