O projeto batizado de Cidade dos Ônibus, em Campo Grande, com estimativa de investimento de R$ 50 milhões e previsão de gerar mais de 1,5 mil vagas de emprego, foi anunciado em 2010 e nunca saiu do papel, deixando para trás a área destinada à construção de um condomínio que seria usado por empresas de transporte coletivo intermunicipal. Sem a implantação efetiva do “estacionamento”, o terreno de 20 hectares onde funcionaria o espaço – na BR-163, no Anel Viário da Capital, no fundo das Moreninhas – foi abandonado e agora é usado como depósito de entulhos.
A área é particular e a CGEA Ambiental, que tem outro ponto para despejo de entulho na cidade localizado na região do Inferninho, é a empresa responsável pelo serviço. A reportagem entrou em contato com a empresa, porém, as ligações não foram atendidas. O verdadeiro proprietário do terreno é o empresário Antônio Fernando Garcia, da Anfer Construções. A doação da área para a prefeitura foi negociada por ele há nove anos, com a intenção de obter autorização para um loteamento residencial em frente à Cidade dos Ônibus. Fontes ouvidas pela reportagem confirmam que o empresário tem intenção de reaver a área e desistir do projeto envolvendo as empresas de ônibus.
Mas o Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros de MS (Rodosul) afirma ter interesse na retomada do projeto. “A condição para que o terreno fosse doado era para fazer o empreendimento. Por um lado, a cidade ganharia e, pelo outro, o empresário construiria e venderia casas. Várias empresas tiveram a chance de se instalar ali, como a CCR [concessionária da BR-163]”, afirmou o presidente da entidade, Oswaldo César Possari.
PROBLEMA
Além da inviabilidade do projeto, outra situação observada é de que o local fica muito próximo de uma das áreas de captação de água da empresa de saneamento de Campo Grande, a Águas Guariroba. O despejo de entulho na área não deveria ser feito, mas a Captação Lageado teria estrutura adequada e proteção com delimitação feita por cercas e muros, para garantir a segurança. Além disso, a empresa afirma não ter recebido nenhum tipo de reclamação ou pedido para verificar alteração nos serviços.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana (Semadur) confirmou que o terreno é utilizado para descarte de materiais. O titular da pasta, Luís Eduardo Costa, explicou que a empresa tem autorização e todas as licenças para atuar. “Se não tivesse licença, não estaria funcionando. Está tudo certo e regular, com alvará. Não tem nada disso [problema com a captação da água]”, garantiu.
HISTÓRICO
A previsão era de que a obra – que deveria ter ficado pronta no fim de 2012 – fosse iniciada no primeiro semestre de 2014. Um dos benefícios do empreendimento era voltado ao trânsito e ao meio ambiente, já que, nas garagens das empresas, havia mais de 1,5 mil carros e motos dos funcionários, além de mais de 600 ônibus, os quais todos os dias deixariam de circular pela cidade.
“Muita gente acreditou no projeto, que era forte na questão ambiental. Tinha previsão de lavar 27 ônibus com a mesma água, além da energia solar. Nós estamos tentando falar com o prefeito [Marcos Trad] sobre isso, para retomar o plano, mas ainda não aconteceu”, explicou Possari.
O ex-vereador e presidente da Câmara Municipal na época da negociação, Edil Albuquerque, disse que a intenção era gerar empregos e também facilitar o trânsito na Capital. “A cidade perde muito. O objetivo do projeto era a dinâmica em relação aos ônibus. Teria um grande posto de gasolina ali também e a circulação, de modo geral, seria melhor. Especialmente para os veículos do transporte intermunicipal, pois o acesso à rodoviária seria facilitado”.
Além da doação da área, a prefeitura se comprometeu na época, ainda na gestão do ex-prefeito e atual senador Nelson Trad Filho, a abrir uma rota viária entre o “garajão” e o Terminal Rodoviário Antônio Mendes Canale.
'GARAJÃO'
Idealizada há nove anos, a megagaragem deveria reunir dez empresas de transporte rodoviário que atuam em Mato Grosso do Sul e pelo menos outras sete com operação no Estado, para desafogar o trânsito das ruas da Capital.