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Deputado de MS assina PL que criminaliza vítimas de estupro

O projeto pretende colocar o aborto como crime de homicídio simples e afetará, em sua maioria, crianças vítimas de violência sexual, que descobrem tarde a gravidez

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O deputado federal Luiz Ovando (PP) é um dos parlamentares que assinam a autoria do Projeto de Lei (PL) n° 1.904/2024, que visa punir mulheres vítimas de estupro que se submetem a aborto. Essa é uma das poucas possibilidades de aborto no Brasil previstas em lei.

O deputado ligado a igrejas neopentecostais é coautor da proposta, que prevê que, além da mulher, o médico que realizar aborto após a 22ª semana de gestação, mesmo que a pessoa tenha sido vítima de estupro, também responderá por crime de homicídio simples.

O texto prevê alterações nos artigos 124, 125 e 126 do Código Penal Brasileiro e tem causado uma série de debates entre parlamentares e a população. 

O advogado criminalista Gustavo Scuarcialupi explica que, quando se trata de crime de aborto, há três possibilidades de punição atualmente: da gestante, quando o aborto é provocado por ela ou com o consentimento dela, previsto no artigo 124; e o aborto provocado por terceiros, com ou sem o consentimento da gestante, previsto no artigo 125 e 126. 

O projeto, redigido primeiramente por Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e assinado por Luiz Ovando, acaba justamente com as poucas exceções previstas em legislação, com o fim da isenção de pena tanto para o médico quanto para a gestante, se a gravidez for resultado de um estupro, e a alteração do tipo de crime, já que a partir de 22 semanas todos os envolvidos em um aborto, tanto a gestante quanto o profissional, responderiam por homicídio simples. 

"A meu ver, isso é totalmente absurdo, porque essa mulher ou esse médico responsável podem ir para júri e vão ser julgados no Tribunal do Júri por algo que obviamente é um direito da pessoa que sofreu uma violência sexual, retirar o feto que é oriundo de uma violência.

Acho que isso é uma completa violência institucional do Estado, que basicamente não dá proteção suficiente para a mulher para ela não sofrer violência sexual, não ser estuprada e, consequentemente, engravidar.

Além disso, o projeto impede que ela diminua, pelo menos de alguma forma, as consequências dessa violência sexual que o próprio Estado não conseguiu evitar", relata o advogado. 

A assistente social do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap) Patrícia Ferreira da Silva, que atende vítimas de estupro que procuram a unidade, capacitada em aborto legal, relata que as principais pessoas atingidas por esse projeto seriam crianças e adolescentes, que geralmente descobrem tardiamente a gravidez. 

"As maiores prejudicadas são aquelas que dependem de serviços públicos, socioeconomicamente mais vulneráveis e, em especial, meninas e adolescentes, que são a maioria, como já informado em várias pesquisas, que descobrem essa gestação tardiamente. E sabemos que, por muitas vezes, essa violência sexual foi por pessoas conhecidas e da própria família, trazendo medo e desconhecimento quanto aos seus direitos", informa a assistente social. 

Com a alteração do tipo de crime, a pena por aborto passaria de 1 ano a 3 anos de prisão para 6 anos a 20 anos, pontua Gustavo Scuarcialupi.

"Uma outra alteração que ele (PL) coloca é que o juiz pode não aplicar pena, desde que a gestante provoque um aborto nela própria e/ou alguém aplique com o consentimento dela e ela tenha um sofrimento muito grande, uma consequência muito grave, por exemplo, no aborto ela ficar paralítica, vamos supor. O juiz pode deixar de aplicar pena a ela, não ao terceiro que comete esse aborto", expõe o jurista.

Procedimento legal

O Humap é o único hospital de referência em abortos legais do Estado. Em 2023, 49 casos previstos em lei foram atendidos na unidade e, segundo a assistente social que trabalha no setor de acolhimento às vítimas, a maioria das mulheres que procuram o serviço foi violentada sexualmente. 

Para a assistente social, o projeto de lei não representa a realidade da sociedade, pois "demonstra a crueldade em que meninas, adolescentes, mulheres e pessoas que gestam vivenciam no contexto da violência". 

