Cidades

Luto Ambiental

Desespero e sensação de fracasso atingem cientistas climáticos diante da falta de ações efetivas

Especialistas se dizem exaustos diante de tragédias e pedem novas abordagens contra inação

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"Os cientistas são humanos: também somos pessoas que vivem nesta Terra, que também sofrem os impactos das alterações climáticas, que também têm filhos e que também têm preocupações com o futuro", disse Lisa Schipper, da Universidade de Bonn (Alemanha), em entrevista ao Guardian.

"Fizemos a nossa ciência, elaboramos este relatório muito bom e -uau- realmente não fez diferença na política. É muito difícil ver sempre isso."

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o físico Paulo Artaxo, professor da USP (Universidade de São Paulo) e membro do IPCC, afirma que, nos últimos anos, há um desânimo notável entre parte dos cientistas da área climática.

"Há uma sensação de desespero e de fadiga em parte da comunidade. Obviamente a gente vê isso", afirma.

Segundo Artaxo, os pesquisadores têm se dividido entre duas vertentes. "Há quem pense que não tem mais o que fazer, que nós vamos extinguir 3 bilhões de pessoas no planeta e vamos perder boa parte da biodiversidade. E pronto, isso é um cenário do qual não tem volta", exemplifica.

"A outra metade, da qual eu faço parte, coloca que nós temos de desenvolver a melhor estratégia possível para orientar políticas públicas de redução de gases-estufa, que é a única coisa que pode ajudar a salvar o planeta."

Artaxo afirma que a situação o tem motivado a falar cada vez mais sobre as alterações climáticas, tentando atingir o público mais abrangente possível. "Eu dou três ou quatro palestras por semana, desde universidades e escolas até para o agronegócio", conta.
"O planeta está se encaminhando para um aquecimento médio de 3°C. Muito poucas pessoas na sociedade têm noção do que isso significa", avalia. "Nesse cenário, vamos ter eventos como esses do Rio Grande do Sul praticamente todos os meses."

Especialista em conservação das florestas e pesquisador do Imazon, Paulo Barreto diz que se sente preocupado ao ver que "parte expressiva da sociedade só aprende com a dor crescente das crises climáticas".

"A preocupação é agravada pelo fato de que outros tentam, genuinamente ou por manobra, continuar negando a crise ou a atribuindo a castigos divinos", explica. Segundo ele, é "especialmente frustrante ver pessoas com alto poder de decisão no setor empresarial e governamental continuarem fazendo apostas erradas, como investir em empresas que se beneficiam da destruição."

Uma das formas encontradas para lidar com esse sentimento, relata, tem sido o comprometimento em divulgar informações sobre as questões ambientais, como em palestras sobre desenvolvimento sustentável na amazônia.

"Também recorro à história para me inspirar em como a sociedade e as pessoas melhoraram o mundo. Crises podem resultar em cooperação para resolver problemas complicados."

Mesmo com a preocupação com o cenário da floresta e das mudanças ambientais, a bióloga Erika Berenguer diz que não perdeu a motivação para a pesquisa e que continua determinada a fazer a diferença em seu trabalho.

"Se eu achasse que não tem mais como conservar a amazônia, eu não continuava no meu trabalho. E não é uma questão só de achar. Eu tenho evidências de que tudo o que a gente faz para conservar a amazônia agora tem efeitos positivos. Se a gente se desesperar e não fizer nada, vai ser muito pior."Ao ver as primeiras imagens das enchentes no Rio Grande do Sul, no começo do mês, a bióloga Erika Berenguer, pesquisadora da Universidade de Oxford e referência nos estudos sobre impactos do fogo nas florestas tropicais, voltou a ter problemas digestivos.
Em regressão até aquele momento, o quadro de gastroparesia -mais conhecido como síndrome de atraso no esvaziamento gástrico- piorou. Ela passou a ter dores, inchaço no corpo e dificuldades para se alimentar.

Sem ter nenhum dos principais fatores de risco para a doença, o distúrbio foi atribuído pela equipe médica à exposição elevada ao estresse. Erika conta que, desde 2015, ano em que o El Niño contribuiu para incêndios devastadores na amazônia, vem enfrentando episódios de ansiedade e outras manifestações físicas relacionadas à situação da floresta e às mudanças climáticas. "Ainda é bem difícil de falar sobre isso", afirma.

