Artigos e Opinião

OPINIÃO

Wagner Cordeiro Chagas: ''As eleições de 1982 no Brasil''

Mestre em HIstória pela Universidade Federal da Grande Dourados

Redação

18/06/2015 - 00h00
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Há algumas semanas a Câmara dos Deputados vem discutindo algumas emendas da reforma política (PEC 182/2007). Penso que não está saindo como a maior parte da população gostaria, mas vejo que alguns pontos são válidos, como o fim da reeleição para o poder Executivo (o que deveria ocorrer também no Legislativo). Um dos pontos discutido e derrubado na semana passada foi a coincidência das eleições, ou seja, a ideia de se realizar em apenas um pleito a votação para vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente da República.

Do meu ponto de vista, o sistema vigente no país, onde o eleitor vota a cada dois anos, apesar de estar viciado e sair muito caro aos nossos bolsos, representa uma importante forma de participação da população nas decisões democráticas. Conforme escreve o cientista político Jairo Nicolau, em sua obra Eleições no Brasil: do Império aos dias atuais (Editora Zahar, 2012), o país possui uma das mais duradouras experiências com eleições, em relação a outras nações, e, por mais que muitos eleitores não deem a mínima importância à política, ela precisa ser discutida. 

O Brasil já passou por uma experiência de eleição unificada, foi no ano de 1982 (quando existiam apenas 5 partidos políticos: PDS, PMDB PTB, PDT e PT), período final da trágica ditadura militar, quando os eleitores retomaram o direito ao voto para governador, após 16 anos de impedimento.

Nela votou-se de uma só vez para vereador, prefeito de municípios que não se encontravam na situação de Área de Segurança Nacional, deputado estadual, deputado federal, senador e governador. O pleito unificado foi casuístico, ou seja, tinha por objetivos atender aos interesses do regime, que temia ver crescer ainda mais a oposição liderada pelo PMDB, e causou muitas confusões entre os cidadãos, pois era preciso preencher uma cédula com os nomes ou números de 6 candidatos. Vamos entender como se chegou a ela.

Em 1980 deveriam ocorrer eleições para prefeitos e vereadores (os quais haviam sido eleitos em 1976) em grande parte dos municípios brasileiros. No entanto, uma Emenda à Constituição, conhecida como Emenda Anísio de Souza, alterou a data para 1982. Os prefeitos tiveram seus mandatos estendidos por 2 anos. A lógica da ditadura era a seguinte: far-se-ia eleições de vereador a governador para garantir uma boa votação ao PDS (antiga ARENA), partido do governo, já que muitos municípios eram governados por esta legenda. Além de ser bem mais fácil manipular o eleitor, pois em muitos municípios interioranos, as ideias da oposição não eram bem aceitos.
Uma das estratégias utilizada pelo governo naquele pleito foi o voto vinculado, isto é, o eleitor deveria, obrigatoriamente, votar em candidatos de apenas um partido. Por exemplo, se a pessoa escolhesse votar no PDT para vereador, deveria repetir o voto neste partido para os demais cargos contidos na cédula, caso contrário seu voto era anulado. 
As eleições de 1982 representaram uma grande vitória da oposição no Brasil, pois o PMDB conquistou o governo de 9 estados, e o PDT elegeu 1 governador (Leonel Brizola, no Rio de Janeiro). Contudo, em relação às prefeituras, o partido governista saiu na vantagem, já que o PDS ganhou a maioria dos governos municipais.

Aquela eleição entrou para a história como uma das mais importantes do país, mas a forma como foi realizada, creio que se fosse retomada geraria muita confusão entre os eleitores, além de impedir a população de participar dos destinos da nação em curtos intervalos de tempo. A Câmara dos Deputados fez bem ao não aprovar esta proposta. Falta agora pensar numa forma de reduzir os custos exorbitantes das campanhas eleitorais. Uma boa ideia vem do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), que propõe limitar os gastos de campanha por candidato.

EDITORIAL

O paralelo entre o consórcio e a Enel

A greve dos motoristas de ônibus, motivada pela incapacidade financeira do concessionário de honrar os salários de seus empregados, é o fundo do poço de um contrato problemático

18/12/2025 07h15

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A população de Campo Grande caminha para viver uma semana lamentável na prestação de serviços essenciais, em especial no transporte público.

A iminência de paralisações, a insegurança sobre a continuidade das linhas e o desgaste cotidiano enfrentado pelos usuários expõem, de forma escancarada, um sistema que já vinha dando sinais claros de esgotamento. O que se vê agora não é um episódio isolado, mas o ápice de uma crise que se arrasta há anos.

A greve dos motoristas de ônibus, motivada pela incapacidade financeira do concessionário de honrar o pagamento dos salários de seus empregados, representa o fundo do poço de um contrato problemático.

Um contrato que resulta em um serviço aquém do esperado, marcado por frota envelhecida, atrasos constantes, superlotação e uma satisfação baixíssima da população. Quando trabalhadores deixam de receber e usuários ficam sem transporte, fica evidente que o modelo fracassou.

