O número de pessoas autodeclaradas indígenas saltou de 5.898 para 18.439 nos últimos 12 anos em Campo Grande, de acordo com números divulgados nesta segunda-feira (07) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número triplicou no período, com aumento porcentual de 212,6%.
Quatro municípios de Mato Grosso do Sul se destacaram no crescimento populacional indígena: Dourados, Amambai, Aquidauana e Miranda.
Em Dourados, a população indígena saltou de 7.216 em 2010 para para 12.054 (67%) em 2022, ao passo que em Amambai o crescimento foi de 37,5%, salto populacional de 7.263 para 9.988 no período. Em Aquidauana, a população indígena foi de 6.692 para 9.428, aumento de 40,8% em 12 anos, já em Miranda, a população nativa foi de 7.019 para 8.866,crescimento de 26,3% desde então.
Ao lado de Campo Grande, os municípios contam com as maiores populações indígenas do Estado.
Conforme o levantamento, a população indígena em Mato Grosso do Sul é de 116.346 pessoas, número que corresponde a 4,22% da população total levantada pelo censo demográfico, iniciado no dia 1º de agosto de 2022 e concluído no dia 28 de maio, crescimento de 51,04%, visto que a população indígena de Mato Grosso do Sul era de 77.025 em 2010.
Brasil
Em todo o País, a população indígena residente é de 1.693.535 pessoas. Em 2010, o IBGE contou 896.917 pessoas indígenas, o que correspondia a 0,47% da população residente no país à época.
Em 2010, Mato Grosso do Sul era o segundo estado com maior população indígena no Brasil, mas no último censo foi ultrapassado pela Bahia, que tem 229.103 declarados indígenas. Quem lidera é o Amazonas, com 490.854 indígenas.
Essas três Unidades da Federação concentram quase metade da população indígena residente no País, com 49,38%.
Marçal de Souza
Há quatro anos à frente da Aldeia Urbana Marçal de Souza, no bairro Tiradentes, o cacique Josias Jordão Ramires destacou ao Correio do Estado que entre as principais dificuldades vivenciadas pelas 24 comunidades indígenas inseridas no contexto urbano de Campo Grande estão as relações governamentais entre aldeados e indígenas que vivem fora das aldeias, assim como questões culturais que envolvem o ensinamento do idioma Terena aos mais jovens.
“Somente a escola inserida em nossa aldeia mantém o ensino do idioma e das artes terena. Precisamos expandir isso para as demais comunidades. Na Aldeia Água Bonita, precisamos dessas matérias, com esses números podemos avançar e não perder o contato com nossa língua, valorizar nossa cultura e não ser lembrados somente no dia 19 de abril, todo dia é um dia de luta, de enfrentamento”, destacou o cacique de 37 anos, com origem na Terra Indígena de Bananal, distrito de Aquidauana.
Outro ponto destacado por Jordão foi o impasse envolvendo a população indígena de Campo Grande, sobretudo durante o período mais duro de enfrentamento à pandemia de Covid-19.
“Não estarmos aldeados atrapalhou um pouco durante a vacinação contra a Covid, porque houve separação entre aldeados e desaldeados. Entramos com processo junto ao Governo Federal, já que estamos inseridos em um contexto urbano, e hoje somos reconhecidos”, frisou.
Questionado sobre o aumento populacional de indígenas na capital, o cacique disse que o momento é de evolução e de comemoração para todos.
“Os dados são muito importantes para nossa população, bastante esperançosos, e com isso é nos voltar para as políticas públicas. Além do meu papel como cacique, de trabalhar e fazer esse esforço de reconhecimento para com as crianças, cos idosos e os adolescentes”, destacou.
Quanto ao contato com outros modos de vida, o líder destacou que a comunidade era reticente em outros momentos, entretanto, atualmente o espírito compartilhado é de respeito e partilha junto às outras culturas.
“Antigamente tinha esse preconceito. Hoje falamos em diversidade, de que precisamos conhecer os outros povos, assim como eles precisam conhecer nossa cultura, integração entre povos, sejam indígenas ou não indígenas, todos juntos e com espaço, progredimos nessas questões”, complementou.
Por fim, o indígena falou sobre os avanços conquistados ao longo dos anos, além da importância de quebrar estigmas contra a comunidade indígena. “Nos julgam pela aparência, pelo modo de vida, só que isso é cultura e ninguém vai tirar de nós. Já estávamos aqui há 523 anos, precisamos quebrar a barreira do preconceito, do bullying, e de que o indígena não é capaz, somos capazes sim”, finalizou.


