A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o World Mosquito Program (WMP), a prefeitura de Campo Grande e o Governo de Estado do Mato Grosso do Sul anunciaram a finalização da implementação do Método Wolbachia na Capital sul-mato-grossense. A iniciativa contou com o financiamento do Ministério da Saúde.
Assim, Campo Grande se torna a primeira cidade da região centro-oeste a ter o território protegido pelo método, que consiste na liberação de Aedes aegypti, mosquito transmissor, com a bactéria Wolbachia, que impede que os vírus da dengue, Zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam dentro do mosquito
Esses mosquitos se reproduzem com os mosquitos locais, gerando uma nova população com Wolbachia. Com o tempo, a porcentagem de mosquitos infectados com a bactéria aumenta, eliminando a necessidade de novas liberações.
O planejamento do projeto teve início em 2019, e as operações em 2020. Ele foi dividido em seis fases, e alcançou 74 bairros das sete regiões urbanas de Campo Grande, beneficiando mais de 900.000 pessoas.
Durante todo o período, foram produzidos aproximadamente 2,7 kg de ovos, 870.000 tubos e a liberação de 102 milhões de mosquitos.
De acordo com a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Veruska Lahdo, a população de Campo Grande vem convivendo com a dengue desde 1986 e, desde então, enfrentou várias epidemias que causaram muito transtorno e sofrimento à população e aos profissionais de saúde, além de sobrecarregar os serviços de saúde. Segundo ela, a última epidemia significativa em Campo Grande foi em 2019, com mais de 40 mil casos notificados.
“Nesse mesmo ano, demos um grande passo no combate às doenças causadas pelo Aedes aegypti com a implantação do Método Wolbachia. Foi um grande desafio para a capital, especialmente porque não esperávamos enfrentar uma pandemia logo no início das atividades em 2020. Tivemos que fazer vários arranjos para que, em dezembro de 2020, pudéssemos iniciar a liberação dos mosquitos no ambiente”, destaca Lahdo.
Para a superintendente, a participação e o apoio dos parceiros e dos servidores foram fundamentais para o sucesso na implementação do método na capital.
“Foram quatro anos de muito trabalho, contando com o apoio de vários segmentos, como a comunidade, unidades de saúde, agentes comunitários e a parceria constante dos pesquisadores da Fiocruz do Rio de Janeiro. Quero fazer um agradecimento especial a todos os nossos servidores da Coordenadoria de Controle de Endemias Vetoriais, que conduziram todas as estratégias para o sucesso dessa implementação, incluindo o trabalho executado na biofábrica. O Método Wolbachia, além de ser uma metodologia inovadora que veio para compor as demais estratégias já existentes, trouxe uma grande esperança para todos nós na redução da transmissão de doenças graves como dengue, Zika e chikungunya”, conclui.
“Nós que fazemos parte do Método Wolbachia agradecemos muito a cada parceiro, apoiador, as lideranças que estiveram presentes de mãos dadas durante toda essa jornada. Essa é uma rede construída em conjunto e com muitas mãos”, reforça Luciano Moreira, Líder do Método Wolbachia no Brasil.
Segundo a superintendente, os casos de dengue, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, têm se mantido estáveis em Campo Grande. Há dois anos o município não enfrenta uma epidemia da doença.
Os resultados do Método Wolbachia são positivos e representam uma ferramenta eficaz para o estado, pois foi realizado o projeto na nossa capital, que corresponde a maior parte da população do estado de Mato Grosso do Sul, sendo um estado endêmico que enfrenta há muitos anos as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
Este projeto fortaleceu a colaboração entre a comunidade científica, as autoridades de saúde e a população, demonstrando que juntos somos mais fortes e mais capazes de enfrentar desafios complexos. – Larissa Castilho – Superintendente de Vigilância em Saúde – SES/MS
“É importante ressaltar que os resultados começam a ser observados a partir de dois após o término das liberações dos Wolbitos, os mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia. Em Campo Grande as liberações foram finalizadas em dezembro de 2023. Seguimos fazendo o monitoramento do estabelecimento da Wolbachia no município. Estamos contentes com a finalização desse projeto que é para todos. Um trabalho que leva mais saúde para a população. ”, conta Luciano Moreira.
Ovo carioca, mosquito pantaneiro
Para potencializar a implementação do método, Campo Grande ganhou uma biofábrica para a produção desses mosquitos. Os ovos do Aedes aegypti com Wolbachia eram enviados do Rio de Janeiro e acompanhados até a fase adulta na biofábrica local, onde eram liberados em ciclos de 16 semanas. Assim, nasciam em berço campo-grandense os mosquitos pantaneiros com Wolbachia.
Uma das estratégias utilizadas foi o Dispositivo de Liberação de Ovos (DLO) na região das Moreninhas, conhecido como “Casa do Wolbito”. Esta estratégia envolveu a comunidade na liberação de ovos de mosquitos com Wolbachia.
Engajamento comunitário
O engajamento comunitário é fundamental para a implementação do Método Wolbachia. Cerca de 500 agentes foram capacitados para dialogar com a população, esclarecer dúvidas e apresentar o funcionamento do método. Durante esta etapa, 385.000 pessoas foram diretamente alcançadas.
Campo Grande possui uma forte representação indígena, e a comunicação com estas comunidades incluiu reuniões com as lideranças das aldeias Marçal de Souza, Estrela do Amanhã e Água Bonita, além da produção de vídeos em línguas indígenas.
Com o objetivo de intensificar o estabelecimento dos Wolbitos, Campo Grande desenvolveu a iniciativa “Wolbito em Casa”, que envolveu 1.695 alunos de 17 escolas municipais. Esses alunos levaram cápsulas com ovos de Wolbachia para casa e cuidaram de seu desenvolvimento.
O gestor de implementação do Método Wolbachia em Campo Grande, Antônio Brandão, destacou que a estratégia contribuiu para o estabelecimento dos Wolbitos no território onde esses alunos residem e também para seu aprendizado.
“Foi uma estratégia muito importante, pois em nenhum local do mundo nós conseguimos fazer algo nestas proporções, contribuindo assim no estabelecimento dos mosquitos”, diz Brandão.
Na avaliação da secretária municipal de Saúde, Rosana Leite de Melo, a implementação do Método Wolbachia em Campo Grande representa um marco significativo no combate às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
“Temos grandes expectativas em relação ao estabelecimento dos mosquitos com Wolbachia na natureza, o que deve se perpetuar ao longo do tempo, contribuindo para que nossa cidade mantenha baixos índices de doenças como dengue, Zika e chikungunya. Este é, sem dúvida, o maior legado que podemos esperar de um projeto tão importante. A continuidade e a eficácia desta estratégia inovadora nos trazem esperança e reafirmam nosso compromisso com a saúde e o bem-estar da população de Campo Grande”, conclui.