Artigos e Opinião

OPINIÃO

Augusto César Ribeiro Barbato: "Campo Grande e as eleições de 2016"

Psicólogo

Redação

19/01/2016 - 00h00
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Com as notícias sobre corrupção nas administrações federal, estadual e municipal as matérias sobre a sucessão municipal foram deixadas de lado e, após a falta de novidades sobre o tema os debates para as próximas eleições começam a surgir timidamente. Por hora, observo que o debate público e a cobertura da imprensa focam suas atenções nas articulações e negociações para definir nomes de candidatos dentro dos partidos políticos.

Vejo isso com naturalidade neste momento, mas é preciso evitar que a próxima campanha priorize a discussão de nomes e personalidades, como sempre acontece. Está na hora de as eleições aqui em Campo Grande se pautarem pela análise e comparação de propostas de governo.

Nós eleitores temos que buscar um novo tipo de debate eleitoral para 2016. Os partidos relevantes já tiveram ou têm experiência de governo. Portanto, somos sabedores quanto às propostas de cada um deles. Nós temos que ficar alertas com o que é dito agora para comparar com o que foi feito e proposto anteriormente pelo partido e/ou candidato.

A piora nas condições de vida em Campo Grande deve incentivar a mobilização da sociedade diante do tamanho dos problemas e dos fracassos anteriores em resolvê-los, nós eleitores precisamos urgentemente ter uma postura mais ativa. Não basta ir só votar no dia da eleição. Para nós é fundamental acompanharmos as propostas de todos os candidatos e depois cobrar do eleito. Isso é impossível de fazermos isoladamente.

Nós, cidadãos e eleitores, temos que nos associar ou atuar em organizações em funcionamento, pois só assim teremos chance de melhorar a qualidade do debate eleitoral.

Em nossa Câmara Municipal temos alguns vereadores envolvidos em “supostos” problemas de decoro e de corrupção, mas nada impede que comecemos pedindo a ela um Projeto de Lei criando um Programa de Metas para a nossa Cidade. Este projeto deve obrigar os candidatos a prefeito a apresentar um programa de metas de sua administração até 90 dias após a posse.

O Programa tem que ser orientado por indicadores de desempenho e terá que ser, obrigatoriamente, discutido pela população em audiências públicas. 

Se nós eleitores estivermos bem informados em relação à lei, poderemos cobrar o programa de metas já na campanha de 2016, rejeitando aqueles que não o apresentarem e votando naquele que apresentar o seu da forma mais completa.

Nós, cidadãos e eleitores, temos que transformar nossa cidade em um espaço de debate e não em um ringue onde candidatos se digladiam em meio a uma cobertura jornalística essencialmente personalista.

Portanto, a vitória da perspectiva das propostas centrar-se-ão nos programas de governo e ele deve partir de um diagnóstico dizendo que metas devem ser almejadas. Somos sabedores que o nó das políticas públicas é definir os instrumentos e os meios administrativos que devem ser usados para atingir os objetivos.

Senhores candidatos a candidatos, senhores deputados estaduais, federais, senadores e nossa dileta imprensa vamos dar preferência ao debate de propostas e não as inaugurações e as intrigas de bastidores, pois só assim poderemos sonhar com uma Campo Grande menos ignorante. Já passamos da hora de avaliar aonde vai nos levar a lei do mais forte.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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