A Prefeitura de Campo Grande solicitou ao Exército Brasileiro a ajuda de militares para o combate à dengue na Capital, após a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) fazer um alerta sobre a cidade já viver uma epidemia da doença, com aumento de 20% nos atendimentos a pessoas que apresentam sintomas da enfermidade.
De acordo a superintendente de Vigilância em Saúde da Sesau, Veruska Lahdo, uma reunião foi marcada entre a prefeitura e o Exército, mas ainda não há previsão de quando essa parceria seja concretizada.
A ideia, segundo Veruska, é que os militares sejam treinados para atuar como agentes de endemias, percorrendo as residências campo-grandenses, orientando a população e eliminando todo e qualquer recipiente que possa servir de criadouro para o mosquito Aedes aegypti, que é o transmissor de dengue, zika e chikungunya.
“Eles poderão tanto fazer parte de equipes de agentes de endemias quanto irem sozinhos nessas visitas, vista a boa aceitação que os militares têm entre a população”, explicou Veruska.
A medida ajudará a aumentar as equipes presentes nas ruas para combater o mosquito, que contam atualmente com 425 agentes de endemias que atuam em toda a cidade. Além deles, a superintendente acrescenta que os agentes de saúde, que são mais de 1,6 mil colaboradores, também contribuirão com o controle dos insetos durante as visitas.
“Temos agentes de endemias que atuam no Centro de Controle de Zoonoses [CCZ] e os que fazem as visitas domiciliares, mas também temos apoio dos agentes comunitários, que informam ao colaborador de endemia os locais mais críticos”, detalhou.
EQUIPES
Quando a parceria for colocada em prática, será de grande ajuda para esses servidores municipais, uma vez que Campo Grande tem quase 1 milhão de habitantes e essas pessoas precisam passar pelos imóveis pelo menos uma vez a cada dois meses, a fim de evitar que o mosquito se prolifere.
Segundo o supervisor-geral dos agentes de endemias da região Imbirussu, Toni Carlos Álvares Dobis, nesta área atuam 10 equipes, com 41 colaboradores e mais 10 supervisores. Diariamente, eles visitam uma média de 800 imóveis. Nas visitas de quarta-feira, por exemplo, foram vistoriados 710 imóveis, nos quais 38 focos de dengue foram encontrados.
“Nós estamos tendo uma média de 35 a 40 focos encontrados por dia aqui na região. Já trabalhamos uma semana para fazer essa média de coleta e, hoje, fazemos em apenas um dia, o que mostra o aumento da proliferação do mosquito”, relatou Dobis.
O supervisor ressalta que esse tipo de aviso de epidemia feito pela prefeitura costumava ocorrer em dezembro ou até mesmo no fim do ano, e não em março.
“Esse já foi um alerta para os casos que podem ser registrados em abril, pela quantidade de larvas que temos encontrado. Isso é um pouco diferente do que geralmente ocorre. Primeiro, por conta das chuvas, que têm vindo em excesso, mas também pela falta de zelo da população. A gente encontra coisas que poderiam ter sido colocadas em uma sacola, jogada no lixo, e não no meio da rua”, declarou.
Outro problema enfrentado pelas equipes são as residências que estão abandonadas ou colocadas à venda.
“Quando [as propriedades] estão com alguma imobiliária, entramos em contato com elas e conseguimos fazer a visita, mas quando estão abandonadas temos mais dificuldade”, disse Dobis.
“Nesses casos, passamos para um setor que cuida de imóveis especiais, que consegue autorização na Justiça para isso. Mas demora, e o processo de reprodução dos mosquitos tem duração de cerca de 12 dias, ou seja, nesse tempo é possível que novos insetos se reproduzam”, explicou o supervisor.
A reportagem do Correio do Estado acompanhou uma equipe de agentes de endemias no Bairro Ana Maria do Couto. No local, foram encontrados diversos recipientes propícios para a proliferação da doença, principalmente em terrenos abandonados. Em um deles, por exemplo, havia um pneu com água parada, no qual foram observadas várias larvas de mosquito.
WOLBACHIA
Desde dezembro de 2020, Campo Grande tem feito soltura de Aedes aegypti contendo a bactéria Wolbachia, a qual reduz a capacidade do inseto de transmitir doenças.
Para a superintendente da Sesau, esse mosquito modificado tem contribuído para que os casos de dengue não estejam em patamares endêmicos, como em outros anos.
“Já tivemos situação de epidemia com números mais altos. Temos esses mosquitos desde 2020, e há áreas apresentando bom estabelecimento desses insetos. Vemos municípios com cenário pior do que o de Campo Grande, e acreditamos que isso se deva ao mosquito com a bactéria, que conseguiu conter a doença”, analisou Veruska.
O método wolbachia foi implantado pela Sesau em conjunto com o World Mosquito Program (WMP), iniciativa que, no Brasil, é conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo governo do Estado.
O projeto do WMP é resultado da descoberta de que o Aedes aegypti contendo a bactéria Wolbachia tem sua capacidade reduzida na transmissão de doenças. Campo Grande foi escolhida por ser uma cidade de médio porte e que vinha sofrendo com a alta incidência de dengue.
A ideia é que, após a soltura dos mosquitos com a bactéria, eles cruzem com outros mosquitos e, dessa forma, passem a bactéria para a próxima geração. Espera-se que, com o passar do tempo, haja uma grande porcentagem do mosquito com a bactéria Wolbachia, reduzindo casos de dengue, zika e chikungunya.