A destruição da floresta trouxe ainda outras consequências físicas para a saúde da pesquisadora. Em 2023, em meio a mais uma temporada de incêndios e às partículas de poluição no ar, ela contraiu uma pneumonia.

"A primeira vez que eu senti o luto ecológico foi em 2015. A região em que eu trabalho, que é no Baixo Tapajós [no Pará], teve 1 milhão de hectares de florestas que queimaram. E eu estava lá, vendo a destruição", relata Berenguer, destacando tanto as perdas na biodiversidade quanto as consequências humanas dos incêndios.

"Eu trabalhava naquelas áreas havia cinco anos. Tinha uma árvore embaixo da qual a nossa equipe sempre comia, porque tinha uma sombra perfeita ao meio-dia. Em outra, tínhamos sempre de olhar para cima, porque, era nela que os macacos gostavam de dormir e aí tinha o risco de levarmos cocô na cabeça. De repente, tudo isso foi destruído", destaca.
"Eu sei que é difícil traduzir isso para as pessoas urbanas, mas é como se, de repente, todas as referências que existem numa cidade, como o nosso café e a nossa padaria favoritos, simplesmente deixassem de existir."

Ela conta que, nos primeiros meses, teve "uma sensação aguda". "Ao longo dos anos, virou uma dor crônica de ver vários lugares que eu conhecia profundamente não existindo mais", detalha.

"Alagamentos e enchentes em cidades são diferentes de uma floresta queimada, mas são pessoas sofrendo e perdendo tudo, inclusive, a sua noção de identidade territorial", explica.
Em um cenário de intensificação de eventos climáticos extremos, recordes de emissões de gases-estufa e calor sem precedentes, com 2023 sendo oficialmente declarado o ano mais quente da história da humanidade, situações como a de Erika Berenguer têm sido cada vez mais relatadas por cientistas envolvidos com as questões ambientais e de mudanças climáticas.

Um levantamento feito pelo jornal britânico The Guardian revelou recentemente que, em todo o mundo, muitos dos principais pesquisadores da área climática se sentem desesperados, enfurecidos e, em muitos casos, emocionalmente afetados pelo claro fracasso nas ações contra o aquecimento global.

A pesquisa contou com a participação de 380 cientistas, todos autores ou revisores de relatórios do IPCC (painel do clima da ONU), que há mais de três décadas alerta para as piores consequências do aumento global de temperaturas.

O grupo, altamente informado sobre a questão, mostra-se pessimista com o futuro: apenas 6% consideram que o aquecimento do planeta será limitado a 1,5°C, o valor preferencial do Acordo de Paris, tido como meta para evitar eventos climáticos mais intensos. Quase 80% dos entrevistados preveem um aumento de pelo menos 2,5°C na temperatura média do planeta em relação ao período pré-industrial.
 

*Informações da Folhapress

Serviço de Trânsito

Com 'guichê 60+' agências do Detran atenderam mais de 300 idosos em MS

Com enfoque em atendimento personalizado, pessoas com idade a partir dos 60 anos têm acesso a taxas diferenciadas

22/10/2024 17h00

Fotos: Rachid Waqued

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Com duas agências para atendimento preferencial a pessoas acima dos 60 anos, mais de 300 idosos foram atendidos pelo Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul (Detran-MS).

Com o intuito de ofertar atendimento humanizado, o modelo de atendimento tem foco na qualidade. Atualmente, são duas agências: uma em Campo Grande e outra em Dourados.

Conforme atualização do Detran-MS, por dia são atendidos em média 27 clientes; apenas nos primeiros dias, resultou em 277 pessoas com atendimento personalizado.

Fotos: Rachid Waqued / Agência Shopping Campo Grande

Capital

Em Campo Grande, o Guichê 60+ funciona na agência do Shopping Campo Grande.

O serviço teve início no dia 7 de outubro; em nove dias, 169 pessoas foram atendidas, com servidores capacitados para oferecer um atendimento empático e único.

No final do processo, o cliente ainda pode avaliar o atendimento dos colaboradores do Detran-MS.

