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Como as tecnologias podem fazer a diferença na Sociedade do Cuidado?

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A inovação no setor público, como uma prática transversal, é capaz de transformar realidades. Novas tecnologias têm o potencial de reduzir a burocracia, otimizar gastos e melhorar processos. No entanto, como as inovações podem impactar positivamente o cuidado, essencial para a manutenção e reprodução da vida? Como a Inteligência Artificial (IA), a Internet das Coisas (IoT) e outras tecnologias podem nos auxiliar na prestação de melhores serviços públicos, na proteção das pessoas e na promoção de um bem viver?

Cuidado é uma palavra cotidiana, mas com muitos significados. Envolve saúde, saneamento básico, acessibilidade, educação de qualidade e inclusiva, mobilidade e planejamento urbano. Também se refere às tarefas diárias de todas as pessoas, como a preparação de alimentos, limpeza, apoio a pessoas idosas ou a amamentação de bebês. 

Apesar de ser uma parte integrante da vida de todas as pessoas, os trabalhos de cuidado são distribuídos de forma desigual e injusta.

Geralmente, o cuidado é assumido pelas famílias, especialmente pelas mulheres, que se responsabilizam de maneira desproporcional e não remunerada, enfrentando sobrecargas de trabalho que comprometem sua autonomia financeira e afetam sua inclusão, permanência e ascensão no mercado de trabalho.

O mercado dos cuidados não é reconhecido como produtivo e é caracterizado por alta informalidade, desregulamentação e falta de mecanismos de fiscalização e proteção para as trabalhadoras do cuidado.

As mulheres mais pobres, negras e que vivem em áreas com menor acesso a políticas e serviços públicos, como zonas rurais e periferias urbanas, são as mais impactadas.

Estamos em um momento marcado pela diminuição do tamanho das famílias, rápido envelhecimento da população e maior participação feminina em um mercado de trabalho instável e informal.

Também enfrentamos uma crise climática, desigualdades sociais cada vez mais evidentes e a urgência da sustentabilidade urbana.

No início de 2023, o cuidado entrou na agenda das políticas públicas do governo federal. Está em andamento a formulação de uma Política e um Plano Nacional de Cuidados, envolvendo 23 órgãos ministeriais e entidades governamentais.

Os públicos prioritários da política, no primeiro ciclo de implementação são: pessoas que cuidam (de forma remunerada e não remunerada), crianças e adolescentes (com ênfase na primeira infância), e pessoas idosas e com deficiência que requerem apoio para realizar atividades diárias.

A sociedade dos cuidados representa um novo paradigma para o desenvolvimento econômico, social e ambiental, com o cuidado no centro das preocupações e o reconhecimento da necessidade urgente de corresponsabilização e redistribuição dos trabalhos de cuidado. Estado, famílias e mercados devem enfrentar juntos os desafios do século XXI. 

As tecnologias emergentes têm um papel crucial. Ferramentas como IA e IoT podem ser aplicadas para monitorar a saúde de idosos e pessoas com deficiência, garantindo sua segurança e bem-estar. Aplicativos e plataformas digitais podem facilitar a conexão entre cuidadores e aqueles que necessitam de cuidados, além de promover a autonomia financeira e a segurança das cuidadoras informais. 

Além disso, tecnologias de automação e robótica podem aliviar a carga de tarefas domésticas e de cuidado, permitindo que os cuidadores humanos se concentrem em aspectos mais emocionais e interativos do cuidado.

A digitalização dos serviços públicos também pode tornar o acesso a serviços essenciais mais eficiente e inclusivo, garantindo que todas as pessoas, independentemente de sua localização ou condição socioeconômica, possam receber o apoio necessário.

Quando tratamos de cuidado, inovar não é apenas uma questão de eficiência, mas de justiça social e equidade. Ao integrar tecnologias em serviços públicos e práticas de cuidado, podemos criar uma sociedade mais justa e inclusiva, onde o cuidado é valorizado e distribuído de forma equitativa.

O desafio está em garantir que essas inovações sejam justas, acessíveis e que contribuam para a construção de um futuro mais sustentável e humano.

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O envelhecimento e a vulnerabilidade do corpo: o que a saúde do papa nos ensina?

21/02/2025 07h45

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O avanço da idade traz consigo uma série de transformações no organismo, tornando-o mais vulnerável a doenças. Com o tempo, o sistema imunológico perde eficiência, os músculos e ossos se enfraquecem e órgãos como o cérebro, o coração e os pulmões podem não funcionar com a mesma força de antes. Aos poucos, o corpo perde resiliência, ou seja, a capacidade de se adaptar e se recuperar diante de desafios como doenças, perdas e outros fatores estressores. Isso explica porque infecções simples podem se tornar mais graves e porque a recuperação de uma enfermidade tende a ser mais lenta em pessoas idosas.

