Cidades

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Área central é "feira-livre" de tráfico e consumo de drogas

Área central é "feira-livre" de tráfico e consumo de drogas

Redação

05/04/2010 - 21h41
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Bruno Grubertt

Durante o dia, uma rua comercial movimentada, conhecida pelas lanchonetes, locais de encontro tradicionais. A imagem tranquila da Rua Sete de Setembro é transformada à noite, quando o último estabelecimento – uma farmácia – fecha as portas, às 20 horas. O produto vendido, agora, passa a ser a droga.
A movimentação de veículos e dos poucos moradores ao longo da via não intimida o encontro que parece reunir pontualmente usuários de drogas na região. Jovens, homens e mulheres começam a surgir aos poucos e caminham de um lado para o outro, demonstrando agonia – parecem esperar ansiosos pela retirada do último grupo de amigos, reunido na calçada, para que a rua, enfim, fique deserta.
São quase 23 horas de quinta-feira, véspera de feriado, quando, na quadra situada entre as ruas 14 de Julho e 13 de Maio, aparece o primeiro viciado. Ele está em busca da droga escondida aos pés de uma pequena árvore, que cresce na calçada. Meio sem jeito, o rapaz moreno vestido em roupas largas e escuras olha para os lados e abaixa, parecendo procurar algo que, aparentemente, encontra e leva para a esquina. Lá, outros aguardam a chegada dele e, então, desaparecem para um local mais escuro. O fogo do isqueiro, usado para acender o baseado (cigarro de maconha) e as latas de metal para fumar o crack, é compartilhado.
A partir daí, o transtorno  sentido e reclamado pelos moradores e comerciantes da região fica evidente: a Sete de Setembro transforma-se na feira-livre do tráfico de drogas. “Eu tô cheia de pedra aqui”, grita uma mulher, fazendo referência ao crack, droga de efeito profundo, cujo consumo tem se tornado cada vez mais comum.
“Todos os dias é assim. A gente fica com medo de sair de casa. Eles brigam, gritam aqui na frente e não tem o que a gente fazer, só chamar a polícia”, reclama uma moradora da região, que, como todos os outros ouvidos pela reportagem, teme identificar-se. Ela reclama que a região se tornou ponto de encontro de viciados e pequenos traficantes de droga. “Tá virando a ‘cracolândia’”, reclama. “Vem gente de todas as classes sociais comprar droga aqui”, denuncia uma comerciante.
Moradores e empresários são unânimes em dizer que a movimentação de prostitutas, travestis e usuários de drogas sempre ocorreu no local, porém, teria aumentado após a desativação do antigo terminal rodoviário de Campo Grande, ponto conhecido pela concentração de usuários.
A Polícia Militar reconhece que a Rua Sete de Setembro, bem como outras vias do centro, tenham se tornado grandes bocas de fumo. “Na antiga rodoviária tinha um grande número de pessoas que usavam e vendiam drogas. Por meio de algumas operações de presença, a gente acabou retirando essas pessoas”, explica o comandante-geral da Polícia Militar (PM), coronel Carlos Alberto David dos Santos. Segundo ele, com a atuação dos policiais em alguns pontos, usuários e traficantes procuram outro local para ficar. “Antes, o ponto de encontro era na Praça Ary Coelho. Como estamos mantendo lá o policiamento direto, além da atuação do serviço de inteligência da PM, eles acabam migrando”, disse.

Criminalidade
Moradores e comerciantes têm presenciado o aumento no número de pequenos roubos e furtos na região. Só na última semana, pelo menos duas pessoas foram assaltadas. No mesmo período, também foram registrados pequenos furtos, como de lâmpadas fluorescentes levadas do estacionamento de uma loja.
Especialistas acreditam que o aumento dos crimes pode ter relação com a presença de viciados. “A droga, além de provocar deterioração do cérebro, comprovadamente também provoca a deterioração social do sujeito. Então, a pessoa que aparentemente não seria um criminoso, pela necessidade do uso da droga, vai começar a cometer crimes”, explica o psiquiatra e psicanalista Fábio Paes Barreto, coordenador de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde.