“Na quinta-feira, atendemos um casal, e eles falaram que esse atendimento foi a melhor coisa que o Detran já fez para eles (os idosos). Atendimento rápido, não precisa agendar. E ela disse também que o atendimento da servidora foi extremamente ágil, de uma simpatia e educação, explicando tudo direitinho, com a paciência que eles necessitam”, disse a gerente da Agência do Shopping Campo Grande, Tamie Nadielli.

Dourados

A agência de Dourados foi a primeira a ofertar o serviço personalizado para os idosos e teve um total de 108 atendimentos em sua agência híbrida (entre os dias 3 e 18 de outubro).

“Nessa semana, o Guichê 60+ virou uma sala de aula. Tinham três pessoas para baixar o aplicativo e ter o documento do veículo no celular. A Evelyn atendeu os três juntos. Eles conversaram, fizeram amizade e acharam o máximo. O mais legal é que olhavam para a servidora e falavam: 'Olha o que eu sei fazer!' mostrando para ela como visualizar o documento. Comprovando que tinham aprendido o que ela tinha acabado de ensinar. Isso é gratificante”, compartilhou a gerente Elizangela Ximenes.

Atendimento personalizado

Os Guichês 60+ do Detran-MS representam um serviço inovador na gestão que trabalha tanto com o serviço digital quanto inclusivo.

"O Detran-MS avançou muito em tecnologia, e agora estamos focando também nas melhorias que podem impactar positivamente na vida do cidadão. O Guichê 60+ fortalece a inclusão e a valorização dos idosos na sociedade. Contribui para um envelhecimento mais ativo e saudável, promovendo uma convivência respeitosa entre as gerações”, pontuou o Diretor-Presidente do Detran-MS, Rudel Trindade.

Benefícios

Muito além do atendimento personalizado, pessoas com idade igual ou acima de 60 anos irão usufruir de cobrança de taxas com desconto nos seguintes serviços:

  • Emissão
  • Reemissão ou renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Segundo a Lei Estadual (n° 4.282, de 14 de dezembro de 2012), que prevê valores das taxas de serviço conforme a emissão da CNH expedida.

“A partir de 60 anos, em que a validade da CNH é de cinco anos, o valor é de 50% da guia; e a partir de 70 anos, em que a validade é de três anos, o valor é de 30% da guia”, explica o Diretor de Habilitação do Detran-MS, Luiz Fernando Ferreira.

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Meio Ambiente

Maior tatu-canastra é capturado no Pantanal de MS

Com a captura, foi possível realizar exames que auxiliarão a entender o processo de reprodução da espécie na natureza

22/10/2024 16h50

Imagem Divulgação

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O Projeto Tatu-Canastra capturou o maior tatu da espécie em 14 anos de trabalho no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Um macho, com 160 cm de comprimento e 36 kg, recebeu o nome de Wolfgang.

O nome faz alusão ao trabalho do presidente do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), Arnaud Desbiez, que, no dia 26 de setembro, recebeu o prêmio The Wolfgang Kiessling International Prize.

A premiação, pelo programa American Humane, veio justamente pela captura e registro do maior tatu-canastra já registrado no Pantanal sul-mato-grossense.

Imagem Divulgação

Avaliação


O animal passou por diversos exames para verificar a condição de saúde, assim como recebeu a instalação de um chip com rádio transmissor VHF.

Também foi feita a coleta de sêmen para estudos sobre a reprodução do tatu-canastra na natureza.

Todo o procedimento foi supervisionado pela médica veterinária e pesquisadora do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) para a coleta do material biológico.

“O principal objetivo do estudo é entender melhor como funcionam a biologia e a fisiologia reprodutiva do tatu-canastra e do tamanduá-bandeira em vida livre”, explica Carolina, que também é mestranda pela UNESP de Botucatu.

A pesquisa é financiada pela Rufford Foundation, do Reino Unido.

Reprodução


A pesquisa está concentrada na análise da qualidade do sêmen e da morfologia espermática, com o objetivo de criar, no futuro, um banco de preservação de diversas espécies

O estudo proporcionará um maior entendimento sobre a reprodução do tatu-canastra, cujo conhecimento ainda está pouco avançado.

“A validação dessas técnicas para monitoramento da reprodução em vida livre pode contribuir significativamente para a conservação desses dois gigantes da nossa fauna”, acrescenta a médica veterinária.

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