"Vale ressaltar que esse PL é um retrocesso aos direitos já concedidos e demonstra a vulnerabilidade dessas meninas, adolescentes, mulheres e pessoas que gestam na busca por seus direitos, a criminalização após ter sofrido a violência sexual e ainda ser culpabilizada pelo ato de outrem", expõe a assistente social. 

Patrícia Ferreira pontua que o Estado tem fazer leis que protejam as mulheres que já foram vítimas de uma violência, e não culpabilizar essas vítimas, transformando-as "em criminosas diante da violência sofrida". 

"Esse projeto de lei é totalmente o contrário de como uma sociedade democrática, laica e protagonizadora de direitos se apresenta", Patrícia Ferreira, assistente social que trabalha com acolhimento de vítimas de estupro no Humap

A profissional frisa ainda que o Sistema Único de Saúde (SUS) é claro no direito á universalidade, integralidade e equidade no atendimento das pessoas, inclusive no direito de decidir por não continuar a gravidez em casos de estupro.

A assistente social também relata que quaisquer decisões tomadas por essas mulheres trazem agravamentos e sofrimentos emocionais, mesmo que estejam dentro da lei. 

"Não é sobre a questão do aborto, e sim entender que é uma questão de saúde pública, crianças não são mães, dos riscos de morte proveniente das consequências que traz a violência sexual, como suicídios, busca por métodos inseguros e morte materna por hemorragias", alerta Patrícia. 

Parlamentares

No Estado, apenas um deputado, Dagoberto Nogueira (PSDB), disse que é contra a colocação dessa pauta em regime de urgência, pois acredita que é necessário discutir mais sobre o projeto.

"É muito prematuro, da forma que foi divulgado. Ele [projeto de lei] já recebeu algumas modificações, e poucas pessoas têm conhecimento delas. Essa questão do aborto é muito delicada e não dá para votar assim, de qualquer jeito", pontua o parlamentar. 

Geraldo Rezende (PSDB) disse que não tinha uma resposta para dar à reportagem, já que o projeto não estava na pauta de ontem.

No entanto, o PL foi inserido na discussão e foi aprovado para ser tramitado em regime de urgência, por meio de votação simbólica, sendo assim, a iniciativa não passará por comissões, como as de Ética e Justiça, que é o caminho tradicional de todo projeto de lei. 

Beto Pereira (PSDB) e Camila Jara (PT), ambos pré-candidatos à Prefeitura de Campo Grande, não se pronunciaram a respeito do projeto.

A assessoria de Camila Jara informou apenas que a deputada estava alinhando com a bancada e a liderança de seu partido quanto ao posicionamento.

O deputado Vander Loubet disse que está em viagem para a China, e Marcos Pollon (PL) também não se pronunciou a respeito. 

Entre os favoráveis estão Luiz Ovando, que é coautor do projeto, e Rodolfo Nogueira (PL). Para Nogueira, a aprovação da iniciativa seria uma "grande vitória para os conservadores".

Quando perguntado sobre o projeto de lei criminalizar as vítimas de estupro, o deputado não respondeu a reportagem. 

Já Luiz Ovando disse que o projeto de lei visa acabar com a "vulgarização do aborto", mesmo o legal, que ocorre em casos de estupro, e um dos pontos que considera importante é a imposição da idade gestacional, de 22 semanas, pois essa distinção não está prevista no Código Penal.

O deputado informou ainda que o projeto quer enquadrar o aborto após a 22ª semana como crime contra a pessoa, e não como crime contra a vida, pois, para ele, após 22 semanas um feto já é uma pessoa.

"Se você for olhar nos livros de obstetrícia, a viabilidade fetal tranquila é em torno de 28 semanas, mas, na questão jurídica, é estabelecido 22 semanas, que com 22 semanas já há praticamente todos os órgãos formados, daí para a frente vai haver o amadurecimento", explica o deputado.

Caso o projeto for aprovado e as vítimas de estupro forem obrigadas a terem filhos decorrentes de uma violência para não responderem criminalmente, Ovando relata que, após nascida, essa criança passaria a ser uma questão do Estado, mas, admite que a proposta de lei não prevê a assistência para os bebês. 

