Artigos e Opinião

OPINIÃO

Roberto Santos Cunha:
"A crise e seu legado benéfico"

Advogado

Redação

16/03/2016 - 01h00
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No último dia 9 de março, o Ministério Público de São Paulo denunciou o ex-presidente Lula pelos crimes de estelionato, falsidade ideológica, organização criminosa e lavagem de dinheiro no famigerado episódio envolvendo a aquisição de um Triplex no Guarujá. No dia seguinte (10/03), o Promotor de Justiça Cassio Conserino pediu a prisão preventiva do ex-presidente, alegando necessidade de garantia da ordem pública, a instrução criminal e aplicação da lei penal, pois Lula, se mantido solto, poderá destruir provas e utilizar de seu prestígio e influência para atrapalhar a persecução criminal. 

Diante desses acontecimentos, aliados à expectativa de um possível impeachment da presidente Dilma, o mercado financeiro reagiu positivamente. No dia do pedido de prisão do ex-presidente a bolsa de valores fechou em alta de 1,86% . No mesmo passo, o dólar comercial fechou cotado a R$ 3,6420, menor cotação em mais de 6(seis) meses. Neste cenário, fica claro que a crise no País é substancialmente agravada pela corrupção endêmica dos seus dirigentes e governantes.

Ocorre que a situação político-econômica no Brasil está chegando ao limite do insustentável! Sem dúvida, os reflexos da grave crise derivada da corrupção endêmica no Brasil atingem a todos indistintamente, iniciando na escamoteada população de baixa renda, passando pela aviltada classe média e chegando até os mais abastados brasileiros, até então imunes a ela. Todos sentem os reflexos da mixórdia econômica do governo da Presidente Dilma. 

Nesse contexto, o Partido dos Trabalhadores, que enquanto oposição sempre levantou a bandeira contra a corrupção, hoje é o principal protagonista dela, com o seu maior líder denunciado pelo Ministério Público por diversos crimes. Aliás, comenta-se que se Lula tivesse aceitado ou vier a aceitar a participar do desgovernado Governo Dilma, não estaria passando por esta situação, pois deteria foro privilegiado junto ao Supremo Tribunal Federal, onde as coisas poderiam ser diferentes. Tal comentário é um rematado absurdo. Até pouco tempo atrás, tal hipótese poderia ser levada em consideração. Mas hoje, com a toda a população sentindo na pele e no bolso as agruras da crise, não há espaço para alienados políticos, e o povo, participando ativamente dos acontecimentos, vem cobrando de todas as instituições a cara conta dessa leviana e obsoleta forma de fazer política no Brasil.

De todas as mazelas que estamos vivenciando, penso que seja possível se extrair algo positivo. A população brasileira, por diversos fatores, sempre esteve alienada e alijada do processo político. Até pouco tempo, era muito comum ouvir das pessoas: “Não gosto de política, isso é coisa de bandido”, ou outros mais incautos e resignados dizendo “fulano rouba, mas faz”. Hodiernamente tais discursos não mais se coadunam com a atual conjuntura política pela qual passamos. E isso se deve justamente porque, como disse, os reflexos dessa crise abarcou invariavelmente a todos, do mais pobre ao mais rico. 

Portanto, a velha forma de fazer política no Brasil está com os seus dias contados. O povo brasileiro vem paulatina e forçosamente se politizando em meio às adversidades enfrentadas. E a participação popular - dentro dos primados da legalidade e respeitando o Estado Democrático de Direito -, é de fundamental importância para revertê-las. Não há mais espaço para corruptos e proxenetas da pátria. Este é o legado benéfico dessa crise. Certamente sairemos dela fortalecidos. Assim, mesmo no olho do furacão, é possível se enxergar algo de bom, e acreditar que dias melhores estão por vir, já que sempre depois da tempestade vem a bonança. 

EDITORIAL

O paralelo entre o consórcio e a Enel

A greve dos motoristas de ônibus, motivada pela incapacidade financeira do concessionário de honrar os salários de seus empregados, é o fundo do poço de um contrato problemático

18/12/2025 07h15

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A população de Campo Grande caminha para viver uma semana lamentável na prestação de serviços essenciais, em especial no transporte público.

A iminência de paralisações, a insegurança sobre a continuidade das linhas e o desgaste cotidiano enfrentado pelos usuários expõem, de forma escancarada, um sistema que já vinha dando sinais claros de esgotamento. O que se vê agora não é um episódio isolado, mas o ápice de uma crise que se arrasta há anos.

A greve dos motoristas de ônibus, motivada pela incapacidade financeira do concessionário de honrar o pagamento dos salários de seus empregados, representa o fundo do poço de um contrato problemático.

Um contrato que resulta em um serviço aquém do esperado, marcado por frota envelhecida, atrasos constantes, superlotação e uma satisfação baixíssima da população. Quando trabalhadores deixam de receber e usuários ficam sem transporte, fica evidente que o modelo fracassou.

