Em uma entrevista para o programa “Bom dia, Ministra”, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, comentou sobre os conflitos entre fazendeiros e indígenas ocorridos em Mato Grosso do Sul e destacou a urgência de promover um diálogo entre governo, produtores rurais e lideranças indígenas para reduzir a violência no campo e garantir a devolução dos territórios tradicionais aos povos originários.
A ministra também ressaltou os esforços que o Governo Federal tem feito para buscar construir acordos para a devolução de terras e indenizações aos proprietários que possuem títulos legítimos, enquanto, nos casos de posse irregular, o foco é a desocupação imediata e regularização fundiária.
“Os indígenas seguem lutando pela retomada dos seus territórios tradicionais porque têm certeza que ali estão seus antepassados, parentes enterrados. Hoje, o que é discutido junto ao Governo Federal e até com os próprios fazendeiros, é que possamos chegar a um acordo onde os territórios possam ser devolvidos aos povos indígenas a partir de um diálogo, para a desocupação ou para a indenização, para aqueles que têm títulos”.
Guajajara destacou a abertura de diálogo com o setor ruralista, envolvendo a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), que tem trazido o interesse de vários fazendeiros na abertura de negociações.
“Estamos buscando essas formas de diálogo para que a gente diminua essa violência e sofrimento dos indígenas, principalmente sobre os Guarani Kaiowá,que vivem situações precárias, porque a ausência desses territórios dificulta a sobrevivência, liberdade, dignidade e provoca essa situação de conflito de morte, como acontece em Mato Grosso do Sul”.
Em 2024, Mato Grosso do Sul era o terceiro estado brasileiro com maior número de mortes de indígenas, de acordo com dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil.
Nesse período, foram assassinados 33 indígenas. Em 2023, foram 43 mortes.
Entre janeiro e outubro de 2025, operações da Polícia Federal e da Força Nacional foram deflagrados em municípios como Dourados, Amambai e Caarapó para conter conflitos e investigar casos de violência envolvendo grupos armados e fazendeiros.
Um dos casos recentes, em outubro, precisou do apoio do Departamento de Operações de Fronteira, quanto indígenas Guarani Kaiowá e fazendeiros voltaram a brigar e disputar terras da Fazenda Ipuitã, em Caarapó.
Nesse conflito, os indígenas haviam ateado fogo contra a sede e maquinários da fazenda. O Cimi também afirmou que, nessa situação, uma menina de 17 anos foi sequestrada e acabou sendo resgatada na sede da fazenda. Por isso, os Guarani e Kaiowá decidiram não mais sair do local.
Falta de recursos básicos
A ministra Guajajara também afirmou na entrevista que, além dos esforços para pacificação, há ações estruturais em andamento, como a implantação de sistemas de abastecimento de água nas aldeias da fronteira sul-mato-grossense.
“Existe a situação de falta de água e temos feito muitas articulações com a [Usina de] Itaipu, que destinou R$60 milhões junto ao Governo do Estado, que destinou R$15 milhões, para que a gente possa construir um sistema de abastecimento de água na região da fronteira. Esse movimento tem sido feito numa parceria entre o Ministério dos Povos Indígenas e a bancada federal e com recursos do Fundo do Mercosul”.
No mês de abril deste ano, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul iniciou uma investigação para apurar problemas no fornecimento de água e na entrega de cestas básicas em duas aldeias indígenas, Jaguapiru e Bororó, localizadas em Dourados.
Moradores das comunidades relataram a grave situação de falta de água limpa e de saneamento básico, um cenário que coloca em risco a saúde e a qualidade de vida da população.
A falta de água levou indígenas das aldeias Jaguapiru e Bororó a fecharem a rodovia MS-156, que liga Itaporã a Dourados, em forma de protesto, sendo dispersados pela Polícia no terceiro dia de manifestações.
Em uma agenda em Campo Grande ao lado da Ministra Guajajara e da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, já havia detalhado ao Correio do Estado ações que garantem investimentos diretos em saneamento e abastecimento de água potável para comunidades indígenas no Estado.
“Nós aprovamos no Fundo para a Convergência Estrutural Mercosul, mais de 90 milhões de reais para os povos indígenas para levar água potável nas aldeias. E a maior parte desse recurso vem para o Mato Grosso do Sul, porque ele só pode ser destinado a estados fronteiriços”, explicou.
Os investimentos beneficiarão especialmente comunidades nas regiões de Ponta Porã, Corumbá, Dourados e Campo Grande, conforme detalhou a ministra.
“Na região de Ponta Porã, na região de Corumbá, na região da Grande Dourados e mesmo na região de Campo Grande, pegando a população Terena, eles vão, a partir do ano que vem, receber esse recurso. Ele já foi aprovado e será ratificado dia 2 de dezembro, em Brasília”, afirmou.