Policiamento
Em um período de três horas em que acompanhamos a movimentação na Sete de Setembro, uma viatura da Polícia Militar passou três vezes pela via. Nesses momentos, o movimento de pessoas na rua diminuía por poucos minutos, mas logo voltava. Nenhuma pessoa foi abordada pelos militares.
“O grande problema nosso é que as pessoas precisam de tratamento e não de polícia. Isso não é problema da polícia”, afirma o coronel David. Segundo ele, o trabalho de repressão ao coméricio de drogas tem sido feito pela PM, porém, os usuários são soltos e voltam a comparecer aos encontros do tráfico para alimentar o vício.
Para ele, a sociedade e o poder público precisam enfrentar o tráfico de drogas como um problema social. “Precisamos conjugar as ações [de repressão e tratamento]. A gente precisa afastar essas pessoas das drogas, senão vira um caminho sem volta”.

Efeito avassalador
O efeito da droga é instantâneo. Depois de aquecer a lata, usada para queimar as pedras amareladas do crack, a “noia” começa a ser sentida. Uma explosão de euforia faz o usuário gritar, cantar músicas com letras sem sentido e até deitar no meio da rua, como se fosse para sentir a textura do asfalto.
Subproduto que resulta  do refinamento da pasta base, o crack tem atraído cada vez mais usuários no Brasil. A explicação pode ser o baixo preço, em comparação com outros entorpecentes, como maconha e cocaína, e o poder da alucinação provocada em quem inala a droga. “O princípio ativo [do crack] é o mesmo da pasta base e da cocaína. Mas ele tem efeito muito mais rápido e também passa mais rápido, por isso os viciados ficam naquela compulsão”, explica o psiquiatra  Fábio Paes Barreto.
Os sintomas do vício, que, segundo o médico, podem aparecer após um mês de consumo da droga, são visíveis. Pode haver irritabilidade e negligência dos compromissos sociais, como o trabalho. O usuário geralmente emagrece, pois perde a vontade de comer. Além disso, surgem problemas pulmonares e, dependendo do uso, o vício pode causar a morte, em caso de intoxicação, ou overdose.
De acordo com informações do Ministério da Saúde, que, no início do ano, lançou campanha para desestimular o uso do crack, além dos efeitos da droga em si, a forma de fumar também provoca danos à saúde. Quando inalada por meio de uma lata de alumínio, geralmente de refrigerante, o usuário inala, além do vapor da droga, o metal que se espalha pela corrente sanguínea e provoca danos ao cérebro.

Cidades

Projeto de lei quer converter multas de trânsito em doação de sangue e medula

Infrator que optar pela doação não pagará multa, mas outras sanções podem ser mantidas, como pontos na CNH

19/12/2025 18h00

Multas leves de trânsito poderão ser convertidas em doação voluntária de sangue ou medula

Multas leves de trânsito poderão ser convertidas em doação voluntária de sangue ou medula Foto: Arquivo

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Um projeto de lei protocolado na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems) propõe converter multas aplicadas no trânsito, relativas a infrações de natureza leve, em doação voluntária de sangue ou medula óssea. Como a Casa está em recesso, a matéria tramitará no ano que vem.

Conforme a proposta, de autoria do deputado estadual Junior Mochi, a conversão do pagamento das multas em doação de sangue ou medula teria caráter alternativo e facultativo, não constituindo direito subjetivo do infrator, e deverá ser expressamente requerida pelo interessado, nos termos de posterior regulamentação.

Ainda conforme o projeto, a conversão da multa em doação somente será admitida quando:

  • a infração for de natureza leve, nos termos do Código de Trânsito Brasileiro;
  • não houver reincidência da mesma infração no período de 12 meses;
  • a multa não decorrer de infração que tenha colocado em risco a segurança viária, a vida ou a integridade física de terceiros;
  • a doação seja realizada em hemocentros públicos ou privados conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS), ou em instituições oficialmente reconhecidas;
  • haja aptidão médica do doador, conforme critérios técnicos estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

Cada doação de sangue corresponderá a conversão de uma multa de trânsito, assim como a inscrição no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).

Caso o doador seja compatível com alguma pessoa precisando de transplante e faça a doação efetiva da medula óssea, poderá ser convertida até duas multas de trânsito.

A comprovação da doação ou da inscrição no Redome será realizada mediante apresentação de documento oficial emitido pela instituição responsável, observado o prazo e os procedimentos definidos em regulamento

O projeto veda a compensação parcial da multa, bem como a conversão de penalidades acessórias, como suspensão ou cassação do direito de dirigir.

A conversão será apenas relacionada ao pagamento da multa, mas não exime o infrator das demais obrigações legais decorrentes da infração de trânsito, inclusive quanto ao registro de pontos na Carteira
Nacional de Habilitação (CNH), quando aplicável.