A situação revelada durante a greve escancara uma verdadeira falência contratual. Não se trata apenas de um colapso financeiro, mas também de uma falência de credibilidade junto aos usuários, às instituições e ao próprio poder concedente.

O paralelo com a crise vivida pela concessionária de energia elétrica Enel, em São Paulo, é inevitável. Assim como ocorreu no setor elétrico paulista, o problema deixou de ser apenas técnico ou pontual e passou a comprometer a confiança no serviço prestado e na capacidade de resposta da concessionária.

A demonstração mais clara desse cenário lamentável foi a intervenção da Justiça no Consórcio Guaicurus, decidida nesta semana. Ainda que se discuta se a intervenção será, de fato, efetivada ou em que moldes ocorrerá, o simples fato de o Judiciário ser chamado a intervir já evidencia a gravidade da situação.

Quando contratos de concessão chegam a esse ponto, é sinal de que todos os mecanismos de fiscalização e correção falharam ao longo do caminho.

Independentemente do desfecho jurídico, o que se impõe é a necessidade urgente de mudar a forma de prestar o serviço de transporte público em Campo Grande. Não se resolve um problema estrutural com medidas improvisadas, paliativos ou decisões baseadas em achismos.

É indispensável uma ampla revisão do modelo, com estudos técnicos consistentes, um desenho financeiro sustentável e metas claras de qualidade e eficiência.

Há cerca de dois anos, o governo do Estado, que tem acumulado experiência em parcerias público-privadas, dispôs-se a auxiliar o Município na busca por soluções. Não está claro, até agora, se essa ajuda foi efetivamente buscada ou aproveitada pela administração municipal.

O fato é que oportunidades de cooperação técnica e institucional não podem ser desperdiçadas quando está em jogo um serviço essencial para a vida urbana.

O que está absolutamente claro é que algo precisa ser feito – e com urgência. Mais do que uma greve de motoristas, a situação vivida nesta semana é um grito coletivo por melhoria do transporte público.

É o clamor de trabalhadores que querem receber em dia, de usuários que exigem dignidade e de uma cidade que não pode continuar refém de um sistema falido. Ignorar esse alerta é condenar Campo Grande a repetir, indefinidamente, os mesmos erros e as mesmas crises.

ARTIGOS

Greve de ônibus em Campo Grande expõe falhas de gestão e fragilidade institucional

Quando um serviço essencial entra em colapso, evidencia-se a ausência de planejamento, de fiscalização eficiente e de mecanismos de mediação capazes de prevenir crises que afetam diretamente a vida da população

17/12/2025 07h45

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A greve de ônibus em Campo Grande vai além de um impasse pontual entre trabalhadores, empresas e poder público, ela escancara a precariedade da gestão atual e a fragilidade das instituições responsáveis por garantir a prestação adequada dos serviços públicos.

Quando o transporte coletivo – um serviço essencial – entra em colapso, evidencia-se a ausência de planejamento, de fiscalização eficiente e de mecanismos de mediação capazes de prevenir crises que afetam diretamente a vida da população.

As instituições que deveriam zelar pela entrega de valor à sociedade falham ao permitir que conflitos previsíveis cheguem a esse nível. A gestão pública, ao não exercer seu papel regulador com firmeza e transparência, transfere para o cidadão o custo da ineficiência administrativa.

A falta de diálogo estruturado, de contratos bem fiscalizados e de políticas de mobilidade consistentes cria um ambiente de instabilidade permanente, no qual greves se tornam recorrentes e quase naturalizadas.

O impacto econômico é imediato e amplo. Trabalhadores enfrentam dificuldades para chegar aos seus empregos, empresas perdem produtividade, o comércio registra queda no movimento e serviços essenciais operam de forma precária.

A economia como um todo sai perdendo, pois a interrupção do transporte coletivo afeta cadeias produtivas inteiras e aprofunda desigualdades, penalizando principalmente quem depende exclusivamente do ônibus para se deslocar.

Além disso, a paralisação traz consequências diretas para a saúde e o bem-estar de todos. Com a dificuldade de deslocamento, equipes responsáveis pelos serviços de asseio e conservação também são prejudicadas, resultando em deterioração das condições sanitárias em diversos ambientes, como escolas, supermercados, condomínios, etc.

Esse cenário favorece a proliferação de doenças, aumenta riscos ambientais e compromete a qualidade de vida.

Mais grave ainda é o prejuízo à cidadania. O direito de ir e vir é comprometido, assim como o acesso a serviços básicos, e a população passa a perceber o Estado como incapaz de cumprir sua função básica de garantir serviços públicos de qualidade.

Isso corrói a confiança nas instituições e reforça a sensação de abandono e descrédito na gestão pública.

A greve de ônibus, portanto, não deve ser vista apenas como um problema trabalhista ou operacional, mas como um sintoma de falhas estruturais.

Superar esse cenário exige uma gestão mais profissional, instituições fortalecidas, transparência nos contratos e um compromisso real com a entrega de valor ao cidadão. Sem isso, crises semelhantes continuarão a se repetir, com custos sociais, econômicos e sanitários cada vez mais elevados.

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