"A gente tem de estar muito atento, porque, na verdade, ele não é fácil, ele é complexo, mas é que essa separação, essa colocação desses parágrafos nos códigos 124, 125 e 126 dá uma segurança para evitar a vulgarização, a questão é a vulgarização. A mulher está grávida, fez lá a transa, fez o que quer, Carnaval, não sei o que, agora 'eu não quero esse filho, vou falar que fui estuprada', e aí vai lá e não tem nada que julgue isso. Então, nós precisamos cercar isso para evitar a vulgarização", diz o coautor do projeto. 

 

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Marco Temporal

Para Gilmar Mendes, parlamentares e ONGs que apostam no conflito são irresponsáveis

Ministro do STF critica atuação de ONGs e parlamentares na conciliação do Marco Temporal das Terras Indígenas, acusando-os de incentivar conflitos no campo e agir de forma eleitoreira

12/05/2025 17h35

Gilmar Mendes comandou reabertura da Comissão de Conciliação

Gilmar Mendes comandou reabertura da Comissão de Conciliação Divulgação/STF

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Na reabertura do processo de conciliação entre indígenas e fazendeiros sobre o Marco Temporal, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, mandou um recado a grupos ligados tanto aos povos originários (algumas ONGs) quanto aos proprietários (representados por alguns parlamentares), que continuam apostando no conflito, mesmo com a conciliação aberta.

As audiências foram retomadas nesta segunda-feira (13) e se prolongarão até o próximo dia 25. De Mato Grosso do Sul, há representantes dos dois lados, tanto dos povos indígenas quanto dos proprietários de terra, por meio da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul).

Mendes criticou parlamentares ligados à extrema direita e organizações não governamentais, sobretudo as que defendem os indígenas. “Ambos agem irresponsavelmente”, afirmou.

“Durante o decorrer desta comissão, temos visto também parlamentares defendendo eleitoralmente posições, ao meu ver, irrefletidas, de forma demagógica, não olvidando que estão vendendo ilusões”, asseverou Mendes. “Ao passo que muitas ONGs acabam incentivando invasões e conflitos”, lembrou.

O ministro do STF chamou alguns parlamentares e ONGs de “mercadores de ilusões”. “Isso não pode assegurar a paz no campo, o que acaba sendo um negócio lucrativo para os intermediadores do conflito”, disse. “Quem aposta no conflito não defende o interesse público, tampouco busca proteger o direito dos indígenas”, acrescentou.

 

Mato Grosso do Sul é exemplo

Além do puxão de orelha em integrantes da mesa de conciliação, Gilmar Mendes também citou um exemplo positivo que vem de Mato Grosso do Sul. Trata-se da compra de uma fazenda em Antônio João, por R$ 27 milhões, que resultou na criação de uma reserva indígena para a etnia Guarani-Kaiowá.

“A exemplo do acordo histórico obtido nesta Corte, em processo sob minha relatoria, envolvendo o município de Antônio João, Mato Grosso do Sul, no qual os indígenas do povo Iandi Marangatu e os não indígenas conseguiram avançar para além de suas diferenças e mágoas, resolvendo todos os interesses em litígio. Hoje não se tem notícia de conflitos ou mortes, após essa conquista civilizatória de todos.”

O ministro aposta em uma nova forma de convivência pacífica, com demarcações de terras, prazos e indenizações, que, segundo ele, trará segurança jurídica para indígenas e não indígenas.

“Porque esse momento histórico, de pessoas eventualmente adversárias ou até inimigas sentadas à mesa, é digno de registro e congratulações entre todos os cidadãos brasileiros de diferentes matizes de pensamento”, disse.

“Nós todos sabemos que as fórmulas tradicionais já foram tentadas e não deram os resultados esperados”, afirmou.

Mendes também afirmou que o Marco Temporal, tese jurídica defendida pelos proprietários, existe há 40 anos, mas que, de lá para cá, pouco se conseguiu avançar para além dos limites então estabelecidos.

“Por isso, faço votos de que todos nós possamos agir com bom senso e boa-fé, voltados ao entendimento entre indígenas e não indígenas”, disse.

