O empresário argentino Enrique Pescarmona, dono da Impsa, fabricante de turbinas para hidrelétricas e para energia eólica, deu uma entrevista ao jornal "Perfil" deste domingo (16) em que sugere que parou de receber da Eletrobrás porque não pagou propina.
A empresa ganhou na Justiça brasileira, em decisão de primeira instância, uma causa em que cobra R$ 1 milhão da Eletrobrás e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) por ter deixado de receber pela energia que produzia em parques eólicos em Santa Catarina e no Nordeste.
A Impsa, segundo Pescarmona, investiu US$ 300 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) em recursos próprios no Brasil. Somado ao capital de terceiros, o investimento total da empresa argentina chegou a US$ 1 milhão (R$ 3 bilhões). É o segundo maior investimento argentino no Brasil, atrás somente da compra do controle da Usiminas pela Techint.
Em entrevista ao jornal "Perfil", Pescarmona afirma que perdeu tudo o que aplicou no país vizinho. A Impsa quase quebrou e reduziu o número de funcionários na Argentina de 2.000 para pouco mais de 900.
Na entrevista, o jornalista Jorge Fontevecchia especula se Valter Cardeal, diretor da Eletrobrás, ligado à presidente Dilma Rousseff, seria o responsável pelo colapso de sua empresa e se seria ele a ponte entre o esquema de corrupção na Petrobras e práticas semelhantes que ocorreriam também na estatal de energia elétrica.
"É o que todos dizem", respondeu o empresário.
Em seguida, Pescarmona afirma que todas as empresas que hoje estão sendo processadas por suposto pagamento de propina não enfrentaram o mesmo problema que a Impsa com a Eletrobrás.
"Todas [as empresas] receberam. Fomos os únicos que não nos pagaram", afirmou. "Não quero fazer elucubrações sobre o assunto, mas o certo é que o único investidor a quem não pagaram pela energia [fornecida] por três anos fomos nós. Além disso, quiseram rescindir o contrato e queriam nos multar em R$ 4 bilhões, quando havíamos investido R$ 1,5 bilhão".
Segundo narra Pescarmona, quando procurou se informar na Eletrobrás sobre o que ocorria, recebeu o conselho de que deveria ir à Justiça.
"Nosso executivo, José Luis Meneghini, foi conversar com o presidente da Eetrobrás e recebeu como resposta 'vocês vão ganhar, mas terão que ir à Justiça'", contou Pescarmona.
Reclamar na Justiça, porém, segundo o empresário, significaria abrir mão de receber por três anos. "Isso nos matou porque ficamos sem receber US$ 250 milhões [cerca de R$ 750 milhões]".
"Nosso erro foi ter uma percepção equivocada de um Brasil moderno e nos demos conta de que um grupo de pessoas pode mudar a situação", desabafou Pescarmona.
Na entrevista, o empresário conta ainda que perdeu três negócios na Argentina para empresários argentinos simpáticos ao governo de Cristina Kirchner.
A Impsa ganhou os contratos, mas as licitações foram invalidadas e, depois, entregues a concorrentes que tinham parceria com chineses e russos.
Em crise financeira, sem acesso ao mercado internacional de crédito, a Argentina negociou com a China a injeção de recursos para aumentar suas reservas cambiais. O governo Kirchner também se aproximou da Rússia para obter financiamento externo.


