Tímido, o auxiliar de mecânico Israel de Moura Silveira, 21 anos, liderou e organizou a ocupação de uma favela no Jardim Centro-Oeste, que hoje abriga 85 famílias e ainda leva o seu nome: comunidade Filhos de Israel.
A ideia de ocupar o local partiu de Israel, em 2019, que morava na casa da mãe com a esposa e sonhava ter seu espaço. Ao compartilhar a ideia com outras pessoas da região, que também estavam em busca de abrigo, as famílias passaram a realizar mutirões periódicos para organizar o espaço.
Passados dois anos, o local já está estruturado com casas de madeira, lona e tijolos.
“Ainda temos muito o que melhorar, mas só de estar em um cantinho com a minha família fico muito feliz. Organizamos algumas pessoas que também não tinham onde morar ou não estavam dando conta de pagar o aluguel, nos reunimos e ocupamos esse terreno. Fizemos vários mutirões para ajeitar as coisas, todo mundo estava unido em ajudar e ter onde morar”, relatou o líder da comunidade.
Quando questionado sobre o fato de a favela levar o seu nome, Israel afirma que a escolha do foi um acordo entre os moradores. A ocupação conta até mesmo com um grupo de WhatsApp, intitulado “Filhos de Israel”, para troca de recados e demandas do local. Ele reitera que o andamento dos trabalhos é realizado em parceria por todos.
“A comunidade leva meu nome, mas foi uma escolha de todos que moram aqui, não faço nada sozinho, todo mundo está na luta. A comunidade foi criada para que as famílias tivessem um local para morar, era isso ou embaixo da ponte, é apenas isso que queremos”, apontou.
REGULARIZAÇÃO
O líder e idealizador da ocupação destacou que os moradores da comunidade estão aguardando um parecer da Prefeitura de Campo Grande sobre a regularidade do local. Na comunidade, os moradores afirmaram que estão dispostos a pagar pelos serviços, desde que tenham acesso a esgotamento sanitário, água tratada, energia elétrica e coleta de lixo.
“Aqui era só matagal. Tinha famílias quase indo para debaixo da ponte, por isso que ocupamos. Aqui está tudo no improviso, não tem esgoto, água tratada, saneamento, por isso a gente quer que regularize, aí podemos organizar tudo certinho", relatou.
"As pessoas ficam com medo de investir no barraco e não poder manter o local, gastar com algo que não é nosso. Não tivemos nenhuma devolutiva da prefeitura, estamos aguardando, a última vez que estiveram aqui faz sete meses”, completou.
Israel relatou que a procura por um “pedaço de terra” em sua comunidade é comum, o que evidencia a demanda por moradia na Capital.
“Direto vêm pessoas atrás de espaço aqui, mas está tudo ocupado. Todo mundo que está aqui já tem seu barraco, todos que estão aqui realmente precisam. Eu procuro explicar para as pessoas, mas é complicado, elas querem um lugar para morar”, destacou.
O pedreiro Cícero Fernando Pereira, 55 anos, mora em um barraco de três cômodos desde o início da ocupação. “Comida muito cara, aluguel subindo, direto bate gente aqui atrás de um espaço, é tudo muito difícil. O povo da prefeitura nem dá as ‘caras’ aqui”, afirmou.
COLABORAÇÃO
A comunidade Filhos de Israel fica localizada na Rua Cassim Contar, nº 428, Jardim Centro-Oeste. Quem quiser ajudar as famílias pode entrar em contato por meio do telefone (67) 9 9263-0699.
“Estamos na sorte de Deus, entrei em contato com líderes de outras comunidades para tentar nos unir e conseguir melhoria para as famílias daqui, estamos no aguardo. O pessoal daqui precisa muito, temos crianças, pessoas sem trabalho, é muito difícil”, disse.




