Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Confira o editorial deste sábado/domingo: "A reinvenção da máquina pública"

Confira o editorial deste sábado/domingo: "A reinvenção da máquina pública"

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Discutir o alto custo da folha de pagamento do poder público é algo impopular, mas extremamente necessário nestes tempos de ajustes. 

São nos dias difíceis que um indivíduo cria as condições necessárias para que as dificuldades que atravessa deixem de existir ou, em caso da permanência das complicações que levaram ao momento desafiador, que a reação seja mais eficiente no sentido de reduzir o problema. São durante as crises que se fazem cortes, ajustes, não somente com o objetivo de atingir resultados no curto prazo, mas a eficiência que se consegue com as mudanças tomadas em tempos difíceis também é importantíssima para criar um cenário macroeconômico para a recuperação e mais: aumenta os ganhos depois que esse cenário é consolidado.

Nesta edição, publicamos reportagem em que mostramos o andamento da proposta de emenda constitucional enviada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que prevê, entre outras medidas drásticas em tempos de crise, a redução dos salários dos servidores públicos. É mais uma das medidas que o ministro Paulo Guedes traz do setor privado e que deve causar muita polêmica a partir de 2020, quando o assunto continuar a tramitar no Congresso Nacional.

De fato, a média salarial do serviço público está bem acima da média salarial do mercado. Entre os servidores da União, por exemplo, são muitíssimos os que conseguem ter um ganho mensal na casa das dezenas de milhares de reais, realidade bem diferente da verificada na iniciativa privada.

Por outro lado, é notório que não apenas a União, mas, sobretudo, estados e municípios passaram a enfrentar dificuldades para pagar o salário de seus servidores desde 2015, quando a crise econômica agravou-se. Foram muitas as medidas para reduzir os gastos com pessoal, todas elas amargas, que vão desde a redução da reposição do quadro por meio de novos concursos públicos até mesmo à reforma da Previdência, que acabou com regras que permitiam se aposentar antes de completar a idade mínima.

Porém, todo esse trabalho parece não ter sido suficiente. Municípios e estados continuam flertando bastante com a Lei de Responsabilidade Fiscal, aquela do início da década passada, que estabelece que o poder público não pode gastar mais do que arrecada e coloca limites para gastos com pessoal. O Estado de Mato Grosso do Sul e a Prefeitura de Campo Grande são exemplos de administrações que, desde que a crise ganhou força, ora extrapolam, ora ficam próximas dos limites legais.

A possibilidade de redução de salários de servidores públicos é algo muito impopular, mas necessária de ser debatida. Talvez a proposta de Paulo Guedes seja deixada de lado em meio a outras pautas do Congresso. Mas ela traz o debate sobre o alto custo dos salários na máquina pública. Os recursos arrecadados com os impostos são os mesmos. Além dos salários, eles são utilizados para investimentos em infraestrutura, educação, saúde.

EDITORIAL

O paralelo entre o consórcio e a Enel

A greve dos motoristas de ônibus, motivada pela incapacidade financeira do concessionário de honrar os salários de seus empregados, é o fundo do poço de um contrato problemático

18/12/2025 07h15

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A população de Campo Grande caminha para viver uma semana lamentável na prestação de serviços essenciais, em especial no transporte público.

A iminência de paralisações, a insegurança sobre a continuidade das linhas e o desgaste cotidiano enfrentado pelos usuários expõem, de forma escancarada, um sistema que já vinha dando sinais claros de esgotamento. O que se vê agora não é um episódio isolado, mas o ápice de uma crise que se arrasta há anos.

A greve dos motoristas de ônibus, motivada pela incapacidade financeira do concessionário de honrar o pagamento dos salários de seus empregados, representa o fundo do poço de um contrato problemático.

Um contrato que resulta em um serviço aquém do esperado, marcado por frota envelhecida, atrasos constantes, superlotação e uma satisfação baixíssima da população. Quando trabalhadores deixam de receber e usuários ficam sem transporte, fica evidente que o modelo fracassou.

A situação revelada durante a greve escancara uma verdadeira falência contratual. Não se trata apenas de um colapso financeiro, mas também de uma falência de credibilidade junto aos usuários, às instituições e ao próprio poder concedente.

O paralelo com a crise vivida pela concessionária de energia elétrica Enel, em São Paulo, é inevitável. Assim como ocorreu no setor elétrico paulista, o problema deixou de ser apenas técnico ou pontual e passou a comprometer a confiança no serviço prestado e na capacidade de resposta da concessionária.