O papa Francisco, com seus 88 anos, é um exemplo vivo dessas mudanças. Nos últimos anos, tem enfrentado problemas respiratórios, dificuldades de locomoção e internações recorrentes por infecções. Sua trajetória ilustra uma realidade comum a milhões de idosos no mundo: mesmo com acompanhamento médico de excelência, o envelhecimento impõe desafios à saúde.

Por isso, a longevidade deve ser acompanhada de cuidados constantes. A adoção de hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada, atividade física e acompanhamento médico regular, contribui para a manutenção da qualidade de vida na velhice. Envelhecer é um grande privilégio. Que possamos encarar essa fase desafiadora com saúde, dignidade e autonomia.

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Onde falhamos no caso da Vanessa Ricarte? Algumas reflexões.

21/02/2025 07h15

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A Casa da Mulher Brasileira (CMB) é um espaço público que agrega um conjunto articulado de ações da União, do Estado e do município para a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, trabalho, entre outras. 

É um modelo revolucionário de enfrentamento à violência contra a mulher, pois integra e articula os equipamentos públicos voltados às mulheres em situação de violência. Foi inaugurada em 2015 pelo governo federal e representa o sonho da efetivação de uma política pública integrada e de um atendimento humanizado para as mulheres. Dessa forma, todos os órgãos e serviços da CMB buscam, de forma integrada, oferecer os serviços especializados, no mesmo espaço público, para os mais diversos tipos de violência contra as mulheres. 

Nessa nota, vamos refletir sobre o feminicídio ocorrido no dia 12/2/2025 da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, que mostra uma triste realidade de falha de um conjunto de procedimentos legais e de acolhimento existentes, procedimentos esses que deveriam ser eficazes e ágeis em defesa e proteção das mulheres.

Em áudio, Vanessa descreve ter informado a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) a decisão de retornar a sua casa, onde estava o agressor. Nesse caso, o percurso deveria ocorrer com a escolta da Patrulha Maria da Penha ou da Segurança Pública, conforme o protocolo de avaliação de risco para as mulheres em situação de violência que orienta o atendimento da CMB.

Cabe avaliar todos os procedimentos da CMB, mas vamos nos ater a algumas situações que foram relatadas nos áudios de Vanessa, divulgados pela mídia. Destacamos abaixo algumas dessas situações/constatações:

  • Não pode haver dúvidas em relação ao relato da vítima, o interrogatório não pode parecer uma acusação. Não podem ser tratadas com desconfiança em nenhum setor da Casa, o ambiente deve ser de confiança e respeito às mulheres;
  • A vítima deve ser esclarecida sobre o que vai acontecer depois do B.O. e também quanto aos diferentes e possíveis atendimentos;
  • O formulário de avaliação de risco é importante para os encaminhamentos necessários e pode ser aplicado por todas as instituições da CMB;
  • Na maioria das vezes, a mulher não tem percepção do risco existente, mas a equipe da Casa deve avaliar a partir do histórico do agressor e aplicar medidas rigorosas de proteção;
  • É preciso implantar protocolos para vítimas a partir do histórico do agressor (B.O.s anteriores);
  • O atendimento psicossocial é de responsabilidade do município e precisa ser reforçado, cumprindo o seu papel, principalmente no sentido de monitorar as mulheres a partir dos pedidos de medida protetiva de urgência;
  • A formação/capacitação da equipe de atendimento e acolhimento à vítima deve ser continuada; 
  • É preciso diminuir o tempo de espera das mulheres para serem atendidas.

É importante que o colegiado gestor da Casa, que tem a função de integrar as diferentes áreas no sentido de oferecer intervenções positivas e humanizadas às situações de violência contra mulheres que procuram o serviço, possa avaliar e entender quais as falhas do mecanismo de proteção às mulheres em todos os serviços e rever os processos de atendimento.

Ressaltamos que a elaboração de documentos/ protocolos/registros é tão importante quanto o acolhimento e o atendimento humanizado, que consta nas diretrizes gerais da Casa. A vítima deve ser recebida de forma a se sentir confiante para aceitar as propostas e aderir às recomendações. 

O setor psicossocial da CMB tem uma grande responsabilidade nesse processo de acolhimento, na prestação de atendimento continuado. Inclusive, todos os outros serviços da CMB podem encaminhar as mulheres para o atendimento pela equipe de apoio psicossocial, caso seja identificada essa necessidade. No caso de violência recorrente, a equipe precisa orientar e mostrar à vítima que o risco aumentou.

Se a gente se colocar no lugar dessas mulheres, o que a gente quer? Ser bem atendida, não é? Para a mulher, faz toda a diferença ser bem atendida. Assim, todos os serviços da Casa devem assumir o compromisso de oferecer um atendimento integral e humanizado às mulheres. É um lugar que acolhe, apoia e liberta. 

Nosso sonho é que a CMB continue contribuindo para que possamos ter uma sociedade mais humana, menos machista e uma cultura de respeito, dignidade e igualdade de gênero na sociedade. Não vamos mais permitir que a força física e o machismo destruam a dignidade e/ou a vida das mulheres.

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