A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada na Câmara Municipal de Campo Grande para investigar o sistema de transporte coletivo coincide com um sinal sensato vindo da direção do Consórcio Guaicurus: apenas um novo contrato pode salvar o serviço. A constatação é dura, mas realista, e vai ao encontro do que o Correio do Estado tem defendido nos últimos anos. O modelo atual, firmado em 2012, não atende mais às necessidades da cidade nem às expectativas dos usuários.
Desde a assinatura do contrato de concessão, o cenário enfrentado pelo transporte coletivo sofreu reviravoltas consideráveis. Os protestos de 2013 foram um marco. Com forte pressão popular, as autoridades recorreram a um congelamento tarifário populista, que desorganizou a base econômica do sistema e, com o tempo, contribuiu para a sua precarização. A tarifa não acompanhou os custos, e os investimentos em renovação da frota e melhoria da estrutura foram deixados de lado.
Entre 2016 e 2018, outro fator importante agravou a crise: a popularização dos aplicativos de transporte. O que antes era uma distância considerável entre o preço de uma passagem de ônibus e de uma corrida de táxi se tornou uma diferença mínima entre o ônibus e uma viagem por app. Muitos passageiros migraram para essa nova alternativa, impactando diretamente a arrecadação do sistema convencional, que precisa de volume para se sustentar.
A isso se somaram as promessas de melhorias na infraestrutura viária da cidade, como corredores exclusivos e recapeamento de vias estratégicas. Boa parte dessas obras sequer saiu do papel, o que afetou a fluidez dos ônibus e, consequentemente, sua pontualidade e atratividade como opção de transporte diário.
Em 2020, a pandemia da Covid-19 escancarou de vez os limites do sistema. Com as restrições de circulação, as receitas despencaram e a crise já instaurada se agravou. Linhas foram cortadas, a frota foi reduzida e a situação chegou ao ponto em que se encontra hoje: um serviço que mal consegue atender à demanda existente, cuja qualidade segue em queda constante.
O mais grave, no entanto, é que o contrato em vigor, embora não tão antigo, tornou-se obsoleto. As regras e premissas que o sustentam não condizem com a atual realidade econômica, demográfica e tecnológica da cidade. Além disso, a falta de fiscalização ao longo dos anos apenas agravou as distorções e permitiu que o serviço se deteriorasse sem medidas corretivas adequadas.
É preciso, portanto, virar a página. A mobilidade urbana exige investimento e modernização. Mas, para atrair investimentos, é necessário começar do zero, com um novo marco contratual baseado em metas realistas, fiscalização rigorosa, estímulo à inovação e compromisso com o interesse público. A cidade precisa de um transporte coletivo moderno, funcional e eficiente – e isso só será possível com coragem política e disposição para recomeçar.