A demonstração mais clara desse cenário lamentável foi a intervenção da Justiça no Consórcio Guaicurus, decidida nesta semana. Ainda que se discuta se a intervenção será, de fato, efetivada ou em que moldes ocorrerá, o simples fato de o Judiciário ser chamado a intervir já evidencia a gravidade da situação.

Quando contratos de concessão chegam a esse ponto, é sinal de que todos os mecanismos de fiscalização e correção falharam ao longo do caminho.

Independentemente do desfecho jurídico, o que se impõe é a necessidade urgente de mudar a forma de prestar o serviço de transporte público em Campo Grande. Não se resolve um problema estrutural com medidas improvisadas, paliativos ou decisões baseadas em achismos.

É indispensável uma ampla revisão do modelo, com estudos técnicos consistentes, um desenho financeiro sustentável e metas claras de qualidade e eficiência.

Há cerca de dois anos, o governo do Estado, que tem acumulado experiência em parcerias público-privadas, dispôs-se a auxiliar o Município na busca por soluções. Não está claro, até agora, se essa ajuda foi efetivamente buscada ou aproveitada pela administração municipal.

O fato é que oportunidades de cooperação técnica e institucional não podem ser desperdiçadas quando está em jogo um serviço essencial para a vida urbana.

O que está absolutamente claro é que algo precisa ser feito – e com urgência. Mais do que uma greve de motoristas, a situação vivida nesta semana é um grito coletivo por melhoria do transporte público.

É o clamor de trabalhadores que querem receber em dia, de usuários que exigem dignidade e de uma cidade que não pode continuar refém de um sistema falido. Ignorar esse alerta é condenar Campo Grande a repetir, indefinidamente, os mesmos erros e as mesmas crises.

ARTIGOS

Greve de ônibus em Campo Grande expõe falhas de gestão e fragilidade institucional

Quando um serviço essencial entra em colapso, evidencia-se a ausência de planejamento, de fiscalização eficiente e de mecanismos de mediação capazes de prevenir crises que afetam diretamente a vida da população

17/12/2025 07h45

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A greve de ônibus em Campo Grande vai além de um impasse pontual entre trabalhadores, empresas e poder público, ela escancara a precariedade da gestão atual e a fragilidade das instituições responsáveis por garantir a prestação adequada dos serviços públicos.

Quando o transporte coletivo – um serviço essencial – entra em colapso, evidencia-se a ausência de planejamento, de fiscalização eficiente e de mecanismos de mediação capazes de prevenir crises que afetam diretamente a vida da população.

As instituições que deveriam zelar pela entrega de valor à sociedade falham ao permitir que conflitos previsíveis cheguem a esse nível. A gestão pública, ao não exercer seu papel regulador com firmeza e transparência, transfere para o cidadão o custo da ineficiência administrativa.

A falta de diálogo estruturado, de contratos bem fiscalizados e de políticas de mobilidade consistentes cria um ambiente de instabilidade permanente, no qual greves se tornam recorrentes e quase naturalizadas.

O impacto econômico é imediato e amplo. Trabalhadores enfrentam dificuldades para chegar aos seus empregos, empresas perdem produtividade, o comércio registra queda no movimento e serviços essenciais operam de forma precária.

A economia como um todo sai perdendo, pois a interrupção do transporte coletivo afeta cadeias produtivas inteiras e aprofunda desigualdades, penalizando principalmente quem depende exclusivamente do ônibus para se deslocar.

Além disso, a paralisação traz consequências diretas para a saúde e o bem-estar de todos. Com a dificuldade de deslocamento, equipes responsáveis pelos serviços de asseio e conservação também são prejudicadas, resultando em deterioração das condições sanitárias em diversos ambientes, como escolas, supermercados, condomínios, etc.

Esse cenário favorece a proliferação de doenças, aumenta riscos ambientais e compromete a qualidade de vida.

Mais grave ainda é o prejuízo à cidadania. O direito de ir e vir é comprometido, assim como o acesso a serviços básicos, e a população passa a perceber o Estado como incapaz de cumprir sua função básica de garantir serviços públicos de qualidade.

Isso corrói a confiança nas instituições e reforça a sensação de abandono e descrédito na gestão pública.

A greve de ônibus, portanto, não deve ser vista apenas como um problema trabalhista ou operacional, mas como um sintoma de falhas estruturais.

Superar esse cenário exige uma gestão mais profissional, instituições fortalecidas, transparência nos contratos e um compromisso real com a entrega de valor ao cidadão. Sem isso, crises semelhantes continuarão a se repetir, com custos sociais, econômicos e sanitários cada vez mais elevados.

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