A comissão

O Supremo Tribunal Federal (STF) tem atuado como mediador no impasse jurídico e político em torno da tese do marco temporal, que restringe o direito dos povos indígenas à demarcação de terras àquelas que estivessem ocupadas ou em disputa judicial em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal.

O ministro Gilmar Mendes é o relator das ações ajuizadas pelos partidos PL, PP e Republicanos, que defendem a manutenção da validade da Lei nº 14.701/2023, que consagrou a tese do marco temporal. Por outro lado, partidos da base governista e entidades representativas dos povos indígenas, como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), questionam a constitucionalidade da norma.

Em 2023, o STF julgou a tese inconstitucional ao analisar o Recurso Extraordinário (RE) 1017365, com repercussão geral reconhecida. A decisão da Corte foi usada como base jurídica para o veto presidencial ao projeto aprovado pelo Congresso Nacional. No entanto, em dezembro do mesmo ano, o Congresso derrubou o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, restabelecendo a validade da nova lei.

Diante do novo cenário, Gilmar Mendes remeteu as ações para tentativa de conciliação entre as partes. Na ocasião, o ministro também negou pedido de liminar apresentado por entidades indígenas para suspender os efeitos da deliberação do Congresso, o que gerou críticas por parte dessas organizações.

A Apib se retirou da mesa de conciliação, argumentando que não havia condições equânimes de debate e que os direitos constitucionais indígenas não podem ser objeto de negociação. Já os representantes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do governo continuaram participando do processo conciliatório.

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COMBATE A DENGUE

Aedes Aegypti: Fumacê circula por Campo Grande até às 22h nesta segunda-feira

Seis bairros estão na lista para receberem o inseticida e a recomendação é manter as portas e janelas abertas

12/05/2025 17h30

Fumacê acontece das 16h às 22h na Capital

Fumacê acontece das 16h às 22h na Capital Foto: Reprodução Prefeitura Municipal

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Nesta segunda-feira (12), seis bairros de Campo Grande receberão aplicação do inseticida conhecido como Fumacê, usado no combate ao mosquito Aedes aegypti, sendo eles: Moreninhas, Lageado, Centenário, Tarumã, Batistão e Aero Rancho.

A ação teve início as 16 horas e seguirá até as 22 horas, e a recomendação é que os moradores deixem portas e janelas abertas durante a passagem dos veículos de aplicação, permitindo que o produto atinja os locais onde os mosquitos costumam se esconder.

A Coordenadoria de Controle de Endemias Vetoriais (CCEV), vinculada à Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), reforçou que a borrifação do veneno, feita no sistema de Ultra Baixo Volume (UBV) pesado, e a intenção é acabar com os focos do Aedes aegypti, transmissor de doenças como Dengue, Zika e Chikungunya.

A ação pode ser adiada ou cancelada em caso de condições meteorológicas desfavoráveis, como chuva, ventos fortes ou neblina, que comprometem a eficácia do produto.

Confira os horários e os trechos:

  • Moreninhas: Rua Amapá Doce, com Rua Peroba Amarela
  • Lageado: Rua Durando Pereira da Silva, com Rua Rosa Orro
  • Centenário: Rua Martin Pescador, com Rua Panteras
  • Tarumã: Rua Sertaneja, com Rua Florão
  • Batistão: Rua Lagoa Santa, com Rua Lagoa Dourada
  • Aero Rancho: Rua Barão de Cocais, com Rua Regence

FUMACÊ

O Fumacê é uma estratégia utilizada para reduzir a proliferação do mosquito Aedes aegypti e reduzir a transmissão de doenças causadas por esse mosquito, como dengue, Zika ou Chikungunya.

A técnica consiste em passar com um carro que emite uma "nuvem" de fumaça com baixas doses de um agrotóxico que elimina a maior parte dos mosquitos adultos presentes na região, e embora não seja a forma mais segura de eliminar mosquitos, é bastante rápida, fácil e eficaz.Geralmente, a dose usada em uma aplicação é segura para a saúde humana.

O agrotóxico utilizado e aprovado pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde (OMS) atualmente nas pulverizações do fumacê é o Cielo-ULV. Esse agrotóxico contém duas substâncias na sua composição, a praletrina e a imidacloprida, que provocam intoxicação no sistema nervoso do mosquito, resultando na sua morte.

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