Acampados à beira da BR-262, no anel viário de Campo Grande - exclusivamente ocupado pelo Movimento Popular de Luta (MPL) -, dezenas de famílias chegaram nas últimas duas semanas e, agora, já somam cerca de 400 no local, que se organizam para plantar e sobreviver enquanto aguardam pela reforma agrária, que deve lhes possibilitar a terra, além de garantir direitos básicos como saúde, educação e saneamento.
Jonas Carlos da Conceição, conhecido como o "Beto do MPL", revela que atualmente o espaço se divide em seis grupos, que possuem seus coordenadores e um sistema de organização próprios.
Ele conta que, conforme aumentam o desemprego e as más condições, cada vez mais pessoas buscam o acampamento por estarem desempregados e, consequentemente, sem dinheiro para pagar um aluguel.
Inaugurado em 2017, o MPL é descrito por "Beto" como uma "insatisfação dos vários movimentos existentes", surgindo com o papel de denunciar e reivindicar terras improdutivas.

"Há aqueles que são sindicalistas, cobram um dinheiro e as famílias acabam tendo uma desilusão. Muita gente acaba saindo desses movimentos, mas não querem sair da luta. Então surgiu o MPL nisso", conta.
Jonas "Beto" aponta que a maioria das terras públicas do Brasil são ocupadas por grileiros e fruto de invasão, sendo necessária uma postura mais firme do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para melhor ocupação desses espaços.
"Há seis anos que não tem reforma agrária, que não tinha nem Incra, pode-se dizer assim. Porque o governo anterior sucateou o Instituto, não estava dentro da pauta de prioridade dele", comenta.
Agora, a esperança é que o novo governo retome, ao menos, a vistoria, por tratar-se de um ponto abordado na própria Constituição.
Como bem pontua "Beto", todo proprietário tem um índice de produtividade a ser cumprido. Quando não cumpre, essa terra pode então ser classificada improdutiva.
Situação local
Pelo menos 400 famílias estão às margens da BR-262, entre as saídas para São Paulo e Sidrolândia, conforme os organizadores. Esse, de acordo com eles, já pode ser classificado como um dos maiores acampamentos do Estado, identificados como movimento único.
" Há outros acampamentos em outras regiões, mas são vários movimentos junto aqui é só MPL. No Estado, nós temos 8 acampamentos em torno de duas mil famílias acampadas", indica Jonas.
Com gente situada ali há seis anos, alguns desses barracos são mais bem estruturados, e até ganhando um pouco de cor, dividindo espaço com unidades recém erguidas e com um número cada vez maior de lotes separados e sendo limpos.
As terras desse espaço entregam para essas famílias hortaliças, mandioca, amendoim, salsa e uma variedade de itens produzidos para a própria subsistência.
"O governo precisa retomar a aquisição de terras, desapropriações, até porque não é só o movimento. Hoje precisaria de recurso e terra para assentar em torno de 20 mil famílias", diz.
Ali, o processo de organização interna do movimento é uma coordenação ascendente, onde dois coordenadores (um homem e uma mulher) são eleitos, e as decisões são tomadas coletivamente.
"Então não existe alguém que alguém manda no acampamento. Tem as normas internas para as famílias virem também. Não é só chegar aqui e montar um barraco, porque é o processo de convivência comunitária", cita ele.
Sobre isso, caso alguém apareça, colocando a vida do outro em risco, caso aconteça ameaça, medidas são tomadas pela coordenação, que sequer permite bebidas no acampamento, inclusive, com possível pena de exclusão.
Ele frisa que, apesar de se organizarem internamente, os governos, tanto Estadual quanto Federal, não realizam qualquer tipo de acompanhamento da situação local, conforme os organizadores, ficando desassistidos quanto à segurança, saúde e até mesmo saneamento básico.
"Na questão de saúde nós orientamos onde o cara faz o poço; aonde ele faz o buraco para pôr o lixo; para manter um distanciamento; a limpeza. Por parte do Estado não tem, até porque, até pouco tempo atrás não estava reconhecendo os acampados".
Ele cita inclusive que no local algumas famílias vivem com crianças, sem um acompanhamento da assistência social para monitoramento da idade escolar desses pequenos.
"Como aqui ainda está próximo da cidade, não é um problema, as crianças têm acesso, acabam indo a pé para a escola do bairro Los Angeles".
Entre os pedidos, com a inerente presença dos carros na BR, eles frisam a solicitação ao governo para que um quebra-molas fosse colocado ali, já que muitos carros passam até 150 km/h naquele ponto, que causou inclusive a morte de um morador.
"Já pedimos paro governo, mas não apontam nem uma saída, pelo menos por enquanto, para a reforma agrária, ou de moradia para alguns que estão na cidade. Tem que ser feita a Reforma Agrária, mas pelo menos essa segurança por enquanto tem que ter", conclui.