A situação revelada durante a greve escancara uma verdadeira falência contratual. Não se trata apenas de um colapso financeiro, mas também de uma falência de credibilidade junto aos usuários, às instituições e ao próprio poder concedente.

O paralelo com a crise vivida pela concessionária de energia elétrica Enel, em São Paulo, é inevitável. Assim como ocorreu no setor elétrico paulista, o problema deixou de ser apenas técnico ou pontual e passou a comprometer a confiança no serviço prestado e na capacidade de resposta da concessionária.

A demonstração mais clara desse cenário lamentável foi a intervenção da Justiça no Consórcio Guaicurus, decidida nesta semana. Ainda que se discuta se a intervenção será, de fato, efetivada ou em que moldes ocorrerá, o simples fato de o Judiciário ser chamado a intervir já evidencia a gravidade da situação.

Quando contratos de concessão chegam a esse ponto, é sinal de que todos os mecanismos de fiscalização e correção falharam ao longo do caminho.

Independentemente do desfecho jurídico, o que se impõe é a necessidade urgente de mudar a forma de prestar o serviço de transporte público em Campo Grande. Não se resolve um problema estrutural com medidas improvisadas, paliativos ou decisões baseadas em achismos.

É indispensável uma ampla revisão do modelo, com estudos técnicos consistentes, um desenho financeiro sustentável e metas claras de qualidade e eficiência.

Há cerca de dois anos, o governo do Estado, que tem acumulado experiência em parcerias público-privadas, dispôs-se a auxiliar o Município na busca por soluções. Não está claro, até agora, se essa ajuda foi efetivamente buscada ou aproveitada pela administração municipal.

O fato é que oportunidades de cooperação técnica e institucional não podem ser desperdiçadas quando está em jogo um serviço essencial para a vida urbana.

O que está absolutamente claro é que algo precisa ser feito – e com urgência. Mais do que uma greve de motoristas, a situação vivida nesta semana é um grito coletivo por melhoria do transporte público.

É o clamor de trabalhadores que querem receber em dia, de usuários que exigem dignidade e de uma cidade que não pode continuar refém de um sistema falido. Ignorar esse alerta é condenar Campo Grande a repetir, indefinidamente, os mesmos erros e as mesmas crises.

ARTIGOS

Greve de ônibus em Campo Grande expõe falhas de gestão e fragilidade institucional

Quando um serviço essencial entra em colapso, evidencia-se a ausência de planejamento, de fiscalização eficiente e de mecanismos de mediação capazes de prevenir crises que afetam diretamente a vida da população

17/12/2025 07h45

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A greve de ônibus em Campo Grande vai além de um impasse pontual entre trabalhadores, empresas e poder público, ela escancara a precariedade da gestão atual e a fragilidade das instituições responsáveis por garantir a prestação adequada dos serviços públicos.

Quando o transporte coletivo – um serviço essencial – entra em colapso, evidencia-se a ausência de planejamento, de fiscalização eficiente e de mecanismos de mediação capazes de prevenir crises que afetam diretamente a vida da população.

As instituições que deveriam zelar pela entrega de valor à sociedade falham ao permitir que conflitos previsíveis cheguem a esse nível. A gestão pública, ao não exercer seu papel regulador com firmeza e transparência, transfere para o cidadão o custo da ineficiência administrativa.

A falta de diálogo estruturado, de contratos bem fiscalizados e de políticas de mobilidade consistentes cria um ambiente de instabilidade permanente, no qual greves se tornam recorrentes e quase naturalizadas.

O impacto econômico é imediato e amplo. Trabalhadores enfrentam dificuldades para chegar aos seus empregos, empresas perdem produtividade, o comércio registra queda no movimento e serviços essenciais operam de forma precária.

A economia como um todo sai perdendo, pois a interrupção do transporte coletivo afeta cadeias produtivas inteiras e aprofunda desigualdades, penalizando principalmente quem depende exclusivamente do ônibus para se deslocar.

Além disso, a paralisação traz consequências diretas para a saúde e o bem-estar de todos. Com a dificuldade de deslocamento, equipes responsáveis pelos serviços de asseio e conservação também são prejudicadas, resultando em deterioração das condições sanitárias em diversos ambientes, como escolas, supermercados, condomínios, etc.

Esse cenário favorece a proliferação de doenças, aumenta riscos ambientais e compromete a qualidade de vida.

Mais grave ainda é o prejuízo à cidadania. O direito de ir e vir é comprometido, assim como o acesso a serviços básicos, e a população passa a perceber o Estado como incapaz de cumprir sua função básica de garantir serviços públicos de qualidade.

Isso corrói a confiança nas instituições e reforça a sensação de abandono e descrédito na gestão pública.

A greve de ônibus, portanto, não deve ser vista apenas como um problema trabalhista ou operacional, mas como um sintoma de falhas estruturais.

Superar esse cenário exige uma gestão mais profissional, instituições fortalecidas, transparência nos contratos e um compromisso real com a entrega de valor ao cidadão. Sem isso, crises semelhantes continuarão a se repetir, com custos sociais, econômicos e sanitários cada vez mais elevados.

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