O Poder Executivo poderá celebrar convênios e parcerias com municípios, hemocentros e instituições de saúde, com vistas à operacionalização da lei, caso seja aprovada e sancionada.

Objetivos

Na justificativa do projeto, o deputado afirma que o objetivo é conciliar o caráter educativo das sanções
administrativas de trânsito com políticas públicas de incentivo à doação voluntária de sangue e de medula óssea, "práticas essenciais à manutenção da vida e à efetividade do Sistema Único de Saúde".

"A proposta não elimina a penalidade, mas a ressignifica, convertendo-a em uma ação de relevante interesse social, capaz de estimular a solidariedade, a cidadania e a responsabilidade coletiva. Trata-se de medida alinhada aos princípios da dignidade da pessoa humana, da função social das sanções administrativas e da eficiência das políticas públicas, diz a justificativa.

Em caso de aprovação e sanção, a adesão pelos municípios será facultativa, preservando o pacto federativo.

"Ressalte-se que a iniciativa respeita a autonomia municipal e o Código de Trânsito Brasileiro, limitando-se às infrações leves e excluindo aquelas que representem risco à segurança viária. A adesão pelos Municípios é facultativa, preservando-se o pacto federativo", conclui o texto.

Campo Grande

Investigada por desvio recebeu R$ 1,7 milhão para iluminar "Cidade do Natal"

Construtora JCL venceu licitação há dois meses e será responsável pela decoração natalina da Capital

19/12/2025 17h50

Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado

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Investigada em operação que apura suspeitas de fraudes em licitações e contratos de iluminação pública em Campo Grande, a Construtora JCL Ltda. venceu há dois meses a disputa para iluminar a decoração natalina da Capital neste ano, orçamento de R$ 1,7 milhão.

Conforme o Portal da Transparência, a empresa será responsável por fornecer, instalar e desinstalar a decoração natalina na Capital, contrato firmado no dia 17 de novembro e que expira no dia 15 de fevereiro. 

Conforme o edital, a iluminação abarca trechos da Rua 14 de Julho, Avenida Afonso Pena local de apresentações culturais, gastronomia e lazer. Para a decoração natalina está prevista a instalação de mangueiras luminosas de led branco quente (âmbar), verde e azuis pelas avenidas Afonso Pena, Duque de Caxias e Mato Grosso.

Na 14 de Julho, a decoração possui flâmulas natalinas, bolas metálicas iluminadas, árvores naturais de porte médio, árvores em formato de cone, anjo iluminado e pórticos metálicos.

As luzes foram acesas no dia 1º de dezembro deste ano, com desligamento previsto para o dia 15 de janeiro de 2026, datas que, conforme contrato, podem ser adiadas ou antecipadas.

De acordo com a prefeitura, a iluminação decorativa natalina tem como objetivo "trazer o espírito natalino para as ruas, praças e avenidas da Capital, aliando beleza, lazer e sentimento de pertencimento urbano".

Iluminação natalina

A Praça Ary Coelho também foi decorada com os portais de entrada até o coreto, além de iluminação nas árvores naturais.

Complementam a decoração em outras vias estrelas dos mais variados tamanhos, árvores de arabesco, cometas, botas, bicicletas, pirâmides e pórticos, entre outros.

Além dessas, receberão decoração as rotatórias da Ceará com Joaquim Murtinho; Duque de Caxias com a Entrada da Nova Campo Grande; da João Arinos com Pedrossian; Três Barras com Marques de Lavradio; Consul Assaf Trad com Zulmira Borba; Gury Marques na rotatória da Coca-Cola; Filinto Muller no Lago do Amor; dentre outras. A iluminação compreende ainda o Paço Municipal.

 

Contradição

A assinatura do contrato entre a prefeitura e a construtora contraria uma lei sancionada pelo próprio Executivo em agosto deste ano, que detinha o objetivo reduzir gastos e otimizar recursos públicos.

A Lei 7.464/25, sancionada em 4 de agosto, previa que a iluminação e ornamentação natalina em espaços públicos fosse patrocionada por empresas privadas, sem custos para a Prefeitura.

Conforme a lei, as empresas interessadas em iluminar a "Cidade do Natal" em troca, poderiam divulgar suas marcas nos locais iluminados. O programa "Natal de Luz", inserido na lei, tem vigência anual, entre 1º de novembro e 10 de janeiro. 

*Colaborou João Pedro Flores

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